A terceira edição do HaHaArt Film Festival decorreu entre 24 e 28 de Outubro, em Pombal, onde foram exibidas 39 curtas-metragens e 3 longas-metragens, numa atmosfera divertida e descontraída de intensa crítica social, política, cultural e ambiental. Para além da exibição de curtas e longas-metragens e respectivas partilhas e conhecimento cinéfilos, nesta terceira edição houve ainda uma Masterclass cujo tema foi “Writing Funny – Comedic Advices in Film”, presidida por Guillermo García-Ramos que falou de guionismo e sobre como transformar ideias engraçadas num filme de comédia. Houve também uma mesa-redonda, da qual fez parte o crítico David Bernardino, membro da Tribuna do Cinema, e cujo painel teve como tema A Comédia como Agente Subversivo. Nesta mesa, moderada por José Paiva Capucho (jornalista e crítico), juntaram-se também Pedro Souto (director do MotelX); Mónica Santos (realizadora e membro da Academia de Cinema) e Janine Gonçalves (realizadora e programadora). No que diz respeito à exibição de filmes, denota-se que a maioria dos realizadores em competição, muitos entusiasticamente presentes no cine-teatro de Pombal, recorreram a diversos tons de humor e sarcasmo, comprovando que assistem e analisam a presente actualidade social, cultural e geopolítica, uns de uma forma mais assumida e outros preferindo um discurso mais reservado, mas deixando sempre como legado uma relevante crítica ao quotidiano, quer nacional, quer internacional. A multiplicidade de géneros cinematográficos foi extensa, realçando-se sobretudo os subgéneros do terror e da animação, numa cinematografia tão audaz quanto provocadora onde houve espaço para o macabro, o mórbido e o grotesco sempre de mãos-dadas com o riso e o bom humor.
Foram exibidas três longas-metragens. Na sessão de abertura, o loop temporal num spa nas montanhas japonesas de River, de Junta Yamaguchi. O prato forte tinha reservado The People’s Joker, de Vera Drew, e a sessão encerramento ficou a cargo do inacreditável Hundreds of Beavers. É ver para crer, nas três críticas assinadas por David Bernardino:
River de Junta Yamaguchi
O filme que abriu a 3ª Edição do HaHaArt Film Festival veio directamente do país do sol nascente pela mão de Junta Yamaguchi. Uma comédia de situação, com uma profundidade emocional carinhosa e suficiente para transportar 86 minutos de uma narrativa que se insere no conceito de time loop, um período temporal que se vai repetindo, que filmes como Groundhog Day ou Palm Springs já exploraram. No caso de River, o loop é de apenas 2 minutos, focado no ponto de vista da sua protagonista, uma funcionária de um hotel termal no Japão rural. Habilmente Yamaguchi consegue manter o conceito sempre fresco, adicionando camadas narrativas à medida que o filme progride, principalmente quando é apresentado em “tempo real”. A câmara move-se pelo cenário seguindo as várias personagens como se ela mesmo se tratasse de uma personagem, acrescentando ainda a dimensão voyeurística situacional de todas as personagens presas nesta situação. A leveza com que tudo se desenlaça é incrivelmente satisfatória, provando River que por vezes o cinema não precisa de grandes meios para fazer grandes filmes.
David Bernardino
The People’s Joker de Vera Drew
Vera Drew, realizadora transgénero, parece fazer uma espécie de autobiografia focada nesse momento da sua vida em que abraçou a transição. No entanto, The People’s Joker resiste a resumir-se a apenas “mais um” filme que chama a atenção para essa temática, transformando este coming of age em algo mais. Focando a persona da protagonista/realizadora num paralelismo com os super heróis da DC, a Joker Arlequina combate os seus demónios, os demónios dos outros e os demónios da igualdade de oportunidades no Mundo da comédia. Ainda assim o grande mérito do filme irá não só para a narrativa, mas sim para as técnicas de realização e imagem multidimensionais que vão do live action ao digital, passando pela animação, stop-motion, e uma avassaladora utilização de um green screen que inexplicavelmente parece funcionar. The People’s Joker é um filme grande feito com pequenos meios, de aspecto trash, por vezes mesmo sujo, mas que consegue ser original e objectivo o suficiente para se tornar num produto verdadeiramente único e refrescante.
