Os Melhores Filmes de 2023 para Bruno Victorino

Podia organizar as escolhas geograficamente (Coreia do Sul, Espanha, Alemanha, França, USA, Itália, Japão, Canadá, Argentina e Portugal). Ou agrupá-las entre suspiros (quase) finais de autores consagrados (Erice, Moretti, Miyazaki, Friedkin e Vecchiali), confirmações de autores estabelecidos (Sang-soo x3, Petzold, Linklater, Haynes, Shyamalan, Schanelec, Reichardt e Denis) e descobertas de novos autores (Depesseville, Craig, Citarella, Ball e Nobre). Ou sistematizá-las por géneros (drama, coming of age, comédia, animação, terror).

Mas parece-me mais enriquecedor estabelecer pontos de ligação reveladores de determinadas tendências. E o tema transversalmente mais identificável na lista de filmes que selecionei é o poder e a crença na ficção, os papéis que desempenhamos e a identidade. Dois filmes exploram esta ideia de forma genial e explícita, Hit Man, regresso em grande forma de Richard Linklater e May December. Mas é um traço comum aos 3 filmes de Hong Sang-soo, fazem parte da matéria do seu cinema. Presente também nas dinâmicas socialmente constrangedoras de Roter Himmel, nas fantasias do protagonista do último Miyazaki, ou no mais recente exercício de Shyamalan. Na busca pela verdade dos factos de The Caine Mutiny Court-Martial, na devastadora despedida de Vecchiali, nas histórias dentro de histórias de Trenque Lauquen e na fábula de Eugène Green.

Para além dos 20 filmes citados poderiam figurar igualmente na lista: Showing Up, de Kelly Reichardt, À Plein Temps, de Eric Gravel; Onde Fica Esta Rua? ou Sem Antes Nem Depois, de João Pedro Rodrigues e Rui Guerra da Mata; Master Gardener, de Paul Schrader; Detective vs. Sleuths, de Wai Ka-fai; Don Juan, de Serge Bozon; Anatomie d’une Chute, de Justine Triet; Mudos Testigos, de Luis Ospina e Jerónimo Atehortúa Arteaga; Mad Fate, de Soi Cheang; e Estranho Caminho, de Guto Parente.

Por outro lado, cingindo-me às estreias nacionais (em sala, streaming e festivais), ficaram infelizmente por ver: Tenéis que Venir a Verla, de Jonás Trueba; Saint Omer, de Alice Diop; Gigi la Legge, de Alessandro Comodin; Shin Ultraman, de Shinji Higuchi; No Bears, de Jafar Panahi; John Wick: Chapter 4, de Chad Stahelski; L’Été Dernier, Catherine Breillat; Menus Plaisirs – Les Troisgros, de Frederick Wiseman; Allensworth, de James Benning; Gli Ultimi Giorni dell’Umanità, de Alessandro Gagliardo e Enrico Ghezzi; Revolution+1, de Masao Adachi; O Canto das Amapolas, de Paula Gaitán; Los Delincuentes, de Rodrigo Moreno; e Evil Does Not Exist, de Ryusuke Hamaguchi.

Ficam então as minhas escolhas de melhores filmes de 2023, encabeçadas pelo sorriso de Kim Min-hee.

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Os Melhores Filmes de 2023

01 The Novelist’s Film / O Romancista e o Seu Filme,  de Hong Sang-soo

02 Cerrar los Ojos / Fechar os Olhos, Víctor Erice

03 Roter Himmel / Afire, Christian Petzold

04 Astrakan, David Depesseville

05 Hit Man, Richard Linklater

06 Il Sol dell’Avvenire / O Sol do Futuro, Nanni Moretti

07 May December / Notas de um Escândalo, Todd Haynes

08 The Boy and the Heron / O Rapaz e a Garça, Hayao Miyazaki

09 Knock at the Cabin, M. Night Shyamalan

10 Are You There God? It’s Me, Margaret., Kelly Fremon Craig

11 in water, Hong Sang-soo

12 The Caine Mutiny Court-Martial, William Friedkin

13 Walk Up, Hong Sang-soo

14 Music, Angela Schanelec

15 Skinamarink, Kyle Edward Ball

16 Bonjour la Langue, Paul Vecchiali

17 Le Mur des Morts, de Eugène Green

18 Trenque Lauquen, Laura Citarella

19 Cidade Rabat, Susana Nobre

20 Avec Amour et Acharnement, Claire Denis

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Como o cinema não se mede aos palmos e foi no formato de curta-metragem que tive algumas das melhores experiências cinematográficas do ano, enumero as 6 curtas de 2023 que deixaram maior impacto.

As Filhas do Fogo, Pedro Costa

Film Annonce du Film qui n’Existera Jamais : « Drôles de Guerres », Jean-Luc Godard

Mnemosyne, Mário Fernandes

The Hidden Gesture. War and Melodrama in Hollywood’s 30s and 40s, Dana Najlis

O Rio e seu Labirinto, Ian Capillé

LES ILLUMINATIONS, Isao Yamada

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Por fim, deixo-vos com os melhores filmes vistos pela primeira vez em 2023, sublinhando mais uma vez o extraordinário trabalho da The Stone and The Plot, do Daniel Pereira e do Miguel Patrício para trazer às salas de cinema nacionais autênticas pérolas escondidas do cinema japonês.

Os Verdes Anos (1963), Paulo Rocha

Sound in the Mist (1956), Hiroshi Shimizu

A Time to Love and a Time to Die (1958), Douglas Sirk

Pat Garret & Billy the Kid (1973), Sam Peckinpah

La Prima Notte di Quiete (1972), Valerio Zurlini

Vilarinho das Furnas (1971), António Campos

A Bay of Blood (1971), Mario Bava

Du Côté d’Orouët (1971), Jacques Rozier

Forever a Woman (1955), Kinuyo Tanaka

Dalla Nube Alla Resistenza (1979), Jean-Marie Straub & Danièle Huillet

Benilde ou a Virgem Mãe (1975), Manoel de Oliveira

Mes Petites Amoureuses (1974), Jean Eustache

 

PS: menção honrosa para a primeira experiência cinematográfica em sala do meu filho, 101 Dálmatas na Cinemateca Portuguesa.

Bruno Victorino