Em Oh Canada, de Paul Schrader, o realizador e Richard Gere reúnem-se pela primeira vez desde 1980. Gere já não é o American Gigolo de há 44 anos, mas sim um “American Runaway”, foragido ao recrutamento para a Guerra do Vietname.
Gere interpreta Leonard Fife, conceituado realizador de documentários e aclamado pelo público como um génio e um ativista crucial no movimento contra a guerra. Diagnosticado com um cancro terminal, Fife encontra-se acamado, em constante sofrimento e com um súbito – e último – desejo de reescrever a narrativa que o público lhe atribuiu. Descartar o título de herói, pois a verdade é que teve a sorte de estar no sítio certo à hora certa.
Malcom e Diana (Michael Imperioli e Victoria Hill), antigos alunos de Fife, vão a sua casa filmar este seu último testemunho. Fife aproveita para revelar também todo o seu passado de mulherengo, incapaz de se comprometer com qualquer projeto, promessa ou relação – a única exceção sendo a sua última mulher, Emma (Uma Thurman). Ouvimo-lo a recontar as suas memórias, episódios que tanto podem ser a verdade a vir ao de cima, como fantasias fabricadas pela sua mente, efeito secundário da medicação.
“— I know everything I need to know about him.”
O elenco que Schrader reúne é exemplar: Thurman é reservada mas tocante; Gere é extraordinário (Óscar de Melhor Ator para quando?); Elordi tem um porte qual estrela da Era de Ouro de Hollywood. Os dois homens interpretam a mesma personagem em fases diferentes da vida, através de uma estrutura com base em flashbacks na qual Gere por vezes habita as cenas em jovem.
Com Oh, Canada, Paul Schrader concebe um filme sobre um homem que se deseja confessar pela última vez em frente à câmara. Uma obra comovente e poderosa.
Oh Canada foi exibido no passado dia 17 de Maio, em competição oficial no 77e Festival de Cannes. A data de estreia em Portugal ainda não foi confirmada.