David Bernardino
Hundreds of Beavers de Mike Cheslik
Numa época de remakes e sequelas e reimaginações de todos os tipos do cinema do passado, Hundreds of Beavers parece tapar um buraco que faltava e que dificilmente se compreende que ainda existisse. Serão, como a sua tagline, talvez mesmo milhares (!) de castores. Num verdadeiro híbrido live action com animação, e claramente poucos meios, o filme de Mike Cheslik assume os contornos do humor do cinema mudo (bem como as suas cores: preto e branco, claro), movimentos marionetistas, como Chaplin, aliando-se aos gags dos cartoons americanos da idade de ouro dos anos 50, tais como os Looney Tunes, Tom & Jerry, ou outros de Tex Avery. Hundreds of Beavers é um filme completamente louco, previsível na forma, mas imprevisível na narrativa à medida que acompanha um caçador de peles do séc. XIX norte-americano e a sua busca por troféus peludos numa imensidão branca de neve. Os animais são actores mascarados, como se de um episódio de Trigger Happy TV se tratasse. Se é verdade que a fórmula parece esgotar-se no seu primeiro terço, a narrativa estoicamente combate essa repetição, adicionando camadas e camadas de…castores, deliciando o espectador. O que é afinal um grande filme de comédia? Parece difícil justificar que Hundreds of Beavers não o seja. Após 108 minutos de estupefacção e gargalhada fica o sentimento que uma segunda visualização será ainda melhor. Um filme de comédia audaz, visualmente difícil de aceitar, de tão idiota que é, mas de elevadíssimo efeito. Não há como escapar à evidência de que se existe bom cinema de comédia, este será certamente um dos seus melhores exemplares.
David Bernardino
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Foram ainda exibidas 39 curtas metragens em competição ao longo de várias sessões na 3ª Edição do HaHaArt Film Festival. A Tribuna do Cinema tem um enorme orgulho em ter acompanhado presencialmente todo o festival, apresentando as suas críticas a todas as 39 curtas em competição, um exercício inédito do nosso site e que podem ler em seguida pela mão da nossa equipa:
Les Mystérieuses Aventures de Claude Conseil de Marie-Lola Terver & Paul Jousselin (França) – Melhor Curta-Metragem Internacional
Passarinhos e passarões, numa pitoresca comédia de costumes entre duas gerações. Claude Conseil, ornitóloga septuagenária, descobre-se ao centro de um curioso evento social, quando o seu número de telefone é, pelo mais puro dos acasos, espectacularmente soletrado no novo hit de Leys (cantora francesa, de hip-hop). Espantada, Claude interroga-se sobre o significado de flow ou de twerk, e pasma-se perante a abordagem agressiva ao mundo dos mais novos, tanto nas redes sociais como na própria música que ouvem. Mas parece até concordar com a cantora – aquele seu número (“0-7, 0-5, 0-7, 5-1-3-7, c’est mon num…”) tem uma cadência muito apelativa, enquanto o canta distraidamente por entre as árvores da floresta. E que graça, afinal, na inusitada juventude que lhe enche a caixa de mensagens. Quanto a Leys, a sua voz é um pouco como o canto do fuinha-dos-juncos, algo doce e melodiosa… De singular leveza, Les Mystérieuses Aventures de Claude Conseil inscreve-se numa certa tradição “naturalista” do cinema francês, de herança impressionista. As imagens e os sons do filme são de uma apurada beleza, e tudo discorre com dedicada atenção ao cativante movimento perpétuo das coisas naturais que enquadram a acção. Se o titular mistério parece, nos primeiros instantes, relembrar outro Claude… o Chabrol, a brincadeira será aqui outra. Sob os olhos inquisitivos do mocho, seguindo o passo delicado do veado, ou movendo-se pelas injúrias do corvo, uma obra mais atenta tanto às eventuais lacunas estéticas das novas gerações, como à sua potencial abertura a novos horizontes. E por breves instantes, seremos mesmo levados pela improvável tendência do hip-hop contemporâneo, onde o canto do tordo-eremita (esse que se escondera desde o começo da Primavera!) ou do rouxinol são sons formativos dos novos êxitos na rádio. Uma encantadora surpresa. Resta-nos apenas dizer : Claude Conseil, “balance ton flow!”
Miguel Allen
In The Waiting Room de Moatasem Taha (Palestina) – Menção Honrosa
Em In The Waiting Room, um jovem palestino acompanha a sua mãe a um hospital israelita para uma consulta relativa a um problema neurológico que afecta a sensação em partes do corpo. Moatasem Taha, realizador desta sua primeira curta ficcional, é mais um na vaga de cineastas palestinos formados em Israel, pelo que o seu percurso conta com colaborações frequentes com as duas realidades. In The Waiting Room envereda frequentemente por este choque de culturas mais inocente, casado com uma pitada de conflito geracional. Para o filho Hussein, frequentemente de headphones nos ouvidos e permanentemente agarrado ao portátil, o imperativo é completar um trabalho de pesquisa para a faculdade. Mas a sua mãe, cuja viagem se faz de cabeça de fora da janela do carro, vê aqui a oportunidade de falar com os outros, de matar a solidão, de conhecer outras realidades, seja em hebraico, árabe ou egípcio. Essa confusão linguística leva a que os habituais mal-entendidos, a comprar café em árabe a um vendedor hebraico ou a discutir maleitas em egípcio com uma israelita, tenham um tom mais satírico do que sinistro, tendo em conta a realidade política e social da zona.
