Desde o passado dia 24 de Junho, até ao próximo dia 1 de Julho decorre em Espinho a vigésima edição do prestigiado e internacional FEST – New Directors New Films Festival, com masterclasses, industry meetings e actividades de formação e interação profissional, além de um vasto programa de filmes em competição e fora de competição. Tenho o privilégio de estar presente enquanto produtor e aproveito para destacar algumas das coisas que tenho visto, para a Tribuna do Cinema.
Como em Henry Miller, estou a viver na Villa Borghese. Como em José Régio, toma-se o pequeno-almoço e olho para os jardins e para o saibro. Seguem alguns destaques do programa;

Sons, de Gustav Möller, foi um dos filmes em competição no Festival Internacional de Berlim e fez parte da cerimónia de abertura aqui do FEST, onde também está em competição. É um thriller claustrofóbico, rodado quase inteiramente no interior de uma prisão, e que acompanha uma guarda prisional que pede para ser transferida para o departamento de máxima segurança, para onde acabou de entrar um homem que ela aparenta conhecer. É um filme com uma grande carga de tensão, em particular devendo à figura maciça, ameaçadora do co-protagonista, o prisioneiro 17 – entre outros elementos do elenco – que parece a qualquer momento poder abater-se com uma fúria (e uma tranquilidade) psicopatas sobre os restantes; e a contracena com a guarda Eva, não menos perigosa nas suas possíveis intenções.

Blix not Bombs, de Greta Stocklassa, que esteve presente na sessão, é um muito bom documentário para o qual tinha altas expectativas, devido ao seu tema. Trata a inspecção por parte da ONU – e concretamente liderada pelo sueco Hans Blix – ao Iraque, em busca da presença comprovada de armas de destruição maciça, busca que levou depois, apesar de não terem sido encontradas armas, à Invasão do Iraque em 2003. Greta contacta o antigo “Secretário Executivo da Comissão das Nações Unidas de Vigilância, Verificação e Inspeção”, agora com 95 anos, e estabelece uma relação de “amizade profissional” com ele, que a permite acompanhá-lo, dentro da sua casa, numa série de entrevistas onde Greta tentar obter respostas muito simples e muito complicadas: é possível que o estado actual do mundo se deva a uma série de erros cometidos há 20 anos atrás? Poderia a invasão do Iraque ter sido evitada? É um documentário extremamente competente, que enquadra perfeitamente o espectador no assunto, saiba-se muito ou pouco sobre esse período recente da história mundial, tão rico, ambivalente, e permeado de densidades. Uma recomendação claríssima.

Dentro das curtas-metragens, pude já ver algumas, apesar de estarmos ainda a meio do festival, destacando em particular Warsawa, Holandia, de Ming-Wei Chiang, uma óptima curta, certamente das melhores que já vi em contexto académico, e que espero que volte a estar presente em Portugal.
Estivemos nas masterclasses, um dos grandes atractivos do FEST: Direcção de Actores com o britânico Pete Travis, “Navegando o Labirinto da Pós-Produção: Estratégias para o Sucesso” de Polly Duval, que foi responsável recentemente pela produção de Saltburn e continuaremos hoje com “Europa Creative Media – Oportunidades de Financiamento e Mais Além” de Susana Costa Pereira, uma masterclass de edição com o montador de The Father, de Florian Zeller, e uma masterclass com a actriz galardoada Melissa Leo, entre outros eventos. Até breve.