Dossier Hayao Miyazaki, Vol. VIII – A Viagem de Chihiro

Um feliz acaso que, neste Dossier Hayao Miyazaki, me tenha cabido escrever sobre o seu filme que mais aprecio: A Viagem de Chihiro.

O título original – Sen to Chihiro no Kamikakushi – traduz-se literalmente para algo como “Sen e Chihiro escondidos pelos deuses”. A sua história é a de uma rapariga, Chihiro, que se vê aprisionada num mundo de espíritos, depois dos seus pais terem sido transformados em porcos. Para reverter o feitiço, a jovem terá de trabalhar para uma bruxa que gere uma sauna para almas. Há muito que Miyazaki nos tinha habituado às suas ideias rocambolescas – basta ver o autocarro em forma de gato de O Meu Vizinho Totoro, ou o deus-javali que amaldiçoa Ashitaka em A Princesa Mononoke – mas nunca as suas ideias foram tão delirantes como em A Viagem de Chihiro.

A sua imaginação é inesgotável e não se limita apenas à narrativa. O que Miyazaki alcança neste filme em termos visuais é verdadeiramente incrível. Desde um toque na testa que ilustra todas as escadas, portas e divisões a percorrer, a um gesto mágico que arrasta Chihiro através de uma série de corredores. Desde Haku a guiar Chihiro por um caminho de flores, a uma maré de bonecos de papel em perseguição de um dragão. São sequências de uma criatividade visual raramente vista.

Se há um filme de Hayao Miyazaki que seja pura magia, é A Viagem de Chihiro. Aquele que reúne animação deslumbrante, a criação minuciosa de um mundo fantástico, uma das melhores bandas sonoras do lendário Joe Hisaishi,  e um rol de personagens fascinantes. Surpresa maior é o facto de este ser apenas um dos muitos filmes do mestre japonês a conciliarem todos estes aspetos.

Pedro Barriga