Monkey Man, de Dev Patel: uma estreia promissora

Francisco SousaAbril 12, 2024

Monkey Man, escrito, realizado e protagonizado por Dev Patel, é um filme de ação, um thriller sobre vingança, passado na selva urbana de Mumbai. Patel (Slumdog Millionaire, Lion, Green Knight) assume pela primeira vez o leme de uma longa-metragem, num género já muito batido e particularmente exigente ao nível da coreografia e montagem.

A história centra-se em Kid (Patel), que ganha a vida a lutar, mascarado de macaco, num clube de boxe subterrâneo. Obcecado pela vingança contra aqueles que destruíram a sua infância e a sua vida, Dev Patel encarna com sucesso a personagem, recorrendo à mitologia de Hanuman – o deus Hindu que representa a justiça e a força – para estabelecer uma ligação entre a sua vingança e a luta contra a opressão.

As sequências de ação são, naturalmente, o grande destaque do filme. A coreografia é muitas vezes complexa, com alguns momentos inovadores, e é onde Patel demonstra ser capaz de transmitir intensidade e fluidez. A comparação com John Wick, que se deve quer à estrutura narrativa, quer ao estilo visual do filme, não só prejudica Monkey Man como também não parece ser inteiramente adequada. Em primeiro lugar, John Wick é maioritariamente um filme de Gun Fu, onde as sequências de luta combinam artes marciais e armas de fogo – com grande influência do cinema de Hong Kong, particularmente o de John Woo. Por outro lado, Monkey Man é um filme praticamente desprovido de armas de fogo, onde as artes marciais estão em destaque e onde se fazem sentir diversas influências, desde Bruce Lee a The Raid, de Gareth Evans, mas também a Die Hard.

A primeira longa-metragem de Patel tenta abordar diversos tópicos da sociedade indiana, nomeadamente a enorme corrupção das estruturas governativas, a pobreza e a desigualdade na sociedade. Apesar das referências culturais empregues por Patel darem alguma profundidade à história, o filme nem sempre parece interessado em adensar estas narrativas, que acabam por parecer demasiado superficiais e desconectadas da ação, resultando num ritmo irregular e num certo desequilíbrio narrativo. Os flashbacks do filme, que correspondem aos momentos mais introspetivos, acabam por ser demasiado repetitivos e interromper a fluidez da narrativa.  Ainda que Monkey Man tenha um elenco secundário interessante (o regresso de Shartlo Copley como Tiger, dono do estabelecimento de lutas, e Sikander Kher como chefe de polícia), as personagens secundárias não têm grande profundidade, motivações, ou sequer tempo suficiente para serem devidamente desenvolvidas.

A produção de Monkey Man não correu totalmente como planeado: as gravações foram interrompidas devido à Covid e Patel partiu a mão ao filmar a primeira sequência de ação. Adicionalmente, o filme era originalmente parte do catálogo da Netflix, mas depois de conflitos criativos, e rumores de que a empresa norte-americana não quereria lançar um filme que critica tão abertamente as estruturas de poder (num dos seus maiores mercados), o gigante de streaming optou por vender os direitos à Universal Pictures (graças à influência e intervenção de Jordan Peele).

Monkey Man é um filme imperfeito, que tenta encaixar diversos conceitos complexos e influências bastante diferentes nem sempre da forma mais fluida e coerente, mas que demonstra o potencial de Dev Patel como realizador e que consegue ter os seus momentos mais altos nas sequências de ação.

Francisco Sousa