No panorama do cinema atual, é norma vermos filmes com mais de 20 anos a originarem sequelas. Recentemente tivemos o exemplo de Top Gun: Maverick, Mad Max: Fury Road, Blade Runner 2049, entre outros. No entanto, é menos comum sequelas de filmes que ganharam o Óscar de Melhor Filme e ainda menos quando a espera entre ambos é quase um quarto de século. Este é o caso de Gladiator II, um filme que teve um processo de gestação enorme, passado de estúdio em estúdio e sendo rescrito várias vezes.
24 anos depois chega às salas de cinema a sequela do vencedor de cinco óscares da academia, outra vez pela mão de Ridley Scott. O filme passa-se 16 anos depois da história de Maximus Decimus Meridius e segue a história de Hanno (Paul Mescal), um bárbaro da Numídia que aparentemente retorna a Roma, governado pelos tirânicos imperadores gémeos Geta e Caracalla, como gladiador após a conquista romana, sob a alçada de Macrinus (Denzel Washington), comerciante de escravos e gladiadores.
Os créditos iniciais de Gladiator II retratam cenas do primeiro volume, quem sabe para relembrar espetadores do que aconteceu nesse filme, mas a verdade é que o efeito acaba por ser prejudicial para a sequela, ao obrigar ainda mais a uma comparação direta entre os dois. “What we do in life echoes in eternity” e o que fazemos no original ecoa na sequela, e de que maneira. O filme de 2024 é demasiado iterativo do primeiro, tanto Acacius (herói general romano, interpretado por Pedro Pascal) como Hanno são versões diferentes de Maximus. O primeiro é um general desiludido com o estado a que chegou Roma e o segundo um gladiador que apaixona a multidão na arena e deseja transformar a cidade. No entanto, se Pedro Pascal acaba por não ter muito para fazer neste filme, Mescal não convence totalmente como líder de gladiadores. Russell Crowe, que ganhou o óscar pelo seu papel como Maximus, tem uma presença notável no primeiro filme, com um carisma e presença física que tornam credível a sua capacidade de incendiar uma revolução. Já Paul Mescal, que nos habitou a excelentes performances num registo mais frágil e delicado (Normal People e Aftersun), parece pequeno entre os outros gladiadores e nunca se agiganta verdadeiramente.
As cenas de ação são interessantes e dinâmicas o suficiente para que o filme não seja aborrecido, mas não atingem a carga emocional e épica do original. Outro erro do filme é a banda sonora de Harry Gregson-Williams que, quando posta lado a lado com a de Hans Zimmer (compositor do filme original), não a transcende e tem até dificuldade em tornar-se equiparável.
O único ponto realmente positivo da sequela pertence a Denzel Washington, que está num nível superior aos seus pares, por vezes até parece estar num filme diferente, e empresta todo o seu carisma para fazer de Macrimus uma personagem complexa e cativante continuando, assim, a sua excelente colaboração com os irmãos Scott.
Ridley Scott, quase com 87 anos, e que tem em Gladiator II o seu 28º filme, não dá sinais de abrandar. Porém, os seus últimos filmes, especialmente House of Gucci, Napoleon e Alien: Covenant têm argumentos fracos, superficiais, e o novo gladiador não é excepção. Os desenvolvimentos narrativos e visuais são expectáveis, jogam pelo seguro, não trazem grande surpresa e os arcos de desenvolvimento das personagens são praticamente inexistentes. Curiosamente, não é o único cineasta de renome que em 2024 decide fazer um filme cujo foco principal é um império em decadência e a construção de uma nova Roma. Coppola também o fez em Megalopolis, mas Scott tem uma abordagem tão segura e insípida que é possível esquecermo-nos de que se trata do realizador de Alien e Blade Runner atrás da lente. Numa das cenas mais conhecidas do filme original, Russel Crowe pergunta “Are you not entertained?”
Pouco.