A evolução de In The Waiting Room de esta espécie de Lost in Translation, para um drama familiar centrado na perda de laços geracionais por força da necessidade laboral, faz com que a mudança de tom das suas cenas finais pareça menos natural. Aqui, em virtude da morte de um dos pacientes, mãe e filho fazem as pazes, a pretexto de algo verdadeiramente geracional na sociedade palestina: a ocupação. Para a mãe, que já não falava hebraico desde 1948, a data da limpeza étnica palestina do seu território, a reflexão a tirar é estritamente inofensiva e de aproximação dos povos. Para o filho, resta a resignação de quem pensa que é para falar egípcio apenas no Egipto, e a ideia de que as aproximações devem ficar para outro dia. Um dia que nunca mais vem.
Hugo Dinis
Do It Right de Yaroslav Lebedev (Rússia) – Melhor Realizador Internacional
O enterro de um gato, restante e único elo de ligação a uma ex-mulher, tem na sua morte tão súbita quanto gélida o cessar de uma possível reconciliação. Tal como a neve do inverno russo, Yaroslav Lebedev é assertivo e depressivo, mostrando-nos por meio de um humor algo mórbido e constrangedor uma sociedade passiva que não se verga sobre o ridículo e que vê no fogo e no cortar do mal pela raiz um subterfúgio para a dor. Nota máxima para a fotografia e para o contraste dos elementos neve e fogo a par da sua junção a dois cravos vermelhos, símbolos de uma revolução de paz num país agora em guerra.
Rita Cadima de Oliveira
Mestre Bruno e as Macumbas Pérfidas da Bola de André Azevedo (Portugal) – Melhor Curta-Metragem Nacional
Aquela que viria a ser a curta vencedora do prémio nacional no HaHaArt Film Festival é uma homenagem a alguns dos mais memoráveis momentos da cultura futebolística portuguesa, especificamente à Liga dos Últimos, ao lendário Mestre Alves e seu arqui-inimigo, o bruxo de fafe. André Azevedo consegue capturar o espírito dessa patine lusitana, fazendo-lhe frente através da própria produção da curta, que a espaços parece desnorteada em vários aspectos, o que só ajuda a que o resultado final seja ainda mais coeso e equiparável às suas fontes de inspiração.
David Bernardino
Golden Shower de Stella Carneiro (Portugal) – Melhor Realizador Nacional
Golden Shower oferece uma feliz interpretação feminina em torno da subversão do male gaze nas dinâmicas sexuais. Sheila e Martin são namorados que discutem as “perversões sexuais” de conhecidos e famosos envolvidos em escândalos mediáticos em torno dos seus fetiches. Nisto, a conversa de almofada varia naturalmente para a fronteira entre a ideia de perversão, e o desejo de facto. O pretexto para isso é o infame “golden shower” de Donald Trump. Martin procede para o gaslighting convencional (“pensei que tinhas a mente mais aberta“, diz), e finalmente confessa a sua vontade de um “golden shower“. É interessante perceber como Stella Carneiro retrata aqui o processo de consideração de Sheila dentro da sua relação. Por um lado, as amigas avisam-lhe para a condição fundamentalmente interesseira na obtenção de favores sexuais da parte dos homens, mas é Sheila que procura sempre racionalizar a coisa (para Sheila, Martin quis revelar o seu amor por meio de uma piada, como quem não quer a coisa). Por outro, o recurso a uma Influencer Sexual (a própria Stella Carneiro) reforça-lhe a naturalidade do acto dentro de um contexto de uma relação amorosa e recíproca. Assim, a concessão amorosa de Martin desemboca numa cena final titular, que resolve as relações de poder de género e de dinâmica sexual da forma mais ambígua e satisfatória possível.
Hugo Dinis
Chat Mort de Annie-Claude Caron, Danick Audet (Canadá) – Prémio do Público
Curta-metragem estreada em 2023, com grande sucesso, no festival Tribeca (a versão americana, pois claro) e vencedora do prémio do público no festival HaHaArt em Portugal no passado fim de semana. A história centra-se numa família cujo gato Croquete morre e na incapacidade que os pais têm em comunicar à filha que o gato morreu. Através de várias tramas e estratégias, o casal vai adiando aquela que é uma realidade inevitável e difícil de falar: a morte. Uma curta concisa, que combina na perfeição humor e sensibilidade e que tem, no seu centro, uma performance cativante da jovem Lilás-Rose Canton.
