Óscares 2025: As Escolhas da Tribuna do Cinema

EquipaFevereiro 28, 2025

Numa indústria cada vez mais entregue à lógica de minimização do risco e à homogeneização estética do seu produto, é inegável que a noite dos Óscares – coroação deste estado de produção artística – tem vindo a perder, de ano para ano, alguma da sua credibilidade e, acima de tudo, da sua mística. A verdade é que seja pela qualidade do óleo (uma tradição competitiva já com 97 anos), das peças (espectáculo multifacetado) ou da potência motriz (marketing), esta máquina continua a operar um charme contagiante junto do público. Quem despreza, não resiste a comentar. Quem sempre viu, já está habituado… E assim, esta imagem em tempo real do cinema dos grandes estúdios americanos – das suas tendências e focos de interesse – continua a ser uma etapa obrigatória do ano cinéfilo de muitos.

À semelhança do que fizemos no passado, e no seguimento da contagem decrescente dos últimos meses por Pedro Barriga, sete críticos da Tribuna partilham as suas previsões e escolhas para as principais categorias, assim como algumas observações globais sobre os nomeados deste ano.

Podem ainda consultar as nossas críticas aos filmes nomeados para Melhor Filme aqui:

Ainda Estou Aqui
Anora
The Brutalist
A Complete Unknown
Conclave
Dune: Part Two
Emilia Pérez
Nickel Boys
The Substance
Wicked

 

David Bernardino

Esta cerimónia dos Óscares está marcada por uma invulgar incerteza quanto ao vencedor em várias das principais categorias. A maior rivalidade estará provavelmente entre Anora e The Brutalist nas categorias de melhor filme, realização e argumento original, sem nunca esquecer Conclave, que espreita pela fechadura uma oportunidade para agarrar algumas estatuetas. Outra incógnita é a estatueta para melhor actor, que até pode cair nas mãos de Ralph Fiennes por questões de carreira. O grande momento da noite para mim será provavelmente o óscar para Demi Moore, já que The Substance provavelmente não vencerá mais nada, mas não descarto Fernanda Torres, que num golpe de cinema poderá levar o prémio. Já os actores secundários parecem estar mais ou menos seguros, mas em boa verdade nenhuma das actrizes secundárias nomeadas está sequer perto de merecer levar um prémio para casa. Ironia do destino parece que o filme mais nomeado, Emilia Pérez, um dos piores filmes do ano que está a proporcionar algo de verdadeiramente bizarro com todas estas nomeações, irá sair de mãos (quase) a abanar. O melhor a retirar deste leque é certamente a audácia de se ter nomeado The Substance, apenas o 7º filme de terror nomeado em 97 edições dos prémios da Academia, pelo que seria importante para o cinema de género a estatueta ir parar às mãos de Moore. O cinema é muito mais que drama e biopics. De qualquer forma o melhor da noite será provavelmente mesmo Conan O’Brien no papel de apresentador. Talvez finalmente os Óscares voltem a ser interessantes à medida que nos aproximamos da centésima cerimónia.

Melhor Filme
Quem vai ganhar – Anora ou Brutalist
Quem devia ganhar – The Substance
Quem pode surpreender – Conclave

Melhor Filme Internacional
Quem vai ganhar – Ainda Estou Aqui
Quem devia ganhar – The Seed of the Sacred Fig
Quem pode surpreender – Emilia Pérez

Melhor Filme de Animação
Quem vai ganhar – The Wild Robot
Quem devia ganhar – Flow
Quem pode surpreender – Flow 

Melhor Realização
Quem vai ganhar – Sean Baker (Anora)
Quem devia ganhar – Coralie Fargeat (The Substance)
Quem pode surpreender – Brady Corbet (The Brutalist)

Melhor Actor
Quem vai ganhar – Adrien Brody (The Brutalist)
Quem devia ganhar – Ralph Fiennes (Conclave)
Quem pode surpreender – Timothée Chalamet (A Complete Unknown)

Melhor Actriz
Quem vai ganhar – Demi Moore (The Substance)
Quem devia ganhar – Demi Moore (The Substance)
Quem pode surpreender – Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui)

Melhor Actor Secundário
Quem vai ganhar – Kieran Culkin (A Real Pain)
Quem devia ganhar – Jeremy Strong (The Apprentice)
Quem pode surpreender – ninguém

