MotelX 2022: Uma Semana de Horror (críticas e rescaldo)

Foi a primeira edição do Motelx no pós pandemia, sem limitação de lugares. Num São Jorge sempre cheio, em Lisboa, foi uma semana na qual o cinema de terror reinou, proveniente um pouco por todo o Mundo, numa edição que apresentou uma programação de qualidade acima da média a que nos tem vindo a habituar. As hostilidades abriram com Bodies Bodies Bodies, novo filme de terror da A24, que explora com humor negro os estereótipos da geração Z e fechou com o desconfortável Resurrection, com uma Rebecca Hall e um Tim Roth magistrais. Pelo meio fomos ao Irão conhecer a história verídica de um serial killer em Holy Spider, ao interior dos Estados Unidos entender a prostituição nas bombas de gasolina para camionistas, à Tailândia observar uma Xamã no mockumentary The Medium ou ao Senegal para o western sobrenatural Saloum.

Esta edição do Motelx ficou também marcada pelo regresso de Dario Argento à realização, com o giallo Dark Glasses a ser apresentado pela sua protagonista. A secção Méliès d’Argent – melhor longa de terror europeia, esteve particularmente forte. O desconcertante Speak No Evil foi o grande vencedor, mas o folk galego de Corpo Aberto ou o folk Eslovaco de Nightsiren também poderiam ter ganho. Houve ainda espaço para o vertiginoso Fall, precedido pela curta portuguesa vencedora Vórtice que, narrando os horrores do estacionamento em Lisboa, levou para casa o prémio de €5000.

 

Bodies Bodies Bodies, de Halina Rejin

O filme de abertura é uma produção norte-americana realizada pela holandesa Halina Reijn, através da A24. Maria Bakalova regressa ao cinema americano depois do hype da sequela de Borat, que lhe valeu nomeação para Óscar de melhor actriz secundária. Esta é uma comédia de terror, usando como base o subgénero “pessoa que aparece morta e o assassino está entre nós”, hoje conhecido por “whodunnit”. O filme vive da química dos seus jovens protagonistas, estereotipados nos termos da geração Z, piscando o olho aos estereótipos da rigidez “woke”. A dada altura, de arma em punho, as personagens encetam discussão trocando acusações acerca de qual delas será mais socialmente privilegiada. A sala ri e aplaude. Com um twist original, alguns sustos e pontaria para a o humor negro e crítica social, Bodies Bodies Bodies é um tiro certeiro no cinema de género.

David Bernardino

 

Calhou a Bodies Bodies Bodies, a segunda longa-metragem da holandesa Halina Reijn, abrir a 16ª edição do festival MOTELX.  Com um elenco composto por um grupo ultra-talentoso de jovens atrizes (Amandla Stenberg, Maria Bakalova, Rachel Sennott), e por Pete Davidson, num papel que utiliza eficazmente a sua imagem pública, o filme retrata um grupo de jovens que decide organizar uma festa durante um furacão.  O filme distribuído pela A24 é uma sátira interessante da geração Z, na qual Halina Reijn constrói uma representação altamente estilizada da geração que cresceu com a internet e que passa grande parte do seu tempo online. Bodies Bodies Bodies acaba por não conseguir estabelecer um equilíbrio eficaz entre os momentos de maior tensão com as gargalhadas que provoca, numa sessão marcada pelo ambiente contagiante da sala.

Francisco Sousa

 

Family Dinner, de Peter Hengl

Veio da Áustria esta proposta nomeada para melhor longa europeia de terror. Uma jovem obesa decide ir passar a semana de Páscoa a casa dos seus tios, procurando aproveitar os conselhos da sua tia, uma reputada nutricionista. A direcção que Family Dinner irá tomar não é difícil de entender e a sua realização é, a momentos, inspirada, no entanto um vazio argumentativo e um ritmo carregado de “palha” impedem o filme de algum momento encontrar o interesse do espectador. Um build up longo para um clímax pouco ou nada arrebatador, escondido por uma montagem de mau gosto que pretende enaltecer uma cena pouco impactante. Uma perda de tempo.