Francisco Sousa
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Et Si Le Soleil Plongeait Dans L’Océan Des Nues de Wissam Charaf (Líbano)
Em tons brancos e azuis, entre a ficção e a realidade, com um suave e delicado toque mordaz, If the Sun Drowned Into an Ocean of Clouds é uma curta-metragem sobre o Capitalismo e o monopólio urbano de uma cidade que ainda não existe mas vai existir. De uma forma burlesca e burguesa, é na perfeição e na bizarria que este filme sintetiza Beirute, o percorrer desta cidade costeira tão rica e tão vazia, onde há mais carros do que pessoas. Nesta sátira é-nos mostrado o capricho humano de uma forma ágil, onde os trabalhadores da construção civil se deslocam num tórrido calor como se a cidade tivesse saído do deserto. A sua premissa é tão interessante que Wissam Charaf inclui um ambiente surrealista para abordar a controvérsia de temas como a supressão feminina no mundo árabe, a crescente e imparável construção imobiliária que prejudica os recursos naturais, o poder dos mais ricos sobre os que se ocupam a seguir as suas ordens. No estaleiro de construção da orla marítima, Raed é um agente de segurança que tem como missão impedir o acesso dos transeuntes à beira-mar. Porém, à medida que o horizonte se vai tornando cada vez mais sufocado pela construção, Raed tem encontros peculiares com estranhos que nos são apresentados como meros sonhos ou simbologia dos seus desejos e reais ambições. A génese sonhadora e poética de Wissam Charaf confinam nesta curta temas como a mudança urbanística e a gestão logística de uma cidade com esperanças e aspirações numa fusão entre passado e futuro. No fundo, é um olhar espiritual sobre questões sociopolíticas, sobre a opressão das mulheres no Médio Oriente, sobre a construção imobiliária descuidada e os direitos dos trabalhadores e sobretudo a falta deles. Uma jóia que funde delicadamente o surrealismo com o humor, exaltado uma realidade sociopolítica penosa, de uma forma extremamente leve, agradável e cómica.
Rita Cadima de Oliveira
Ahoj Leto de Martin Smatana, Veronika Zacharová (Eslováquia)
Uma comédia de animação sobre as aventuras e desventuras de ir de férias em família, e as inesperadas situações que possas ocorrer. Malas desaparecidas, hotel mauzinho, praia cheia, tudo rodopiando numa animação divertida e de múltiplas técnicas que vão do desenho, ao stop motion, passando pela arte plástica.
David Bernardino
Fest & Stress de Chris Østergaard Holm & Mads Østergaard Holm (Dinamarca)
O que nasce absurdo, tarde ou nunca se clarifica. Quando Ulrike chega a casa de René para celebrar a sua despedida de solteiro é recebido por Bo, que não conhece, e informado de que a festa foi cancelada – de onde se subentende que o casamento também o terá sido. O que se segue à insistência de Ulrike em cumprimentar René, e entregar-lhe a sua prenda, é uma sucessão de revelações que adicionam novas e desconcertantes camadas de absurdo à trama, culminando num final deliciosamente retorcido. Chris e Mads Østergaard Holm tinham certamente os seus Pinter, Ionesco e Beckett em dia quando escreveram Fest & Stress. O minimalismo da mise-en-scène, que confina 4 atores a um único local, e a filmagem naturalista reforçam a proximidade desta curta-metragem ao teatro dos autores supramencionados, concentrando todo o poder num texto erigido em diálogos circulares, existencialismo, sátira social e subversão de expectativas. Humor de ansiedade e irritações para corações resistentes.
Gil Gonçalves
Rouge Poulet de Laura Ghazal (França)
Uma curta-metragem curta e grossa. Tão crua e tão provocadora que questiona a sensação de confiança ou a falta dela no momento em que duas mulheres se conhecem. Um registo que questiona o feminismo e a capacidade destes dois seres, uma polícia e uma condutora, tão depressa partilharem o melhor que as aproxima como digladiarem-se com o pior que as separa. É no transpor das regras rodoviárias mas também no abuso de poder que este filme incide, mostrando-nos que a autoridade, a conduta do dever e o cumprimento dos direitos são passivos de julgamento por parte de quem detém o poder. E a sorte nem sempre protege os audazes.
Rita Cadima de Oliveira
Montsouris de Guil Sela (França)
Um belíssimo exemplo de como é possível fazer muito com pouco. Montsouris apresenta uma comédia de situação em take único à medida que um grupo, aparentemente de estudantes, procura filmar algo de interessante num parque público, procurando o alvo ideal. O resultado é uma comédia de situação de grande efeito.
David Bernardino
Drainspotting de Andy Oxley & Joshua Gaunt (Reino Unido)
Pedro Barriga
PMS de Ana Pio (Reino Unido)
Nesta curta-metragem, Ana Pio coloca um elefante na sala ao focar-se em Maria, uma malfadada agente imobiliária, entregando-lhe a luta e a persistência de vender um apartamento na véspera de uma vicissitude tão íntima e pessoal como é o aparecimento da sua menstruação. É no recorrer a um tom jocoso e sarcástico que se combinam as adversidades profissionais com a árdua tarefa de conviver com questões íntimas femininas, demonstrando sensibilidade mas também comprovando o carácter persistente e lutador da mulher. Nota menos positiva para o uso abusivo de alguns clichés, mais concretamente a pouca criatividade da temática explorada.
Rita Cadima de Oliveira
Handyman de William Findinge (Dinamarca)
Um chamado faz tudo com dificuldades em comunicar, com bom coração, e que não deixa nada a meio, vê-se perante uma tarefa fora da sua caixa de ferramentas. O resultado é uma comédia fria e kármica repleta de dead pan humour tipicamente nórdico, que cruza os mundos limpo e sujo com consequências sangrentas, claro está.