Melhor Actriz Secundária
Quem vai ganhar – Zoe Saldana (Emilia Pérez)
Quem devia ganhar – ninguém
Quem pode surpreender – Ariana Grande (Wicked)

Melhor Argumento Original
Quem vai ganhar – Anora
Quem devia ganhar – The Substance
Quem pode surpreender – The Brutalist

Melhor Argumento Adaptado
Quem vai ganhar – Conclave
Quem devia ganhar – A Complete Unknown
Quem pode surpreender – Sing Sing

 

Pedro Barriga

A minha previsão é que Anora será o grande vencedor da 97ª edição dos Óscares, levando para casa 4 estatuetas: Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Argumento Original e Melhor Atriz. São previsões trémulas… Brady Corbet é uma ameaça a Sean Baker na categoria de realização, bem como Jesse Eisenberg pelo argumento de A Real Pain. E ainda assim, não haverá maior perigo do que Demi Moore. A atriz de The Substance venceu tudo o que podia vencer – Golden Globes, Critics Choice, SAG –, exceto o BAFTA… o que me levantou sérias dúvidas sobre a sua capacidade de ganhar o Óscar. Se a Academia Britânica, que preferiu premiar filmes como Conclave, The Brutalist e A Real Pain em detrimento de Anora, ainda assim elegeu Mikey Madison como a melhor atriz do ano, porque haveria a Academia de Hollywood escolher Moore? Se Anora vai de facto vencer o Óscar de Melhor Filme, então o mais natural é que a sua protagonista vença também Melhor Atriz – especialmente tratando-se de um filme que depende tanto da interpretação da titular Anora. Estamos perante um ano de muita incerteza – que bom que assim é!

 

Melhor Filme
Quem vai ganhar – Anora
Quem devia ganhar – Anora
Quem pode surpreender – Conclave

Melhor Filme Internacional
Quem vai ganhar – Ainda Estou Aqui
Quem devia ganhar – The Seed of the Sacred Fig
Quem pode surpreender – Emilia Pérez

Melhor Filme de Animação
Quem vai ganhar – The Wild Robot
Quem devia ganhar – The Wild Robot
Quem pode surpreender – Flow

Melhor Realização
Quem vai ganhar – Sean Baker (Anora)
Quem devia ganhar – Sean Baker (Anora)
Quem pode surpreender – Brady Corbet (The Brutalist)

Melhor Actor
Quem vai ganhar – Adrien Brody (The Brutalist)
Quem devia ganhar – Ralph Fiennes (Conclave)
Quem pode surpreender – Timothée Chalamet (A Complete Unknown)

Melhor Actriz
Quem vai ganhar – Mikey Madison (Anora)
Quem devia ganhar – Mikey Madison (Anora)
Quem pode surpreender – Demi Moore (The Substance)

Melhor Actor Secundário
Quem vai ganhar – Kieran Culkin (A Real Pain)
Quem devia ganhar – Jeremy Strong (The Apprentice)
Quem pode surpreender – Guy Pearce (The Brutalist)

Melhor Actriz Secundária
Quem vai ganhar – Zoë Saldaña (Emilia Pérez)
Quem devia ganhar – Felicity Jones (The Brutalist)
Quem pode surpreender – Ariana Grande (Wicked)

Melhor Argumento Original
Quem vai ganhar – Anora
Quem devia ganhar – The Brutalist
Quem pode surpreender – A Real Pain

Melhor Argumento Adaptado
Quem vai ganhar – Conclave
Quem devia ganhar – Conclave
Quem pode surpreender – Nickel Boys

 

