Dois tribunos deixam-nos a sua crítica entusiasta a Spider-Man: Across the Spider-Verse, filme realizado por Joaquim dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson, que passou pelas salas de cinema portuguesas em junho deste ano.
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Como Into the Spider-Verse que o precede, Across the Spider-Verse cumpre os recorrentes pecados do cinema de “blockbuster” contemporâneo: um referencialismo recorrente, repleto de “easter eggs”, deixas musicais chorudas, ou um casting expansivamente excêntrico. E claro, estamos no titular multiverso de, parece-nos, todos os filmes recentes da Marvel.
No entanto, quando ao abrir o filme, a quimera de Da Vinci irrompe por um Guggenheim de Nova Iorque em pinceladas impressionistas, a tela já consideravelmente extensa do primeiro filme surge aqui ainda mais ampla.
Convidando-nos a abraçar uma narrativa pouco rigorosa (num filme cujo enredo é tanto complicado como problematicamente simples), Across the Spider-Verse deslumbra vertiginosamente pelos seus 140 minutos, sem momento algum para aborrecer. Uma tremenda explosão pop em implosão por entre diferentes universos de banda desenhada, num exuberante confronto cinematográfico. E contra cores, estilos e ritmos, ao centro, um gigantesco buraco negro, que promete tudo engolir. Filme de deleite juvenil, mas em bravado – espalhafatoso, acelerado, vigoroso, e terrivelmente divertido. Talvez o filme definitivo do cinema popular dos dias de hoje?
Miguel Allen
Across the Spider-Verse é a rara sequela que supera o original. Dotada de um estilo visual que não se assemelha a nada antes visto, nem mesmo ao antecessor Into the Spider-Verse, é como se presenciássemos o nascimento de um novo meio, algures entre a banda desenhada e o filme de animação. Trata-se essencialmente de um drama juvenil sobre o conceito de legitimidade. Afinal, quem é o homem-aranha? Quem quer ou quem pode? Um filme que pondera as ramificações das nossas ações e questiona as inevitabilidades do destino.
O desempenho dos atores de voz é notável, particularmente Oscar Isaac e Daniel Kaluuya. Estes e tantos outros guiam-nos por sequências memoráveis, como a noite no museu Guggenheim (com um vilão saído de um esboço de Da Vinci), as ruas vibrantes de Mumbattan, e uma perseguição alucinante no quartel-general.
Across the Spider-Verse figura também como uma das raras instâncias em que um filme sobre multiversos nos consegue convencer que o futuro do universo está, de facto, em jogo. Em oposição, veja-se o último Doctor Strange, onde aniquilar uma série de super-heróis em universos paralelos é na verdade inconsequente.
Louco e impressionante. Tudo indica que o cinema de animação nunca mais será o mesmo.
Pedro Barriga