David Bernardino
Please Make It Work de Daniel Soares (Portugal)
Daniel Soares consegue germinar alguma ansiedade no público através deste long shot paisagístico, criando uma curta-metragem de cariz bastante actual, na qual Cláudia, uma imigrante portuguesa que limpa sofisticados Airbnb’s nos Alpes suíços, é constantemente pressionada por um patrão exigente e desencorajada por uma filha pouco afável e nada prestável. A juntar a isto, há todo uma forte presença montanhosa e o vento que dela advém, tendem a prejudicar a sua já desajeitada vida. Apesar da pertinência da mensagem, Daniel Soares faz um filme panorâmico, sempre em plano aberto quando se exigia algum close-up. Nem que seja pela forma como somos espicaçados pela curiosidade de conhecer o aspecto físico destas personagens tão intrigantes e representativas de uma classe social desorientada e saturada pelas pressas e exigências laborais com o único propósito de corresponder à satisfação de terceiros tão robóticos quanto ausentes. Quiçá uma bonita homenagem aos nossos que estão lá fora.
Rita Cadima de Oliveira
Sweet Juices de William Suen & Sejon Im (Austrália)
Formalmente inventiva, mas grotesca em conteúdo, Sweet Juices é uma daquelas curtas metragens que parece estar mais preocupada em provocar sensações gratuitas no espectador do que propriamente em criar uma identidade além-grotesco. Salva-se a audácia da realização, mas é difícil sustentar o seu intuito provocatório.
David Bernardino
Fishmonger de Neil Ferron (Estados Unidos)
Assumindo laivos de body horror, Fishmonger é sobretudo um conto de moral católica, que aborda questões de vergonha social e repressão sexual. Criado por Neil Ferron, também responsável por videoclipes dos icónicos Shabazz Palaces, com cinematografia claustrofóbica ao estilo de The Lighthouse (Eggers) de Jack MacDonald, Fishmonger conta a história de Christie, um aldeão cuja mãe se encontra às portas da morte pela sua incapacidade de encontrar uma parceira com quem se casar. A única solteira da povoação, Penny, a sua potencial tábua de salvação, recusa qualquer contacto, pelo que é o padre local que oferece esperança, ao sugerir que a redenção poderá ser alcançada alternativamente com a busca por uma estranha criatura marinha que forçaria a solteira a aceitar a mão de Christie. Desde logo, o sentido de culpa católica é forçado e reforçado: a doença da mãe foi causada pelo próprio Christie, pelo que a reprovação, intensamente pública e invectivante, é constante.
O contacto com a criatura marinha, embora relutante e envergonhado, tem o condão de confrontar Christie com os seus próprios terrores católicos de falta de aceitação por parte da pequena sociedade ultra-religiosa, mas também com o seu desejo último de se quebrar deles. Sinead, a criatura monstruosa do mar a fazer lembrar Tourneur, cumpre o desejo de Christie, ainda que de forma condicional, remetendo-o a uma experiência sexual tentacular, e sobretudo com o senão de se apoderar do corpo da solteira Penny. A partir daí Ferron constrói um encadeamento romântico, e necessariamente grotesco, para expor ao ridículo o casamento enquanto contrato social e sacramental. É, de facto, impressionante a capacidade de Fishmonger de encaixar diversas variações tonais e temáticas dentro dos constrangimentos dos 24 minutos de duração. Aliás, essa vertigem que contrai dívida ao Gilliam de Brazil ou Fear and Loathing in Las Vegas, é muito mais interessada no idealismo do primeiro, colocando sempre Christie como figura anti-heroica, do que no pós-modernismo do segundo.
Hugo Dinis
Aproveche La Infancia Que Luego Va La Vida de Mauro Maroto Megino (Espanha)
Apesar da sua génese subjectiva e fantasiosa, estamos perante uma curta-metragem deveras actual e repleta de simbolismos. A percepção do seu conteúdo certamente varia consoante a geração que a vê. Das muitas hipóteses existentes, o espectador poderá ver neste filme um pai e uma mãe que foram adiando a maternidade para uma idade tardia e cujo filho vai permanecendo no lar em formato de total dependência parental; por outro lado, há quem aqui veja uma crítica à excessiva protecção parental que vai tornando alienada uma nova geração que permanece à sombra do conforto dos pais e com óbvias dificuldades em se desembaraçar económica e socialmente. A minha ainda curta experiência de vida levou-me a assumir que este exercício retrata apenas uma realidade europeia comum: agregados familiares cada vez mais reduzidos e mulheres que se materializam em mães numa idade cada vez mais tardia. Porém, todas estas hipóteses têm um inimigo comum que se faz representar pelas sensações de medo e de solidão cuja separação entre pais e filhos exalta e é a principal culpada do excesso de zelo e de um overthinking geral no que à paternidade e maternidade diz respeito.