David Bernardino

 

Holy Spider, de Ali Abbasi

Produção europeia, filmado na Jordânia, fingindo- se de Irão, Holy Spider trata a história verídica de um serial killer na cidade de Mashhad, por alturas dos atendados do 11 de Setembro, que assassinou várias prostitutas na convicção de estar a servir Deus e a limpar a cidade de pecadoras. Além de ser um thriller policial sólido contado do ponto de vista de predador e presa (predador a jornalista que decide tomar a investigação em mãos, presa o assassino fugidio), Holy Spider é um eficaz retrato social e político da sociedade iraniana no início do século XX, hiper-conservadora e religiosa, a qual em grande número apoiou e legitimou as acções do assassino. Ainda assim essa mudança de foco entre o thriller e o retrato social ressente-se no produto final como um todo, como se o filme estivesse partido em dois.

David Bernardino

 

Uma das estreias mais polémicas do festival de Cannes de 2022, Holy Spider é baseada nos eventos verídicos que assolaram Mashad, entre 2001 e 2002, onde Saheed Hanaei (Mehdi Bajestani) assassinou 16 mulheres. Como justificação para estes crimes, Saheed disse em tribunal que pretendia limpar a cidade da corrupção moral que, segundo o assassino em série, era personificada pelas trabalhadoras sexuais. No filme de Ali Abbasi, a única pessoa que parece interessada nesta série de assassinatos é a jornalista Rahimi (Zar Amir Ebrahimi, numa performance que lhe valeu o prémio de melhor atriz no festival francês), uma personagem fictícia criada pelos argumentistas do filme. Se a primeira metade de Holy Spider, nos permite traçar comparações com outros filmes sobre serial-killers, como por exemplo Zodiac, a segunda metade do filme foca-se, de uma forma excessivamente simplificada, nos julgamentos que levaram à execução de Saheed e onde fica retratado a corrupção moral e judicial da sociedade iraniana. 

Francisco Sousa

 

Candy Land, de John Swab

Um filme que pisca o olho à Série B norte americana, Candy Land promete sexo, violência e fanatismo religioso. E cumpre. É a história do outro lado do sonho americano, mais concretamente de um grupo de prostitutas que trabalha num motel de estação de serviço algures no interior frequentado sobretudo por camionistas. Os dias são solarengos e poeirentos, os diálogos estilosos e provocatórios, o Xerife local corrupto, todos os ingredientes estão colocados. Lentamente a rebeldia e o humor negro dão lugar a um slasher picante que, embora derivativo, tem uma personalidade rara e refrescante. Uma sessão de meia noite perfeita.

David Bernardino

 

The Medium, de Banjong Pisanthanakun

Referência frequente nas listas de melhores filmes de terror de 2021 e primeira metade 2022, conforme localização do lançamento, havia muita expectativa para ver The Medium. Escrito pelo argumentista de The Wailing (2016) obra-prima do horror recente, e dirigido pelo mesmo realizador de Shutter (2004), filme que se tornou de culto, The Medium é o resultado eficaz da combinação destes dois talentos. Contando a história de uma Xamã numa zona rural da Tailândia, o filme joga com a linguagem de falso documentário, found footage e ficção tradicional de uma forma refrescante que agarra o espectador. Num slow burn crescente, aquilo que The Medium faz é agarrar em vários corolários da linguagem de género recente, indo beber a filmes como Ju-On, Paranormal Activity, Noroi (2005) ou Hereditary (2018), acabando por se focar numa aparente possessão. O filme consegue ser sempre interessante ao longo dos seus 130 minutos, perdendo apenas o foco ao prolongar demasiado um clímax por demais ambicioso.

David Bernardino

 

Dark Glasses, de Dario Argento

O tão antecipado regresso do pai dos giallos Dario Argento, autor de filmes de culto como Suspiria (1977) ou Deep Red (1975) aos 81 anos, marcou o Motelx. Dark Glasses apresenta-se como um regresso às origens de Argento. É de facto um giallo em característica, com um assassino a monte, sangue bem vermelho e uma banda sonora retro pujante, mas está longe de ser um regresso à boa forma de Argento… O mestre italiano está aqui na verdade mais perto de ser um imitador daquilo que o próprio fez há quase 50 anos atrás, do que de ser ele próprio. É pena. Apesar de um início interessante, com uma acompanhante de luxo que fica cega e se vê perseguida por um assassino, intriga e algum humor, rapidamente vem ao de cima uma realização pouco cuidada, quase ao nível da telenovela, que vai escapando com boa vontade do espectador pelos pingos da chuva. Isto é, até começar a “acção”. Dark Glasses torna-se num desfile de péssimo diálogo, más interpretações, e uma edição constrangedora. A dada altura a sala não teve escolha senão rir, mas perto do final a boa disposição dá lugar a aborrecimento. O constrangimento só é entretenimento até certo ponto.

