Ubu, de Paulo Abreu: sai um épico de tamanho XS

Pedro BarrigaSetembro 25, 2024

Ubu – ou Rei Ubu, dado que os materiais de promoção do filme ora usam um título ora o outro – trata-se da primeira longa de ficção de Paulo Abreu, diretor de fotografia consumado e realizador de curtas e documentários. A sua primeira exibição em Portugal teve lugar durante a 17ª edição do LEFFEST – Lisboa Film Festival, onde esteve Em Competição.

Abreu adapta a peça de teatro Ubu Roi, do francês Alfred Jarry, uma assumida variante de Macbeth, mas mais jocosa e grotesca. Esta é a história de como Mestre Ubu se torna Rei Ubu, que é como quem diz Tirano Ubu. Incentivado pela sua mulher (uma excelente Isabel Abreu), o fiel Ubu assassina o Rei Venceslau e exila a restante família real, tornando-se ele o novo Rei da Polónia. Como é sabido, quem tem sede de poder é geralmente quem não tem perfil para o gerir. No seu primeiro dia de reinado, Ubu entra a matar, literalmente. Convoca todos os nobres, reúne-os no pátio do seu castelo e executa-os, um a um, para confiscar as suas fortunas. A sua ascensão meteórica não perderá por uma queda aparatosa, que incluirá lutas com o Czar da Rússia, com um urso e com a própria mulher.

O ator Miguel Loureiro dá corpo a Ubu e é exemplar na forma como se entrega à comédia sem cair em exageros. A sua interpretação assenta numa caricatura tão divertida quanto histérica, sem hostilizar o espectador. A ação tem como cenários as cidades de Évora e Tomar, nomeadamente o belíssimo Convento de Cristo – haverá melhor décor medieval do que este?

A fotografia a preto e branco de Jorge Quintela é um primor, repleta de efeitos visuais engenhosos. Veja-se a sequência da batalha, em que todo o exército é subtilmente interpretado por um só ator. De notar que estes truques visuais foram feitos em câmara na sua maior parte, e não em pós-produção como é costume nas produções maiores. De facto, o orçamento de Ubu foi limitado. No final de uma projeção do filme no Cinema Nimas, um profissional da indústria queixava-se dos “tostões” que os institutos do cinema portugueses forneciam a projetos como este. Ubu é cinema feito com poucos meios, mas de muita qualidade.

No belicoso ano de 2024, Ubu e a sua história sobre um homem com sede de poder – e, pior ainda, de destruição – é infelizmente demasiado familiar. Não há falta de reis Ubus por aí e Paulo Abreu mostra-nos isso mesmo.

Pedro Barriga