Rita Cadima de Oliveira

Faltando-me Wicked para completar a lista de todos os filmes nomeados, servi-me de vários elementos para fazer as minhas escolhas, tais como: a reacção do público em Festivais e Salas de Cinema mas também a crítica mais erudita e popular aos mesmos. Sobretudo devemos analisar as dinâmicas emocionais e psicológicas que moldam tanto as performances cinematográficas quanto as expectativas do público e dos críticos. No entanto, é imprescindível ter em conta a parte técnica à qual a Academia confere sempre elevada importância. E por isto, indico Anora como favorito para Melhor Filme, não sendo apenas uma previsão baseada na popularidade, mas na ideia de que o filme lida com questões universais e profundas sobre a identidade e a introspecção. No entanto, a minha preferência e escolha recai sobre The Substance como filme aguerrido, arisco e de um género raro em nomeação. The Substance reflecte a busca por algo mais visceral e desafiador, algo que exige um confronto directo com a complexidade da psique humana e os dilemas existenciais. A surpresa da possível vitória de The Brutalist entra na psicologia da percepção do espectador: um filme que talvez não tenha ainda sido completamente compreendido, mas que carrega consigo uma promessa de desconstrução das normas sociais e de estilo, possivelmente desafiando as convenções do que é considerado “bom cinema”, de uma maneira ousada e criativa. Esta categoria acaba por nos recordar que os filmes premiados não dependem apenas da qualidade objectiva de um filme, mas de como ele é emocionalmente processado pela crítica e pelos espectadores. No caso de Melhor Filme Internacional, a escolha de Emilia Perez como favorito reflecte uma narrativa que provavelmente se conecta com temas actuais de identidade e pertença, assuntos profundamente psicológicos mas bastante mal e inoportunamente explorados por Jacques Audiard. No entanto, Ainda Estou Aqui passeia-se convicto e determinado no pódio, podendo surpreender dado que explora o conceito de resiliência humana diante da adversidade emocional, com uma forte carga introspectiva e de autorreflexão. Quando pensamos nas performances de Melhor Atuação e Melhores Actuações Secundárias, vemos que os favoritos não são apenas indicados pela competência técnica, mas também pelo facto de que estas performances provavelmente tocam nas complexidades da condição humana — sentimentos de solidão, medo, e transformação pessoal. A verdadeira essência da actuação está muitas vezes na forma como os actores conseguem expressar a dissonância interna de seus personagens, e aqui vemos uma imersão profunda e psicológica em cada papel. Finalmente, no campo do Melhor Argumento, com o favoritismo de Conclave e a surpresa de Emilia Pérez, remete-nos para a ideia de que os argumentos  que mais tocam o público, relacionam-se com a abordagem que explora a intrincada relação entre o  poder, a moralidade e a tomada de decisões — o que, humanamente, é um campo fértil de análise. O enredo não é apenas uma estrutura, mas um mapa da identidade dos personagens, das escolhas que fazem e dos dilemas internos que enfrentam. Em suma, este prognóstico reflecte mais do que uma simples análise técnica ou de popularidade. Na verdade, o que tento sugerir é que o verdadeiro poder do cinema reside na sua capacidade de mergulhar nas profundezas da nossa alma e da nossa reflexão, explorando fragilidades, desejos e conflitos internos, levando-nos a uma jornada psicológica que vai muito além da narrativa.

 

Melhor Filme
Quem vai ganhar – Anora
Quem devia ganhar – The Substance
Quem pode surpreender – The Brutalist

Melhor Filme Internacional
Quem vai ganhar – Emilia Pérez
Quem devia ganhar – Ainda Estou Aqui
Quem pode surpreender – Ainda Estou Aqui

Melhor Filme de Animação
Quem vai ganhar – Inside Out 2
Quem devia ganhar – Wallace & Gromit : Vengeance Most Fowl
Quem pode surpreender – Flow

Melhor Realização
Quem vai ganhar – Sean Baker
Quem devia ganhar – Brady Corbet
Quem pode surpreender –  Jacques Audiard

Melhor Actriz
Quem vai ganhar – Mikey Madison
Quem devia ganhar – Demi Moore
Quem pode surpreender – Fernanda Torres

Melhor Actor
Quem vai ganhar – Adrien Brody
Quem devia ganhar – Sebastian Stan
Quem pode surpreender – Timothee Chalamet

Melhor Actriz Secundária
Quem vai ganhar – Zoë Saldaña
Quem devia ganhar – Isabella Rossellini
Quem pode surpreender – Ariana Grande

Melhor Actor Secundário
Quem vai ganhar – Kieran Culkin
Quem devia ganhar – Jeremy Strong
Quem pode surpreender – Edward Norton

Melhor Argumento Adaptado
Quem vai ganhar – Conclave, Peter Straughan
Quem devia ganhar – Conclave, Peter Straughan
Quem pode surpreender – Emilia Pérez, Jacques Audiard