David Bernardino

 

Um génio em decadência. 10 anos depois do seu último filme – Drácula 3D (2012) – o mestre italiano regressa com um filme bastante irregular. Muito do interesse passa mesmo por contemplar os resquícios de um traço autoral em declínio, outrora responsável pelos principais filmes de género dos anos 70 e 80. A falta de qualidade do argumento e da produção remetem-nos para outro filme recente de outro cineasta de género em relativo declínio – Domino (2019), de Brian de Palma. Em ambos os filmes verifica-se a depuração do talento dos realizadores, mas o resultado final acaba diminuído por variáveis eventualmente alheias aos seus criadores. O filme segue uma prostituta que se vê envolvida num acidente de viação quando tenta escapar aos avanços de um serial killer. Do acidente resulta a morte da família de uma criança de 10 anos e a cegueira da protagonista. As fragilidades já apontadas são minimizadas pelo traço do realizador, que continua a conseguir criar imagens que perduram na memória (o cão que devora a garganta como em Suspiria (1977)) e volta a contar com uma banda-sonora perfeitamente calibrada à marca registada Argento.

Bruno Victorino

 

Speak No Evil, de Christian Trafdrup

Filme sensação oriundo da Dinamarca, Speak No Evil tem colhido elogios um pouco por todo o Mundo. Um casal dinamarquês de férias em Itália trava amizade com um casal holandês igualmente de férias. Mais tarde o casal holandês convida os dinamarqueses a passar um fim de semana na sua casa de campo na Holanda. Sabemos que é suposto algo dramático acontecer, mas Speak No Evil mantém a dúvida quanto ao seu rumo quase até ao fim, num misto de comédia negra com drama desconfortável. O casal holandês é estranho e algo se passa, mas não poderão ser apenas pessoas diferentes? Speak No Evil faz um excelente trabalho a dissecar os traumas de convívio da classe média, onde a boa educação e os fretes imperam, tendo sempre em vista o respeito pelo outro e o não ferir de sentimentos. Afinal de contas são convidados. Tantas vezes vai o cântaro à fonte até que se parte, diz o ditado. Aqui o quebrar é um momento em que o desconforto dá lugar à agonia, num final impiedoso e desconcertante. Foi o grande vencedor do prémio de melhor longa europeia no Motelx.

David Bernardino

 

Wolkfin, de Jacques Molitor

Primeiro filme luxemburguês a ser exibido no Motelx, fala de uma mãe solteira forçada a procurar a família do ex-companheiro para que possa ajudar o filho. Afinal de contas o filho é descendente de uma linhagem de lobisomens e está a ficar cada vez mais agressivo. No papel pode parecer desinteressante, mas na realidade Wolfkin é um drama familiar bem construído e de pés bem assentes na terra, com alguns elementos de fantasia. O choque entre famílias e tradições, o sentimento de pertença na juventude, são temas que o realizador Jacques Molitor trata com sensibilidade e cuidado. A imagem, filmada numa quinta em zona rural, é em medidas iguais faustosa e bucólica, reconfortante, mas imponente. Uma boa surpresa.

David Bernardino

 

Criança Lobo, de Frederico Serra

Ainda na temática “lobisomen”, Criança Lobo é o novo filme de Frederico Serra, co-realizador do icónico Coisa Ruim, de 2006. Conforme dito pelo próprio, o filme foi criado como parte de uma minissérie baseada em contos de terror de folclore português, a passar no futuro na RTP. Frederico Serra decidiu que este episódio seria mais que isso, dando-lhe o tratamento de longa metragem devido, tornando-o cinema de pleno direito. Passado algures no interior de Portugal, há cerca de 100 anos atrás, uma mulher dá à luz uma criança marcada que se diz amaldiçoada. Criança Lobo tem todos os ingredientes para funcionar como terror a ritmo lento, com belas paisagens naturais e rurais, e elementos ominosos tais como corvos e árvores misteriosas. Infelizmente, tudo é deitado a perder num clímax que corta a direito com o bucolismo e ambiência que havia construído até então, a favor de uma montagem estilosamente exagerada com direito a guitarras eléctricas e bateria.

