O cinema de terror será talvez o género de mais difícil execução. O equilíbrio entre mistério, narrativa e desenvolvimento de personagem será sempre uma dificílima equação que infelizmente a maioria dos filmes não consegue resolver. Ainda assim isso não lhes tira a capacidade de entretenimento, a emoção, abraçando muitas vezes as suas fragilidades sem pudores ou pretensiosismo, em nome da criatividade ou da diversão. É por isso o género que terá maiores asas para se expandir, e com um público cada vez maior as produções de terror têm cada vez mais ferramentas para concretizar as suas ideias e deliciar os fãs. Nesta lista procurámos o melhor que foi visto este ano, a pensar em quem quer descobrir ou rever alguns dos grandes títulos terror de 2024. Não podendo incluir todos, alguns grandes sucessos, como Alien: Romulus, acabaram por ficar de fora…
1º The Substance de Coralie Fargeat
Inevitavelmente o melhor filme de terror do ano por ser, para muitos, um dos melhores filmes do ano de uma forma geral. Demi Moore regressa à ribalta num espelho da protagonista Elisabeth Sparkle que procura a eterna juventude. Um body horror vertiginoso que teve a sua estreia nacional no Motelx perante uma audiência há muito lotada.
2º Strange Darling de J. T. Mollner
Um thriller sedutor com uma imagética nostálgica, de uma certa estética rural americana, Strange Darling é uma das surpresas do ano, que irá certamente tornar-se num filme de culto com o passar dos anos. Um jogo de gato e rato entre serial killer e a sua vítima algures no Oregon rural.
3º The First Omen de Arkasha Stevenson
Quem diria que uma nova sequela de um franchise de relativo sucesso se iria revelar um verdadeiro filme de terror de autor, com planos cuidadosamente compostos, imagens fortes, e uma nova incursão na paranoia religiosa.
4º Late Night With the Devil de Cameron Cairnes, Colin Cairnes
Um dos filmes sensação ao longo do último ano, com passagem no Indie Lisboa, e sucessivos adiamentos na sua estreia comercial, Late Night With the Devil criou um sururu tão grande que foi sendo visto por toda a gente aqui ou ali. O resultado é um thriller criativo, que subverte a lógica dos talk shows americanos dos anos 70, sem filtros, e sem escrúpulos, e que trouxe o icónico personagem Jack Delroy, interpretado por David Dastmalchian.
5º Oddity de Damian Mc Carthy
Um dos filmes sensação do terror de 2024, o irlandês Oddity é um slow burn carregado de camadas. O realizador Damian Mc Carthy dá uma masterclass de suspense de localização, atribuindo à casa onde ocorreu um misterioso assassinato alma própria através de vários objectos que nela se incorporam.
6º Longlegs de Osgood Perkins
Provavelmente o objecto da melhor campanha de marketing cinematográfico de 2024, Longlegs prometeu um desconcertante Nicolas Cage na pele de um lunático serial killer e não desiludiu. Não consegue ser “o novo Silêncio dos Inocentes”, mas até certo momento o filme de Oz Perkins é brilhantemente atmosférico.
7º Immaculate de Michael Mohan
Outro exemplar do terror católico, Immaculate coloca Sydney Sweeney na pele de uma freira americana enviada para um convento numa zona rural de Itália. Obviamente, nada é o que parece e Immaculate abraça o entretenimento série B, bebendo de diversas referências como Rosemary’s Baby ou The Descent. Em crescendo, a cena final é transgressiva e surpreendente.
8º Chime de Kiyoshi Kurosawa
Média metragem de Kiyoshi Kurosawa, Chime cria uma atmosfera de desconforto numa escola de cozinha, pedindo emprestada uma estética laboratorial clínica e asséptica. Quando um misterioso ruído parece afectar quem o ouve as facas estarão talvez demasiado afiadas.
9º Arcadian de Benjamin Brewer
Mais um filme de género para a fase actual da carreira de Nicolas Cage. Este é um creature horror dramático onde um pai e os seus dois filhos sobrevivem num futuro pós apocalíptico, onde criaturas mortíferas saem à noite. Não existe nada de original em Arcadian, mas o equilíbrio dramático, a criatividade da câmara e principalmente o design das criaturas funcionam surpreendentemente bem.
10º MaXXXine de Ti West
Exibido no Motelx, o terceiro filme da trilogia de Ti West, protagonizado por Mia Goth, dividiu opiniões. MaXXXine será a carta de amor do realizador ao giallo italiano. Um filme cómico, exagerado, incoerente, sangrento e delicioso, como serão os filmes de Argento. É verdade que a meio momento MaXXXine perde algum gás, mas tudo se resolverá no seu ridículo final, em plenos letreiros de Hollywood, nas colinas, com crucifixos nos olhos, one liners e cabeças explosivas.
11º Handsome Guys de Nam Dong-hyub
Uma comédia de terror sul-coreana, aparentemente inspirada em Tucker & Dale vs Evil, mas não só, que consegue ser um belíssimo exemplo de slapstick comedy (vulgo Leslie Nielsen). Dois carpinteiros de coração puro, mas aspecto assustador são confundidos com vilões por um grupo de jovens, enquanto algo nas trevas se prepara para surgir.
12º Speak No Evil de James Watkins
Não há como esconder: Speak No Evil é o remake do filme dinamarquês com o mesmo nome, no qual um casal aceita o convite de outro casal recém-amigo para uns dias na sua casa. O remake, americanizado é verdade, é um show protagonizado por James McAvoy, provavelmente inspirado nos deliciosos excessos de Jack Nicholson no género. Altamente divertido e desconfortável, questionando os limites da boa educação e dos fretes que por vezes fazemos para agradar aos outros.
13º Cuckoo de Tilman Singer
Um misto de originalidade, boas ideias e execução confusa, a verdade é que essa confusão beneficia e faz do resultado final de Cuckoo algo de francamente positivo. Hunter Schafer, protagonista vibrante e repleta de carisma, consegue em si agarrar o espectador neste misto de estranheza e euro-horror algures nos Alpes alemãos.
14º When Evil Lurks de Demián Rugna
Algures numa pequena comunidade rural argentina, algo maléfico está prestes a ser libertado. O filme de Demián Rugna consegue criar uma eficaz atmosfera de horror folclórico, satisfazendo os fãs de gore e choque, apesar do desequilíbrio do seu terceiro acto.
15º Exhuma de Jang Jae-hyun
Tal como The Wailing, o filme percorre, com grande cadência e de forma escorreita, vários subgéneros do terror, acumulando tensão num crescendo em direção a vários clímaxes, cada um mais grandioso que o anterior. Exhuma tem momentos verdadeiramente arrepiantes e de grande solidez, construindo o seu universo fantástico de forma muito coerente.