Melhor Argumento Original
Quem vai ganhar – The Brutalist, Brady Corbet e Mona Fastvold
Quem devia ganhar – The Substance, Coralie Fargeat
Quem pode surpreender – Anora, Sean Baker

 

Carla Rodrigues

Como grande fã de cinema de terror, muitas vezes marginalizado, não posso deixar de me sentir satisfeita com a Academia este ano. As nomeações conseguidas por A Substância — o meu filme favorito de 2024 — são uma lufada de ar fresco. Afinal, apesar da ousadia, inovação e qualidade que o terror tem demonstrado nos últimos anos, a categoria de Melhor Filme raramente o contempla. Só por contrariar isso, os Óscares deste ano já merecem uma palmadinha nas costas. Mas há sempre o reverso da medalha. E, neste caso, ele materializa-se em Emilia Pérez, um filme francamente medíocre que, de forma quase inexplicável, amealhou 13 nomeações. Chocam-me particularmente as nomeações para Melhor Canção Original – e logo duas! É que, para um musical, as canções de Emilia Pérez são, no mínimo, embaraçosas.

O resto das nomeações também guardam escolhas surpreeendemente agradáveis. A presença de Anora nas categorias principais é uma delícia: um filme profundamente humano, com um sentido de humor irresistível e que sabe quando nos deve dar um murro no estômago. Na animação, The Wild Robot e Flow são dos nomeados mais criativos e memoráveis dos últimos anos. A intriga clerical de Conclave prova que até os cenários mais austeros podem dar origem a histórias repletas de tensão. E Ainda Estou Aqui, um belíssimo filme cuja caminhada até aos Óscares foi emocionante de acompanhar, terá o meu total apoio. Depois, há as escolhas menos inspiradas. O biopic obrigatório está lá, pois claro. E há também dois filmes de apelo massivo – Duna: Parte 2 e Wicked – que, possivelmente, servem para atrair uma audiência mais vasta. Mesmo tendo adorado Duna: Parte 2 e apreciando o reconhecimento da ficção científica, não consigo evitar pensar que preferia ver Challengers no seu lugar.

Os Óscares são o que são. Sabemos que nem sempre os filmes mais merecedores levam a estatueta para casa – e, muitas vezes, nem sequer são os mais memoráveis a ganhar. A história está cheia de filmes, realizadores e actores que nunca conquistaram um Óscar e, no entanto, fazem parte do panteão dos grandes. Mas, apesar de tudo, para quem gosta e cinema, há algo de irresistível nesta noite: a especulação sobre os vencedores, a pompa da cerimónia, a reunião dos nossos favoritos no mesmo espaço. Ainda por cima, este ano temos Conan O’Brien como anfitrião. Venha daí a cerimónia. E como já vi num meme por aí, “Não me interessa quem ganha – só me interessa que Emília Pérez perca.”

 

Melhor Filme
Quem vai ganhar – Anora
Quem devia ganhar – The Substance
Quem pode surpreender – Conclave

Melhor Filme Internacional
Quem vai ganhar – Emilia Pérez
Quem devia ganhar – Ainda Estou Aqui
Quem pode surpreender – Ainda Estou Aqui

Melhor Filme de Animação
Quem vai ganhar – Inside Out 2
Quem devia ganhar – The Wild Robot
Quem pode surpreender – Flow 

Melhor Realização
Quem vai ganhar – Sean Baker (Anora)
Quem devia ganhar – Coralie Fargeat (The Substance)
Quem pode surpreender – Brady Corbet (The Brutalist)

Melhor Actor
Quem vai ganhar – Adrien Brody (The Brutalist)
Quem devia ganhar – Ralph Fiennes (Conclave)
Quem pode surpreender – Timothée Chalamet (A Complete Unknown)

Melhor Actriz
Quem vai ganhar – Mikey Madison (Anora)
Quem devia ganhar – Demi Moore (The Substance)
Quem pode surpreender – Demi Moore (The Substance)

Melhor Actor Secundário
Quem vai ganhar – Kieran Culkin (A Real Pain)
Quem devia ganhar – Yura Borisov (Anora)
Quem pode surpreender – Yura Borisov (Anora)

Melhor Actriz Secundária
Quem vai ganhar – Zoe Saldaña (Emília Pérez)
Quem devia ganhar – Isabella Rossellini (Conclave)
Quem pode surpreender – Isabella Rossellini (Conclave)

