Depois do sucesso de Star Wars, George Lucas criou a personagem Indiana Smith, um professor de arqueologia que participa numa série de aventuras em busca de relíquias perdidas. Anos mais tarde, Lucas e Steven Spielberg juntam-se, mudam o nome da personagem para Indiana Jones e o realizador de Jaws e de Close Encounters of the Third Kind adapta o primeiro episódio Salteadores da Arca Perdida para o grande ecrã. O filme, que estreou em 1981, tornou Indiana Jones (Harrison Ford) numa das personagens mais icónicas da história do cinema. Caracterizado pela sua inteligência e ironia, com um vasto conhecimento de História e civilizações antigas, constantemente munido do seu chicote e fedora, a trilogia original foi um autêntico sucesso não só junto da crítica como também das audiências, cimentando Harrison Ford como uma das maiores estrelas de Hollywood.
Após o terceiro filme, A Última Cruzada (1989), houve um interregno na saga de Indiana Jones durante quase 20 anos. No entanto, em 2008, a personagem voltou aos cinemas, mais uma vez através da lente de Steven Spielberg, para a quarta instalação do franchise com Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. Ao contrário dos primeiros três filmes, o quarto não foi bem recebido e, apesar do contrato original com a Paramount Pictures ser de 5 filmes, ficou na dúvida se Indy voltaria a dar a volta ao mundo em mais uma aventura.
Quase 15 anos depois, numa altura em que os franchises e a propriedade intelectual são a base da indústria cinematográfica norte americana, Harrison Ford e o seu Indiana Jones regressam, desta vez em busca do Marcador do Destino. O filme, desta vez realizado por James Mangold (Logan, Ford Vs Ferrari) após Steven Spielberg ter considerado que a personagem precisava de uma nova perspetiva, passa-se em 1969, quase 30 anos depois dos eventos do primeiro filme. Indy encontra-se separado da mulher Marion (Karen Allen) após a morte do filho Mutt durante a guerra do Vietname e acabou de se reformar após uma longa carreira como professor universitário (é particularmente interessante que Indy se retire no dia em que o homem chegou à lua e o contraste que este momento tem com a sua situação atual). Quando a sua afilhada Helena (Phoebe Waller-Bridge), filha de um antigo colega arqueólogo e obcecado pelo marcador de Arquimedes, aparece à sua porta com perguntas sobre este misterioso objeto, os dois vêem se envolvidos numa volta ao mundo, constantemente perseguidos pelo Dr Jurgen Voller (Mads Mikkelsen). Mads interpreta o arquétipo de um antagonista da saga, um antigo oficial Nazi durante a segunda guerra mundial que planeia usar o Marcador de Arquimedes para obter poderes inimagináveis.
O filme segue a estrutura clássica da saga Indiana Jones ao levar-nos a diversos locais à volta do mundo (grande parte deste filme é de facto filmado na Grécia e em Itália o que dá imediatamente ao filme uma textura mais real do que outros franchises que continuam a gravar em armazéns gigantes em Atlanta) mas não deixa de recorrer à tecnologia para, por exemplo, rejuvenescer Harrison Ford no prólogo do filme. As personagens secundárias são pouco caracterizadas (Antonio Banderas e Boyd Holbrook são praticamente desperdiçados) mas a química entre Ford e Phoebe Waller Bridge, que traz uma lufada de ar fresco à saga, é suficiente para nos manter interessados no que se vai passando.
Mangold é um realizador competente e já tinha provado que era capaz de contar histórias sobre heróis no final da vida anteriormente (veja-se Logan) mas não é Spielberg. O filme acaba por ser longo demais, o humor visual de Spielberg não está presente e Mangold acaba por proporcionar sequências de ação muitas vezes confusas e que se apoiam em demasia nos efeitos especiais.
Indiana Jones e o Marcador do Destino não é Salteadores da Arca Perdida, nem a Última Cruzada mas poucos filmes o são e é um padrão incrivelmente elevado para usar como termo de comparação. No entanto, serve o propósito de entreter e dar aos espectadores uma despedida competente (e emocional) a Harrison Ford de uma personagem que, juntamente com Han Solo, permitiu ao actor gravar o nome no panteão de estrelas de Hollywood e que fascinou jovens e adultos com Arqueologia e História.