2023 não foi certamente um ano recheado de obras primas, mas algum ano alguma vez o foi? Nos anos 70 para trás talvez. Ainda assim foi um ano bastante interessante e eclético. Um ano marcado por vários filmes sobre a adolescência, comédias provocantes e terror igualmente provocante. Decidi incluir estreias em Portugal em 2023, seja em festival ou em circuito comercial, deixando de fora filmes já celebrados nas épocas de prémios relativas a 2022, como Aftersun ou TAR. Curioso que os dois melhores filmes do ano sejam, para mim, assinados por Wim Wenders. O veterano realizador, que provavelmente não fazia uma obra prima desde Paris, Texas (1984), produz Perfect Days integralmente em Tokyo filmando com uma sobriedade de embalar o dia a dia da cidade aos olhos de um funcionário de limpeza de casas de banho publicas. Já Anselm apresenta um singular uso do 3D, provavelmente nunca antes visto, sobre as obras e a mente do artista plástico Anselm Kiefer (afinal o 3D sempre serve para alguma coisa). O pódio completa-se com John Wick 4, porque o cinema de acção não é menor, e porque Chad Stahelski continua a demonstrar que é possível, ao quarto filme, manter ou mesmo superar capítulos anteriores (existirá na história do cinema algum caso semelhante?). No campo do terror, que me é tão querido, decidi destacar Talk to Me, Evil Dead Rise, Thanksgiving e Raging Grace. Na animação Elemental, o mais recente filme da Pixar que foi recebido com alguma timidez, mas que demonstra que em 2023 ainda há espaço para histórias de amor tradicionais. Bottoms consegue ser o filme feminista descomplexado que a indústria teima em não fazer. Última nota para About My Father, uma básica comédia americana com Robert De Niro, que faz tudo bem e que prova que o cinema de conforto merece continuar a existir.
Os 20 Melhores Filmes de 2023
01 Perfect Days / Dias Perfeitos, de Wim Wenders
02 Anselm, de Wim Wenders
03 John Wick: Chapter 4, de Chad Stahelski
04 Talk To Me, de Danny & Michael Philippou
05 Elemental, de Peter Sohn
06 Mission: Impossible – Dead Reckoning Part One, de Christopher McQuarrie
07 Godland / Terra de Deus, de Hlynur Pálmason
08 Falcon Lake, de Charlotte Le Bon
09 Killers of The Flower Moon / Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese
10 Evil Dead Rise, de Lee Cronin
11 Hit Man, Richard Linklater
12 Maestro, de Bradley Cooper
13 Bottoms, de Emma Seligman
14 À Plein Temps / Full Time / A Tempo Inteiro, de Eric Gravel
15 Reality, de Tina Satter
16 Thanksgiving, de Eli Roth
17 The Boy and the Heron / O Rapaz e a Garça, de Hayao Miyazaki
18 Knock at the Cabin, de M. Night Shyamalan
19 About My Father, de Laura Terruso
20 Raging Grace, de Paris Zarcilla
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Para a lista de piores do ano selecionei 6 filmes que me marcaram pela negativa. O pior do ano é mesmo Poor Things, que se arrisca a ser o filme mais popular do início de 2024 e que vai provavelmente dar a Emma Stone um Óscar. Uma experiência grotesca para se ter em sala que confunde empoderamento feminino com vulgaridade e boçalidade. Oppenheimer também desiludiu com o seu crescendo que pariu um rato e uma última hora desconexa. Afire é também mais do mesmo, um excelente exemplo de como a banalidade por vezes, com alguma subtileza, passa por arte absoluta. Última palavra para Saltburn, uma masterclass sobre como enganar o espectador através de adornos e mistura de géneros, gorando expectativas com um pretensiosismo raramente observado. Embora não mereçam estar nesta lista, Barbie, May December e Anatomy of a Fall também não foram ao encontro das expectativas.
Os Piores Filmes de 2023
Poor Things, de Yorgos Lanthimos
Oppenheimer, de Christopher Nolan
Afire, Christian Petzold
Saltburn, de Emerald Fennel
Memory, de Michel Franco
The Creator, de Gareth Edwards