Melhor Argumento Original
Quem vai ganhar – Anora
Quem devia ganhar – The Substance
Quem pode surpreender – A Real Pain

Melhor Argumento Adaptado
Quem vai ganhar – Emília Pérez
Quem devia ganhar – Conclave
Quem pode surpreender – Conclave

 

Francisco Sousa

Adorados por muitos, desprezados por outros, os Óscares da Academia continuam a ser o ponto alto do ano cinematográfico. Para muitos dos filmes nomeados, é a recompensa pelo sucesso junto da crítica e do público (Duna: Parte 2, por exemplo), enquanto para outros é uma oportunidade de serem destacados e alcançarem uma maior audiência. Um dos maiores exemplos disso é Anora, que chega aos Óscares como o grande favorito ao maior prémio da noite, mas que, em caso de vitória, será o filme com a menor bilheteira internacional de sempre (ajustado à inflação e excluindo CODA, que não estreou nas salas de cinema). Além disso, caso vença, será apenas a quarta vez que o vencedor da Palma de Ouro em Cannes conquista também o Óscar de Melhor Filme (Parasite, Marty, The Lost Weekend), refletindo a tendência dos últimos anos de uma Academia mais internacional e diversificada.

As nomeações para a 97ª edição dos Óscares estão, como sempre, marcadas por altos e baixos. Pela positiva, destaco a inclusão de filmes de género como A Substância e a presença de Anora e Brutalista nas principais categorias. Quem diria que, num mundo com uma capacidade de atenção cada vez menor, um filme com 201 minutos conseguiria arrecadar 10 nomeações? No entanto, a ausência de Marianne Jean-Baptiste entre os nomeados (naquela que foi, para mim, a melhor atuação do ano), o eclipse de Challengers, especialmente na categoria de Melhor Banda Sonora, e as treze (sim, T-R-E-Z-E) nomeações de Emilia Pérez tornam impossível não questionar a credibilidade da Academia.

Como notas finais, a época de precursores aos Óscares (guildas, BAFTAS, etc) e de campanha por parte dos actores, realizadores, entre outros, está cada vez maior o que é não só cansativo e impede o destaque dos filmes que começam a estrear no início do ano, como também torna os resultados desta noite cada vez mais previsíveis. Finalmente, com a Academia a tentar modernizar a cerimónia e a tentar recuperar alguma audiência, é hora de criar, finalmente, novas categorias que reconheçam as melhores acrobacias e melhor voz off, entre outros.

 

Melhor Filme
Quem vai ganhar –  Anora
Quem devia ganhar – Nickel Boys
Quem pode surpreender – The Brutalist

Melhor Filme Internacional
Quem vai ganhar – Ainda Estou Aqui
Quem devia ganhar – Ainda Estou Aqui
Quem pode surpreender – Emília Pérez

Melhor Filme de Animação
Quem vai ganhar – The Wild Robot
Quem devia ganhar – Flow
Quem pode surpreender – Flow 

Melhor Realizador
Quem vai ganhar – Sean Baker (Anora)
Quem devia ganhar – Brady Corbet (The Brutalist)
Quem pode surpreender – Brady Corbet (The Brutalist)

Melhor Actor
Quem vai ganhar –  Adrien Brody (The Brutalist)
Quem devia ganhar – Adrien Brody (The Brutalist)
Quem pode surpreender – Timothée Chalamet (A Complete Unknown)

Melhor Actriz
Quem vai ganhar –  Mikey Madison (Anora)
Quem devia ganhar – Marianne Jean-Baptiste (Hard Truths)
Quem pode surpreender – Demi Moore (The Substance)

Melhor Actor Secundário
Quem vai ganhar –  Kieran Culkin (A Real Pain)
Quem devia ganhar – Yura Borisov (Anora)
Quem pode surpreender – Guy Pearce (The Brutalist)

Melhor Actriz Secundária
Quem vai ganhar –  Zoe Saldana (Emilia Perez)
Quem devia ganhar – Isabella Rossellini (Conclave)
Quem pode surpreender – Ariana Grande (Wicked)

Melhor Argumento Original
Quem vai ganhar –  Anora
Quem devia ganhar – The Brutalist
Quem pode surpreender – A Real Pain

Melhor Argumento Adaptado
Quem vai ganhar – Conclave
Quem devia ganhar – Nickel Boys
Quem pode surpreender –
A Complete Unknown

