O franchise A Quite Place regressa aos cinemas em formato blockbuster de Verão para uma prequela que conta como começou a invasão alienígena que transformou o Mundo num lugar silencioso em 2018. Lupita Nyong’o lidera este A Quiet Place: Day One, de Michael Sarnoski, realizador de Pig, usando como pano de fundo a cidade de Nova Iorque. Pedro Barriga e David Bernardino analisam o filme.
A prequela do inesperado franchise lançado por John Krasinksi em 2018 é um eficaz filme de entretenimento que consegue coçar uma certa comichão que pede adrenalina numa grande sala de cinema. Essa segurança, no entanto, faz com que Day One nunca saia da sua zona de conforto. O filme segue o caderno de encargos esperado para um blockbuster apocalíptico de Verão, muito mais fácil de digerir por um grande auditório do que os seus antecessores, que se focavam numa linguagem muito mais próxima do thriller de terror que do thriller de aventura disfarçado de horror que acaba por ser este filme de Michael Sarnoski (autor do belíssimo Pig de 2021). As referências estão por todo o lado, de Alien a 28 Days Later, passando até por I Am Legend, mas nem por isso o filme alguma vez se torna um bocejo ou aquele terrível virar de olhos de quem já viu este filme “um milhão de vezes”. Sarnoski tenta ainda assim esculpir alguma identidade em Day One, começando pelo ponto de vista do gato da protagonista que muitas vezes dirige o local da acção. Por outro lado, temos a psicologia de sobrevivência não prioritária na pele da protagonista diagnosticada com um cancro terminal (uma Lupita Nyong’o competente mas que como sempre altamente sobrevalorizada) que apenas quer comer uma fatia de pizza, bem como a ansiedade do seu coadjuvante interpretado por Joseph Quinn que acaba por ser pouco mais que uma ferramenta narrativa e cujo carisma deixa muito a desejar. Existem depois algumas escolhas difíceis de compreender como a contratação de Alex Wolff e Djimon Hounsou, provavelmente os melhores actores presentes no filme, descartados e reconvertidos em elementos decorativos de um argumento no mínimo estranho.
David Bernardino
Day One consiste em mais um fascículo do franchise A Quiet Place, esse conjunto de filmes que imaginam uma invasão alienígena e o apocalipse que se seguiu, o mais silencioso que a sétima arte já viu. Neste terceiro capítulo, a ação concentra-se na cidade de Nova Iorque, aqui muito bem recriada, tanto ao nível dos cenários como dos efeitos visuais. A história que conta não é, felizmente, a do governo norte-americano a salvar o dia. O ponto de vista é antes humano – neste caso, o de dois humanos: Sam e Eric, interpretados por Lupita Nyong’o e Joseph Quinn respetivamente. Não esqueçamos Frodo, o gato de Sam, que nos relembra Ellen Ripley e o seu gato ruivo em Alien, também este um filme de ficção científica sobre o confronto entre humanos e extraterrestres. Michael Sarnoski, que há três anos realizara Pig, cria uma história de sobrevivência focada na emoção, não no espectáculo. É uma agradável vertente que o cineasta acrescenta ao franchise, o que não surpreende quem quer que tenha assistido a Pig, esse filme de vingança que opta pela quietude em vez da chacina.
Pedro Barriga