Good Luck to You, Leo Grande: 2 atores, 1 quarto, 0 tabus quebrados

É raro o filme que compreende que bastam noventa minutos para contar certas histórias. Good Luck to You, Leo Grande é, felizmente, um desses filmes. Nesta comédia dramática, o titular Leo é um jovem acompanhante de luxo cujos serviços são contratados por Nancy, uma professora reformada. Ao longo de várias sessões, Leo e Nancy – pseudónimos para ocultar as suas verdadeiras identidades – vão riscando itens da lista de desejos de Nancy, como também se vão conhecendo melhor.

Comecemos por aquilo que o filme tem de melhor: os dois protagonistas. Daryl McCormack e Emma Thompson dão a cara (e o corpo) pelas suas personagens, num argumento que os põe a discutir satisfação sexual, aceitação corporal, os papeis sociais do homem e da mulher, sexo na terceira idade, entre outros. Thompson, em particular, é capaz de atravessar todo um espectro de emoções ao longo de uma única cena. Por vezes, parece até que McCormack se encontra numa aula de representação lecionada pela veterana.

Daryl McCormack e Emma Thompson em “Good Luck to You, Leo Grande”

Leo Grande apresenta-se como uma obra progressiva, pronta a quebrar tabus em relação a sexo, idade e género, mas revela não ser tão subversiva como pensa que é. Vejamos alguns exemplos. Primeiro, é incapaz de mencionar sexo anal sem logo a seguir fazer uma graçola homofóbica. Segundo, insiste sempre no mesmo género de piadas (não era necessária uma hora de humor pudico para estabelecer que Nancy é insegura e ingénua, enquanto que Leo é confiante e experiente). Terceiro, não consegue evitar diálogos forçados e confrangedores. Compare-se o filme com a outra comédia em exibição nos cinemas, Ticket to Paradise, e os silêncios do primeiro contrastam com as gargalhadas constantes do segundo.

Em termos formais, Leo Grande é um filme que deixa a desejar. Visualmente insípido (certas cenas parecem saídas de um anúncio televisivo), com uma montagem confusa (sucessivos cortes vão mudando o enquadramento dos atores de forma indiscriminada), e acompanhado por uma banda sonora genérica e intrusiva.

Good Luck to You, Leo Grande é um filme com o coração no sítio certo. É também, no entanto, um filme que deseja ser moderno, mas que aparenta ter sido escrito por um boomer que se pensa zoomer. O equivalente do “I’m a cool mom” de Mean Girls.

“I’m a cool mom” – Amy Poehler, em “Mean Girls” (2004)

Pedro Barriga