 

Hugo Dinis

A primeira cerimónia dos óscares de que me lembro foi a de 1999. Na altura, o evento ficou marcado pela icónica celebração de Roberto Benigni depois do seu filme La Vita è Bella ter vencido o óscar de melhor filme estrangeiro. A surpresa esteve sobretudo na ideia de ver este italiano desbocado a subir para cima de cadeiras e a confessar que queria era levar Sophia Loren para casa em vez da estatueta numa cerimónia à data pontuada acima de tudo por uma solenidade e uma sisudez impenetráveis. Pelo menos aos olhos deste adolescente imberbe e pelo menos naqueles breves momentos, Benigni era uma espécie de figura punk que viria inclusivamente a vencer a categoria de melhor actor, carregada esta que estava de nomes como Tom Hanks (Saving Private Ryan), Edward Norton (American History X), ou Ian McKellen (Gods and Monsters).

Os óscares ainda hoje, mesmo com a atomização cultural cortesia da proliferação das redes sociais, têm o poder de criar mitos e movie stars na sua condição de último espectáculo americano global. A sua magia cresceu à sombra da ascensão da crença global na capacidade transformativa do cinema, sempre fomentada por Hollywood em si, mas não sem a sua verdade imutável. Nestes tempos de ruptura social e cultural, o papel do espectáculo, e deste espectáculo em particular, é o espelho do próprio papel do cinema em si.

Os óscares deste ano são o espelho de uma indústria em plena encruzilhada. Numa altura em que tudo o que não esteja já envolto em propriedade intelectual existente sente dificuldade extrema em arranjar financiamento, este foi o ano em que Hollywood mais sentiu o impacto devastador de um cinema devorado pela ditadura do bottom line. Um cinema em que até osfilmes independentes se socorrem de inteligência artificial para manter os orçamentos curtos e garantir performances oscarizáveis. Um cinema em que a marca do made-for-TV mais se impõe em cinematografias imemoráveis e guiões pouco cozinhados.

Na cerimónia de entrega dos SAG Awards no passado fim de semana, Timothée Chalamet pediu desculpa por “falar desta forma”, usando uma espécie de linguagem codificada mais própria no desporto, mas fez questão de sublinhar que está em busca dos maiores, inspirado pelos maiores. Não sei se Chalamet é a pessoa correcta para o dizer, mas ainda bem que alguém o faz. Numa altura em que a indústria olha para a conta no final, são os óscares que cunham as estrelas. E que se faça apontar às estrelas, por favor.

 

Melhor Filme
Quem vai ganhar – Anora
Quem devia ganhar – ninguém
Quem pode surpreender – Conclave

Melhor Filme Internacional
Quem vai ganhar – Emilia Pérez
Quem devia ganhar – Flow
Quem pode surpreender – Ainda Estou Aqui

Melhor Filme de Animação
Quem vai ganhar – Flow
Quem devia ganhar – Flow
Quem pode surpreender – The Wild Robot 

Melhor Realização
Quem vai ganhar – Sean Baker (Anora)
Quem devia ganharninguém
Quem pode surpreender – Brady Corbet (The Brutalist)

Melhor Actor
Quem vai ganhar – Adrien Brody (The Brutalist)
Quem devia ganhar – Sebastian Stan (The Apprentice)
Quem pode surpreender – Timothée Chalamet (A Complete Unknown)

Melhor Actriz
Quem vai ganhar – Demi Moore (The Substance)
Quem devia ganhar – Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui)
Quem pode surpreender – Mikey Madison (Anora)

Melhor Actor Secundário
Quem vai ganhar – Kieran Culkin (A Real Pain)
Quem devia ganhar – Jeremy Strong (The Apprentice)
Quem pode surpreender – Yura Borisov (Anora)

Melhor Actriz Secundária
Quem vai ganhar – Zoe Saldaña (Emilia Pérez)
Quem devia ganhar – Monica Barbaro (A Complete Unknown)
Quem pode surpreender – Isabella Rossellini (Conclave)

Melhor Argumento Original
Quem vai ganhar – Anora
Quem devia ganhar – ninguém
Quem pode surpreender – The Brutalist

