Se é verdade que a maior parte dos realizadores prefere ficar atrás da câmera, há outros que têm um papel mais ativo à frente da lente. Cineastas como Charlie Chaplin, Jacques Tati e até Kevin Costner acumularam muitas vezes o papel de realizador e de protagonista nos seus filmes. Outros realizadores optam por ter um papel de menor relevo e aparecem no filme através de cameos ou de personagens secundárias. Alfred Hitchcock, por exemplo, um dos mestres do Suspense, aparece brevemente em muitos dos seus filmes. M. Night Shyamalan, cuja obra é largamente inspirada em Hitchcock, é outro destes exemplos: desde protagonista até a papéis que passam despercebidos, o realizador indiano, naturalizado norte-americano, gosta de estar à frente da câmera. Numa carreira no grande ecrã com mais de 30 anos e 15 filmes, recheada de altos e baixos, M. Night Shyamalan só não aparece nos filmes Wide Awake (1998), O Último Airbender (2010), Depois da Terra (2013) e A Visita (2015).
Praying with Anger (1992)
A estreia do realizador norte americano, financiado pela família e amigos, conta a história de um jovem indiano que vive nos Estados Unidos da América e que volta à Índia como parte de um programa da universidade que frequenta. Um dos filmes mais autobiográficos de M. Night no qual o próprio realizador interpreta o protagonista do filme – Dev Raman. Foi o primeiro filme de um promissor realizador que viria a ser apelidado do sucessor de Steven Spielberg.
O Sexto Sentido (1999)
O terceiro filme de M. Night, depois do lançamento de Wide Awake, foi o seu primeiro sucesso comercial e catapultou-o para o estrelato. O Sexto Sentido, nomeado para 6 Óscares e com uma receita de mais de 650 milhões de dólares, consagrou o realizador norte-americano como o rei dos plot-twists, com a célebre frase “I see dead people”. No filme, M. Night tem o seu primeiro cameo como médico – Dr. Hill, uma homenagem aos seus pais, ambos médicos, que queriam para o filho uma vida ligada à medicina.
Unbreakable (2000) / Fragmentado (2016) / Glass (2019)
Um ano depois do enorme sucesso de O Sexto Sentido, M. Night regressou com O Protegido com Bruce Willis mais uma vez no papel principal. Numa altura em que filmes de super-heróis não eram uma constante em Hollywood, este filme surpreendeu com o seu tom sombrio e dramático. A história segue David Dunn (Willis), um homem que, ao sobreviver a um acidente de comboio, descobre que possui capacidades sobre-humanas. Depois de conhecer Elijah Price (Samuel L. Jackson), dono de uma loja de banda desenhada e que sofre de osteogénese imperfeita, Dunn é convencido que é um super-herói. O Protegido pareceu à data um filme único, mas com o decorrer dos anos, tornou-se parte de uma trilogia que também inclui Fragmentado (2016) e Glass (2019). Nos três filmes, M. Night aparece brevemente como Jai, um drug dealer no primeiro filme, mas que em Fragmentado deixou esses dias para trás e trabalha agora como segurança.
Sinais (2002)
O quinto filme de Shyamalan, Sinais, segue Graham Hess (Mel Gibson) um padre que começa a duvidar da sua fé depois da morte da mulher num acidente de carro. Enquanto cria os seus filhos com ajuda do irmão (Joaquin Phoenix), estranhos aparecimentos de símbolos alienígenas começam a ocorrer em todo o mundo. Em Sinais M. Night interpreta Ray Reddy, o homem responsável pela morte da mulher de Graham. Um papel que exigiu bastante ao realizador e que, para muitos, não esteve ao nível que a personagem e o momento requeriam. No entanto, a prestação de Shyamalan não prejudica o filme que, para muitos, continua a ser o melhor do realizador norte-americano.
A Vila (2004)
Numa vila da Pensilvânia, no século XIX, os habitantes vivem com medo das criaturas que habitam a floresta que rodeia a localização. Num twist tão característico de Shyamalan, percebemos rapidamente esta é uma vila cercada e que na verdade estamos no século XXI. Quando a Ivy (Bryce Dallas Howard), a protagonista cega do filme, sai da clausura da vila para o mundo moderno encontra dois guardas florestais, um dos quais Shyamalan. Em 2004 o filme foi recebido de forma negativa, mas tem vindo ao longo dos anos a ser reavaliado e tem cada vez mais defensores.
Lady in the Water (2006)
Para muitos, Lady in the Water marca o início da fase negra da carreira de M.Night (continuando com O Acontecimento (2008), O Último Airbender (2010) e Depois da Terra (2012), da qual só viria a sair com O Fragmentado (2016). Um falhanço junto dos críticos e das audiências, não ajudou o facto do realizador ter um papel secundário no qual interpreta um escritor visionário, Vick Ran, que iria mudar o mundo com a sua arte. Uma escolha indulgente e algo narcisista.
O Acontecimento (2008)
O Acontecimento retrata um vírus que se espalha através das plantas e que leva os humanos a cometerem suicídio. Com Mark Wahlberg e Zooey Deschanel nos papeis principais, o filme é um B-movie com uma premissa interessante, mas com uma execução incoerente. Um dos cameos mais subtis e difíceis de encontrar da carreira do realizador, no qual empresta a sua voz a Joey, uma personagem que apenas se ouve no filme em chamadas com a protagonista Alma.
Presos no Tempo (2021)
Depois de terminar a trilogia que começou com O Protegido (2000) e terminou com Glass (2019), Shyamalan regressou com um argumento original, na qual um grupo de turistas decide passar férias numa praia paradisíaca. No entanto, e sem saber porquê, estes começam a envelhecer rapidamente reduzindo a sua vida a um único dia. Um filme que dividiu críticos e audiências, mas que não deixou de ser um sucesso de bilheteira. Em Presos no Tempo, o realizador tem um dos seus cameos mais interessantes ao interpretar o condutor que transporta os turistas do resort para a praia.