Rita Cadima de Oliveira
O Procedimento de Chico Noras (Portugal)
O Procedimento já havia sido o vencedor de melhor curta de terror portuguesa no Motelx 2024, mas acabou por não o ser no HaHaArt Film Festival. Uma comédia absurdista acerca do fim de vida útil do ser humano quando a professora brilhantemente interpretada por Paula Só atinge a idade da reforma. A metáfora é óptima, principalmente quando nos seus sonhos habita um Jesus Cristo muito apetecível, pronto a recebê-la no paraíso.
David Bernardino
O Incidente da Galinha de João Ferreira (Portugal)
João Ferreira reúne nesta fábula com laivos de noir os conceitos de ganância e avidez, abordando-os de uma forma tão teatral quanto subjectiva. A galinha dos ovos de ouro é o objecto de cobiça de inúmeras personagens que desprovidas de moral e das suas complexidades vão sem rodeios e sem receio de consequências, tudo fazer para capturar a galinha no breu da noite. Apesar de se verificar algumas falhas no jogo de luzes utilizado durante a filmagem e também na lógica das cenas, o jovem realizador demonstra habilidade na ficção, esperando-se mais trabalhos desta jovem equipa.
Rita Cadima de Oliveira
Tierfakten de Lars Mulle (Suíça)
Um filme curioso que une os gags da comédia de situação a uma linguagem pulp multi-episódica e multi-personagem, todas unidas por animais nos mais variados formatos. Tierfakten é altamente consistente, nunca treme, e aquece o coração por breves momentos. É também, de certa forma, uma inexplicável dose de nostalgia de uma certa linguagem cinematográfica do final dos anos 90.
David Bernardino
To the Brink de Hugo Docking (Reino Unido)
Uma comédia em stop-motion, musical, e como se não bastasse, a piscar o olho a um certo terror gótico Tim Burtonesco. To the Brink retrata o eterno combate entre o bem e o mal na consciência do débil indivíduo. Com um visual literalmente mecânico, observamos molas, metal e outros gadgets em movimento, em perfeita união com uma banda sonora que dá vontade de acompanhar com aplauso.
David Bernardino
Superdupermegagigasingle de Håkon Anton Olavsen (Noruega)
Dramedy, young adult, awkward, meet cute, will they / won’t they, cringe, Tumblr vibes. Todos estes termos vêm à cabeça como um conjunto de hashtags num motor de pesquisa, quando vemos Superdupermegagigasingel. A curta de Håkon Anton Olavsen pouco mais faz do que compor um moodboard a partir desta junção de conceitos. E ainda que no plano técnico pouca coisa se possa apontar a este trabalho (tudo competentemente filmado, montado e iluminado), é precisamente no facto de parecer demasiado um trabalho que reside o seu principal problema. Não há uma ideia nova na história de Vebjørn, jovem adulto que nunca teve uma namorada, até que conhece uma rapariga apenas ligeiramente mais ajustada aos (para ele) inescrutáveis caminhos da convivência social. Tudo, do encontro ao conflito causado pelas inseguranças dele (e as amigas dela), decorre exatamente como esperado. As personagens são modelos ready-made, com problemas e sensibilidades mais pálidas que uma parede acabada de caiar. A escolha de guião para a profissão do protagonista – mascote num resort de ski – tinha potencial. Muito podia ser retirado daí, tanto a nível de comédia como de sátira social, mas o filme – correspondendo, desta vez, a um cliché da produção escandinava do nosso tempo – escolhe usar este recurso narrativo apenas como dispositivo sádico para reforçar o estatuto de loser desta personagem. Assim, o que vemos é uma condensação do romance indie ao seu estado mais básico, despido de tudo o que o pode tornar minimamente interessante. Insípido, apolítico e sem ponta de graça.
Gil Gonçalves
Cosas de Niños de Bernabé Rico (Espanha)
O início, uma montagem slow-motion ao som de Sexy Boy, dos Air, é hilariante. O filme evolui para um debate absurdista acerca do que é ou não apropriado crianças levarem vestido no carnaval. Enquanto os adultos discutem, as crianças pouco se importam. Talvez a moral da história seja demasiado “in your face”, mas é suficientemente idiota para funcionar.
David Bernardino
Basri & Salma In A Never-Ending Comedy de Khozy Rizal (Indonésia)
Khozy Rizal adorna de uma forma algo absurda e violenta uma questão bastante actual que é a escolha dos casais em não ter filhos. Nesta curta-metragem, Basri e Salma, representam um casal casado há cinco anos, financeiramente independente, proprietários de um carrossel numa feira popular e sem filhos. Passando os dias a entreter e a tomar conta dos filhos dos outros, ter filhos próprios não parece uma opção. Toda a panóplia de cores e cenários que este filme adopta está excepcionalmente executada, no entanto, a mudança rápida de planos e a insistência numa elevada violência física mas também nos diálogos, leva a que este exercício cinematográfico que poderia ter sido uma exemplar crítica aos familiares intrometidos, à dúvida e aos confrontos explosivos, fugisse para um lado decadente, desumano e que cria pouca ou nenhuma conexão com o público.