Melhor Argumento Adaptado
Quem vai ganhar – Conclave
Quem devia ganhar – Nickel Boys
Quem pode surpreender – Emilia Pérez

 

André Filipe Antunes

Numa das corridas aos Óscares mais imprevisíveis de que há memória, não deixa de ser curioso que este ano estamos perante um dos lotes de nomeados mais desinspirados do passado recente da Academia de Hollywood. Exceção feita a uma mão cheia de filmes (A Substância, Anora… a lista é curta), nas principais categorias a qualidade oscila entre o mediano e o medíocre, com espaço para uma ou duas obras verdadeiramente pavorosas (já muito se escreveu sobre Emilia Pérez, menos sobre a insonsa mistela “Dan Brown by way of Netflix” que dá pelo nome de Conclave). Enfim, os Óscares nunca foram o melhor barómetro de qualidade. Continuam, isso sim, a ser um artefacto sociológico fascinante, a auto-imagem de uma indústria sobre si mesma e uma “cápsula temporal” do cinema norte-americano — onde está e para onde quer ir. Valha-nos ao menos isso se não há filmes de jeito. Isso e a certeza de uma boa noite (madrugada em Portugal) de entretenimento, com Conan O’Brien ao comando e a expectativa de que a cerimónia nos trará surpresas.

De resto, num ano em que a colheita é fraca, aproveito este espaço para destacar alguns filmes e atores que ficaram à porta das nomeações quando não deviam. Começo por Melhor Filme, onde o propulsivo Challengers, de Luca Guadagnino tinha lugar, como corolário de um ano em cheio do realizador mas sobretudo enquanto evolução do thriller erótico e de um cinema de estúdio que já raramente se vê (nem sequer entrou em Banda Sonora!). Já em Melhor Realizador, o notável trabalho de RaMell Ross ao leme de Nickel Boys, filme estética e formalmente singular, merecia facilmente reconhecimento no lugar de Jacques Audiard ou James Mangold. Quanto a atores, é uma pena a Academia não ter reconhecido o camp Shakespeariano de Denzel Washington em Gladiador II (um filme falhado à exceção do seu secundário), ou Josh O’Connor que no último ano nos brindou com dois bons papeis, em Challengers e A Quimera. Pior ainda é ver Isabela Rossellini reconhecida por um papel pouco mais substancial do que um cameo em Conclave, quando de fora da mesma categoria ficou uma das melhores atuações do ano, Katy O’Brien em Amor em Sangue. Nunca tiveram hipótese.

 

Melhor Filme
Quem vai ganhar – Anora
Quem devia ganhar – The Substance
Quem pode surpreender – Conclave

Melhor Filme Internacional
Quem vai ganhar – Ainda Estou Aqui
Quem devia ganhar – Flow
Quem pode surpreender – Emilia Pérez

Melhor Filme de Animação
Quem vai ganhar – The Wild Robot
Quem devia ganhar – Flow
Quem pode surpreender – Flow

Melhor Realização
Quem vai ganhar – Sean Baker (Anora)
Quem devia ganhar – Coralie Fargeat (The Substance)
Quem pode surpreender – Brady Corbet (The Brutalist)

Melhor Actor
Quem vai ganhar – Timothée Chalamet (A Complete Unknown)
Quem devia ganhar – Sebastian Stan (The Apprentice)
Quem pode surpreender – Adrien Brody (The Brutalist)

Melhor Actriz
Quem vai ganhar – Demi Moore (The Substance)
Quem devia ganhar – Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui)
Quem pode surpreender – Mikey Madison (Anora)

Melhor Actor Secundário
Quem vai ganhar – Kieran Culkin (A Real Pain)
Quem devia ganhar – Jeremy Strong (The Apprentice)
Quem pode surpreender – Ninguém. Mas, para não deixar em branco, Guy Pearce (The Brutalist)

Melhor Actriz Secundária
Quem vai ganhar – Zoë Saldaña (Emilia Pérez)
Quem devia ganhar – Zoë Saldaña (Emilia Pérez)
Quem pode surpreender – Ariana Grande (Wicked)

Melhor Argumento Original
Quem vai ganhar – Anora
Quem devia ganhar – Anora
Quem pode surpreender – A Real Pain

Melhor Argumento Adaptado
Quem vai ganhar – Conclave
Quem devia ganhar – Nickel Boys
Quem pode surpreender – Nickel Boys