David Bernardino

 

Good Madam, de Jenna Catto Bass

Um bom filme que não resultou no contexto do Motelx, Good Madam é um belo drama geracional vindo da África do Sul. Uma mãe vê-se forçada a abandonar a comuna onde vivia com a sua filha e decide ir pedir abrigo à sua mãe: uma governanta negra idosa que vive e trabalha na mansão suburbana da sua patroa branca que está acamada. O filme foca-se na herança social e cultural que o colonialismo e o apartheid deixaram nos ainda trabalhadores locais que vivem para servir os patrões, e na forma como três distintas gerações, neta, mãe e avó, vivem essa interação racial e cultural. Como portugueses vemos algum paralelismo com os fantasmas de Ventura, de Pedro Costa. É mais uma vez um filme lento que demora o seu tempo, mas esse tempo é precisamente o seu propósito.

David Bernardino

 

Nightsiren, de Tereza Nvotová

Vindo da Eslováquia, Nightsiren teria ganho bem o prémio de melhor longa de terror europeia se não fosse por Speak No Evil. Uma história baseada no folclore rural, na qual uma jovem volta à sua aldeia natal cerca de 20 anos depois da trágica morte da sua irmã mais nova. Uma comunidade envolta em superstição, misoginia e preconceito, tem dificuldade em aceitar este regresso. Uma fotografia fantástica, boas interpretações e sobretudo um ambiente soturno no qual paira a bruxaria fazem de Nightsiren uma proposta sólida.

David Bernardino

 

Saloum, de Jean Luc Herbulot

Raro filme de género proveniente da África subsariana, este é o primeiro filme senegalês exibido no Motelx. Um grupo lendário de 3 mercenários é obrigado a tomar refúgio em Saloum, no Senegal, depois de ter participado num golpe de Estado na Guiné-Bissau. Na sua primeira metade Saloum é western africano, carregado de personalidade e humor, com personagens carismáticas que lembram, a espaços, o cinema de Tarantino. Na sua segunda metade o filme insere uma maldição sobrenatural que insere o sci-fi a um cocktail explosivo, tirando-lhe o sabor. Saloum acaba por perder o seu rumo, num argumento confuso difícil de seguir e espalhafatoso, reminiscente de algum sci-fi televisivo de baixa qualidade. É uma pena, porque Saloum, na sua primeira metade, tinha potencial para ser uma das maiores surpresas jamais exibidas no Motelx. Ainda assim, a sua originalidade dá-lhe pontos extra e mostra-nos uma visão refrescante e diferente sobre o cinema de género.

David Bernardino

 

O Corpo Aberto, de Ángeles Huerta

Foi a estreia mundial de O Corpo Aberto, uma co-produção luso-espanhola, produzida na Galiza, com a participação de Victoria Guerra e José Fidalgo. Em 1909 um professor oriundo de Ourense é enviado para dar aulas numa aldeia na raia, lado espanhol, uma área isolada repleta de superstições. Um filme de mistério a ritmo lento que sugere diálogo entre o Mundo dos vivos e mortos, possessão, e uma dicotomia entre fé e ciência. Apesar da sua pouca acção, O Corpo Aberto nunca perde o interesse, executando o seu clímax com rara mestria e segurança. Foi um dos filmes mais interessantes desta edição do Motelx.

David Bernardino

 

Fall, de Scott Mann

Foi um dos pratos fortes desta edição do festival. Fall traz-nos duas amigas profissionais de escalada que decidem subir uma torre de antena de 600 metros no meio do deserto americano. É um filme conceito de uma só localização, invocando 127 Hours (2010) e The Shallows (2016), que sabe como usar o seu cenário único para provocar com sucesso a sensação de vertigem no grande ecrã. Apesar de ser um série B sólido, bastante entretido, Fall não consegue fugir com total sucesso ao clichés esgotados dos filmes de localização única, tais como os flashbacks melodramáticos, os diálogos com animais ou objectos inanimados, ou a revelação que pode por em causa a união das protagonistas. Apesar disso, Fall parece estar bem consciente daquilo que é e nunca foge às responsabilidades: entreter o espectador e oferecer-lhe adrenalina.