Rita Cadima de Oliveira
À Mort Le Bikini de Justine Gauthier (Canadá)
Justine Gauthier debruça-se de uma forma sábia mas gentil sobre questões juvenis, incidindo em Lili, uma menina de 10 anos, que se revolta quando os pais a obrigam a usar a parte de cima de um biquíni, apesar de sempre ter nadado em topless. Não tão focada nas actuais questões de género mas sim na transição infanto-juvenil, Justine Gauthier questiona porque razão todos os amigos rapazes de Lili não têm de o fazer e a recém-adolescente sim? Apesar do tom ligeiro e divertido, trata-se de uma curta-metragem pertinente e importante no que respeita à exemplar abordagem de temas como o livre-arbítrio, a identidade feminina e o sentimento de pertença.
Rita Cadima de Oliveira
Boussa de Azedine Kasri (Argélia)
Um filme bonito acerca de um jovem casal impedido de se beijar em público pela sociedade islâmica onde se insere. De uma forma ou outra, ambos procuram artimanhas que lhes permita selar o tão apetecido beijo. A solução é um curso de respiração boca a boca, evidentemente. Tudo em Boussa (beijo) funciona, mas nada é suficientemente impactante para evitar o solitário bocejo.
David Bernardino
Tudo Menos Filmes de Afonso Mota e Lourenço Crespo (Portugal)
No palco perguntam a Lourenço Crespo como é possível distanciar-se do facto de frequentar com regularidade o local onde esta curta foi realizada. E o realizador responde que foi precisamente numa ida ao IndieLisboa, no Cinema São Jorge, que a mesma foi filmada. “Tudo Menos Filmes” é uma representação expressiva ao estilo nouvelle vague da realidade de um equipamento cultural, retratado a preto e branco por motivos de guarda-roupa, que nos remete para o lado sensorial e imagético daquele cinema lisboeta onde a maior parte dos cinéfilos se encontra e sente em casa. É impossível não sentir uma conexão com esta obra e com toda a atmosfera que a circunda. A magia envolvente do São Jorge e dos seus espaços circundantes são aqui representados pela rua do Salitre e pela rápida fruição dos seus restaurantes entre sessões de qualquer Festival. A mim trouxe-me à memória o tempo perdido entre difíceis estacionamentos na zona e o fazer figas para conseguir entrar no São Jorge pela porta das traseiras. Claro que tudo isto depende do Segurança que lá estiver. Seja para ver filmes, seja para apoiar amigos na première do seu primeiro filme, seja até mesmo para experienciar um sono naquelas cadeiras, talvez o mais importante seja ir para que possamos ser envolvidos pela beleza deste icónico espaço que é certa e merecidamente homenageado neste trabalho.
Rita Cadima de Oliveira
Nun or Never! de Heta Jäälinoja (Finlândia)
Aquilo que mais brilha em Nun or Never! é a sua divertida animação. Fora isso, o filme finlandês é mais do mesmo acerca das pressões religiosas e sexualidade, harmonia e liberdade. É tudo muito bonito, mas parece um filme já mastigado várias vezes, tornando-se rapidamente repetitivo e irrelevante.
David Bernardino
But What Does It Mean? de Julie Ecoffey (Suíça)
A suíça Julie Ecoffey consegue em quatro minutos realizar uma cativante, engraçada e bem executada curta na qual uma jovem recebe pela janela uma misteriosa carta presa a um tijolo. Intrigada pede ajuda a um dos seus amigos para que juntos traduzam o conteúdo da carta, procurando encontrar mais informações sobre o seu autor. Apesar da animação ser simples, o seu conteúdo é cómico e suave, cumprindo bem o seu propósito.
Rita Cadima de Oliveira
Ups! de Galvão Bertazzi & Luís Canau (Portugal)
Divertida curta metragem de animação portuguesa acerca do stress incutido a um jovem provocado pelo quotidiano acelerado de uma grande cidade. O trânsito, os incessantes ruídos que entram pela janela, os pais que discutem permanentemente, a irmã que não o deixa em paz. A expectativa de um domingo de praia tranquilo colide com o caos que na realidade se verifica, agudizando em vez de apaziguar. Felizmente um buraco na areia absorve tudo à sua volta, garantido por fim, à criança (e ao espectador), um momento de calma e tranquilidade. Animação original ainda que um tanto didática.
Bruno Victorino
Filmen Känns För Vit de Sebastian Johansson-Micci (Suécia)
“Talvez o filme seja branco” é a tradução livre desta curta sueca que vem por a nú a problemática do politicamente correcto e das pressões sociais e profissionais que se encontram um pouco por toda a sociedade ocidental actual. O contexto é um vídeo promocional encomendado por uma escola sueca a um grupo de realização, mas cujo resultado é demasiado… branco. Um vídeo que inicialmente é perfeito torna-se um problema à medida que as personagens vão desmontando o seu quebra-cabeças do que pode ou não pode ser.
