Karim Aïnouz é nome frequente em Cannes: já por seis vezes os filmes do realizador brasileiro foram selecionados pela organização do festival de cinema. Destaque para o soberbo A Vida Invisível, com o qual venceu a secção paralela Un Certain Regard em 2019. Uma nota também para Firebrand, a sua desastrosa estreia na secção principal, filme tão bem recebido em 2023 que não teve distribuição comercial em nenhum país durante esse ano.
Passemos a Motel Destino, o seu regresso – e redenção – à competição principal de Cannes. Heraldo, interpretado pelo estreante Iago Xavier, vive no Nordeste do Brasil e é membro de um grupo criminoso. O seu desejo é o de começar uma vida nova em São Paulo, mas não se abandona o mundo do crime sem mais nem menos. Essa é a posição firme da sua chefe, líder do gangue. As condições que propõe a Heraldo são simples: fazer um último trabalho e a sua liberdade será concedida. Não surpreenderá ninguém que a missão corre mal e Heraldo acaba por fugir com medo de represálias. Procura então refúgio no titular motel, onde já passara uma noite.
Em termos narrativos, Motel Destino não apresenta novidades. Basta pensar em The Postman Always Rings Twice, mas em vez do filme noir de 1946, este é o filme néon de 2024. Aïnouz está menos interessado em reinventar a roda com o seu guião e mais focado em criar uma atmosfera palpável: a energia sensual, as cores tropicais, a música pulsante (i.e. a banda sonora original de Amine Bouhafa, acompanhada por gemidos sexuais como barulho de fundo).
Com Motel Destino, Aïnouz constrói um thriller da forma mais exótica e erótica possível. Iago Xavier, Nataly Rocha e Fábio Assunção compõem o triângulo amoroso central, um trio de atores carismáticos, empenhados e divertidos. O filme mais quente do Verão é este.