David Bernardino

 

Resurrection, Andrew Semans

Há quem diga que é um dos filmes do ano, e foi certamente o suficiente para ser escolhido para a sessão de encerramento. Rebecca Hall é uma cientista solteira que vive com a sua filha de 18 anos, quando se depara com a presença de um ex-namorado de há 22 anos que aparenta persegui-la. Resurrection é um filme desconfortável. Tim Roth é uma presença nefasta, dir-se-ia mesmo agonizante, que paira sobre todo o filme, com uma interpretação sublime digna dos seus melhores registos. Apenas é superado pela protagonista Rebecca Hall que demonstra aqui, sem dúvidas, que é uma das melhores actrizes a trabalhar em Hollywood neste momento e que, sorte a nossa, tem particular queda para o cinema de género (veja-se The Night House (2020)). Resurrection é um daqueles filmes de terror que se agarra ao espectador durante dias e que apesar de ser uma experiência pouco agradável, acaba por deixar a sua marca. Uma reflexão pertinente sobre manipulação e o poder que alguém pode exercer na vida de outrem, sobre a inexperiência da juventude, más decisões, amor tóxico, e todos os traumas e feridas que isso pode causar até à idade adulta. É também um poderoso drama familiar acerca das responsabilidades de mãe para filha, e vice versa. Quais são os limites da protecção e do amor maternal? Até que ponto deve uma mãe colocar em causa a liberdade da sua filha pelo seu próprio bem? Até que ponto deve uma filha ajudar uma mãe em falência psicológica? Um filme divisivo não aconselhável aos mais impressionáveis para assistir uma vez, pensar, falar, e nunca mais ver.

David Bernardino

 

A segunda longa-metragem de Andrew Semans, estreada em 2022 no festival de Sundance, foi o filme escolhido para encerrar a 16ª edição do MOTELX. Em Resurrection vemos Margaret (Rebecca Hall), uma mulher de sucesso que, assombrada por eventos da sua juventude e atormentada por uma culpa imensa, exerce um controlo autoritário sobre o seu trabalho, a sua vida romântica e sobre a sua filha. A perspetiva de ver Abbie (Grace Kaufman) sair de casa para a universidade leva a uma situação de rotura psicológica para Margaret que se acentua quando um stalker (Tim Roth) reaparece na sua vida. Um thriller psicológico, onde os limites do real e imaginário parecem fundir-se, que evita cair nas armadilhas tradicionais do género e que tem como destaque a performance cheia de nuance de Rebecca Hall.

Francisco Sousa

 

Vórtice, de Guilherme Branquinho

O prémio SCML MOTELX,  Melhor Curta Portuguesa 2022, foi atribuído à curta-metragem Vórtice, de Guilherme Branquinho. O filme do cineasta português retrata um problema comum a qualquer pessoa que já tenha tentado estacionar o carro em Lisboa quando se volta do trabalho. No que é, à partida, uma premissa banal, a curta transmite na perfeição a frustração e sentimento de impotência que nos assola e quase nos leva à loucura.

Francisco Sousa

 

Hideous, Yann Gonzalez 

Yann Gonzalez faz parte de um conjunto de realizadores franceses que assinou o manifesto Flamme nas páginas dos Cahiers du Cinéma, em 2018. “Interessa-nos um cinema inflamado. Um cinema para sonhadores que suam, monstros que choram e crianças que ardem. Um cinema que goza e é consumido livremente” são palavras arrojadas e que procuram uma clara disrupção com o cinema de autor contemporâneo. E são palavras que efetivamente ecoam pela obra de Gonzalez e que se voltam a evidenciar em Hideous. Uma narrativa kafkiana de metamorfose de Oliver Silm, membro da banda britânica The xx, repleta de gore e surrealismo e que inventivamente revisita os temas da morte, pulsão sexual e homossexualidade já anteriormente presente nos filmes do cineasta francês.

Bruno Victorino

 

The Demons of Dorothy, Alexis Langlois

Alexis Langlois não faz parte do grupo de cineastas responsável pelo manifesto Flamme, mas The Demons of Dorothy enquadra-se no idiossincrático traço cinematográfico inflamado que liga os realizadores franceses que o assinaram. A ruptura com o cinema de festival é aqui enfrentada diretamente, através de uma sátira aos produtores, mais preocupados em encaixar numa lógica mercantil em vez de estimular a liberdade e criatividade artística. O realizador mostra-nos o que vai na mente de Dorothy, enquanto escreve um mirabolante guião para um filme, rico em tons rosa choque e voluptuosos seios, mas que acaba castrado pelos interesses instalados e transformado em mais um banal filme de prestígio.

Bruno Victorino