David Bernardino
Kakor de Alessandro Stigliano (Suécia)
O humor grotesco e extremamente actual é perfidamente expresso nesta curta-metragem sueca que eleva o seu cariz gráfico e escatológico sem rodeios nem pudor. Stigliano tem o dom de conseguir criticar avidamente um dos temas mais actuais da sociedade, a frustração de um jovem programador que tenta equilibrar virtuosamente a vida profissional com a recém vida parental. É no constante desrespeito das chefias e na subvalorização das suas competências à frente dos colegas que este trabalhador encontra forma de canalizar toda a raiva acumulada…para e na cozinha. A solução não é mais do que oferecer diariamente aos colegas do escritório muffins e cupcakes de aspecto divinal mas devidamente recheados com o conteúdo das fraldas do filho bebé. Apesar da premissa comum, Alessandro Stigliano oferece-nos momentos desconfortáveis e cretinos, cumprindo a promessa de entreter a audiência pelo riso e pelo nojo.
Rita Cadima de Oliveira
La Alegría! de Tomás Pernich (Argentina)
La Alegría! é um filme algo sombrio e rugoso que joga com os arquétipos infantis de personagens como o Mickey, Spider Man, Aladdin ou Cinderella. Essa linguagem algo trash, que mostra o lado “low budget” por trás da máscara de quem a veste, tem dificuldade em ligar-se ao absurdismo de ver estas personagens em situações da vida real, impedindo o filme de cumprir todo o seu potencial.
David Bernardino
Nivel Dios de César Tormo (Espanha)
Uma jovem rebelde encontra Jesus – não o Cordeiro de Deus, mas o novo professor de Educação Moral. Nivel Dios é uma comédia romântica sobre as paixões intensas que tantos adolescentes sentem pelos seus professores. Um despertar sexual que levará Laura a um despertar cristão. Ela fará um pouco de tudo no seu caminho para a fé, desde assistir a vídeos motivacionais sobre religião, fazer um altar aos dois Jesus da sua vida (o bendito e o terreno), sonhar com Ele, e admitir a tudo e todos as suas más ações passadas. Curta divertidíssima sobre amar a Jesus.
Pedro Barriga
Hito de Stephen Lopez (Filipinas)
Jani, 14 anos, é mais uma adolescente que se arrasta num mundo distópico, opressivo e desprovido de empatia. Atrapalhada pelos toques militares de recolher obrigatório e pela acidez dos reactores nucleares, a jovem adolescente vê em Kiefer, um peixe-gato falante, um aliado para preparar um golpe surrealista e psicadélico pela liberdade. Antes da sua exibição somos alertados para a fotossensibilidade que pode resultar do visionamento desta curta-metragem que é indubitavelmente a mais química, tóxica e alucinogénica do programa do HaHaArt Festival, deixando qualquer um em transe e em estado psicadélico. Nela não se procura uma lógica ou razoabilidade, mas sim o material físico e sonoro escolhidos para representar esta viagem delirante. Infelizmente, acaba por nem ser experimental nem trazer propriamente qualquer tipo de criatividade aos multiversos deste subgénero.
Rita Cadima de Oliveira
Good Boy de Tom Stuart (Reino Unido)
O início é particularmente prometedor, com duas ou três imagens que esboçam sorriso aos mais sisudos, mas Good Boy tem dificuldade em ligar a sua quantidade excessiva de ideias nos seus 16 minutos. Parece que tudo é gratuitamente enfiado no produto final, dando mais trabalho do que pistas ao espectador que genuinamente pretende descodificar uma narrativa que se apresenta complexa, mas que nunca realmente se justifica.
David Bernardino
Rachid de Rachida El Garani (Bélgica)
Uma curta-metragem que parece obedecer a todos os tópicos da agenda política e social actual, que dá como check a existência de um jovem de 21 anos chamado Rachid, de ascendência marroquina e que tem como objectivo máximo encontrar um emprego. Apesar da sua autoconfiança, firmeza e assertividade, Rachid é só mais um jovem à procura de um emprego decadente num mundo ainda mais decadente. Rapidamente descobre que a vida nunca acontece como o planeado e é aqui que Rachida El Garani perde para o elevado número de clichés utilizados, para a artificialidade da filmagem e para a tão pisada plasticidade daquilo que parece ser só mais um filme sobre a geração tiktok.
Rita Cadima de Oliveira
Two Royals de Mar Sudac (Estados Unidos)
Um casal de nobres de candeias às avessas num mundo contemporâneo decide animar-se com um bobo da corte, neste caso um comediante, com vista à reconciliação. Infelizmente nada parece funcionar… Two Royals não é engraçado, é desinteressante, e não consegue libertar-se de uma certa aura de pretensão.
David Bernardino