Críticas a Love Lies Bleeding, de Rose Glass

EquipaMarço 19, 2024

Love Lies Bleeding é o novo filme de Rose Glass, realizadora inglesa que se deu a conhecer ao Mundo com o filme de terror Saint Maud. Três tribunos foram assistir à epopeia multi-género protagonizada por Kristen Stewart e Katy O’Brien, um hino ao cinema de culto norte-americano, com uma estética que invoca a década de 90. De forma inédita os nossos críticos foram unânimes, considerando este o melhor filme de 2024 até ao momento.

 

Cada vez mais parece existir a ideia de que os filmes devem falar sobre temas da ordem do dia, ser didáticos, ensinar o espectador, esfregar na cara as suas (aparentemente) fortes posições. Os filmes deixaram de poder ser apenas filmes, desapegados de quaisquer pretensões de moralidade social ou outra, sem se aperceberem que quando deixam essas pretensões de lado é quando os seus temas funcionam melhor. Veja-se a masculinidade tóxica e pressão familiar do recente The Iron Claw, por exemplo. Por essa razão é pena que Love Lies Bleeding esteja a ver todo o seu potencial reduzido ao facto de ser um filme queer (pouco) transgressivo. Esta espécie de western rural, New Mexico 1989, assenta na violenta paixão entre Kristen Stewart, rara musa que divide opiniões mas cuja presença é cada vez mais um staple associado a um certo culto cinéfilo, e Katy O’Brian, gigante, musculada, física. É nesse mundo de cores, sangue, suor e lágrimas que se move Love Lies Bleeding, com uma linguagem pulp digna dos anos 90 (tanto temos bocados de Tarantino como de Fear and Loathing in Las Vegas, de irmãos Coen como de Thelma & Louise). O filme é consumível com extrema facilidade, um verdadeiro “maiores de 16” que é um hino ao cinema de culto de entretenimento, nunca deixando de trazer as suas camadas temáticas (queer, violência doméstica, masculinidade) com uma lógica que encaixa perfeitamente na sua estética e no seu argumento com zero esforço. Uma lufada de ar fresco libertador que soube recuperar a sensação de ir ao cinema assistir a um filme sem ter que, forçosamente, pensar sobre ele durante o visionamento. Cinema pelo cinema. E é assim que deve ser.

David Bernardino

 

Love Lies Bleeding parece homenagear Thelma & Louise, concedendo a Kristen Stewart o papel de Louise, recepcionista e reclusa de um ginásio mal frequentado, algures no New Mexico. Lou poderia não ter alcançado a independência que conquistou, contudo, a aversão à vida contrabandista familiar, tornou-a numa jovem rebelde e resistente, transportando consigo uma fúria constante que a faz romper com tudo e com todos. É no seu quartel general de músculos, suor e máquinas, que Lou conhece Jackie, uma destemida e ambiciosa culturista que aparece nas redondezas e cuja meta é alcançar o Campeonato de Fisiculturismo em Las Vegas, Nevada. Love Lies Bleeding entra a matar, incendiando o espectador com a paixão tórrida e assoberbada entre Lou e Jackie, tornando-se num filme cru e visceral, com muita licra e cigarros, fumo e sangue, onde o amor de ambas é desencadeador de violência, puxando-as profundamente e cada vez mais para a teia criminosa da família de Lou que parece monopolizar todos os negócios existentes naquele lugar sombrio. Neste filme há de tudo: violência sexual, violência doméstica, relações tóxicas e agressões sociais e físicas. Os Estados Unidos não tão invisíveis também estão aqui. No tudo e no nada. Neste filme, armas, drogas, esteroides, e contrabando são temas recorrentes que muitas vezes confinam no desenvolvimento das personagens e nas suas complexidades, acabando por serem tratados de uma forma menos banal e deveras cativante.

Rita Cadima de Oliveira

 

Sexo, drogas e bodybuilding. Love Lies Bleeding deve o seu título à planta homónima. Em português, jimboa; em latim, Amaranthus, que significa “flor que não murcha”. O filme inicia-se qual western, com uma forasteira a chegar à cidade. Ela é Jackie, interpretada por Katy O’Brian, gigante – literalmente. Trata-se apenas de mais uma paragem na sua viagem para Las Vegas, onde a espera uma competição de culturismo. Inadvertidamente, Jackie cruza caminhos com vários membros da mesma família: Lou (Kristen Stewart), gerente de um ginásio; Lou Sr. (Ed Harris), dono de um campo de tiro; e J.J. (Dave Franco), genro, empregado e capanga de Lou Sr. Nesta pequena cidade, vai nascer uma violenta história de amor entre duas mulheres, muito diferentes mas igualmente conturbadas – não é fácil ser se queer no interior dos E.U.A. em 1989. O’Brian e Stewart têm química palpável e a sua relação incluirá muito sangue, suor e lágrimas. Um filme divertido e hilariante sobre vingança e sobre a força sobre-humana que adquirimos quando lutamos por quem amamos.

Pedro Barriga