Dossier Denis Villeneuve, Vol. III – Prisoners

Pedro BarrigaMarço 25, 2024

O ano de 2013 viu nascer o primeiro filme de Denis Villeneuve na língua inglesa. Prisoners decorre na cidade fictícia de Conyers, no estado da Pensilvânia. É Dia de Ação de Graças e as famílias Dover e Birch juntam-se para comemorar o feriado. Não tarda até a festa ser interrompida pelo desaparecimento repentino das filhas mais novas dos dois casais. O principal suspeito é Alex Jones (Paul Dano), homem com deficiência intelectual cuja autocaravana se encontrava estacionada perto do local do crime. A polícia interroga-o mas conclui que ele não é o culpado, conclusão que o religioso Keller Dover (Hugh Jackman) prontamente rejeita.

A partir deste ponto, Prisoners divide-se em duas linhas de investigação: a legal e a ilegal. O detective que sonda suspeito a suspeito, e o pai que faz justiça pelas próprias mãos. O calmo e ponderado Gyllenhaal, e o desesperado e consequentemente cruel Jackman. Duas faces da mesma moeda, exemplarmente interpretadas pelos dois atores.

Prisoners é um thriller que em muito faz lembrar Zodiac (2007) de David Fincher, ambos policiais protagonizados por Jake Gyllenhaal nos quais o mal parece estar sempre ao virar da esquina. Uma atmosfera de terror, cuja temperatura vai progressivamente subindo ao longo do filme, como a tortura escaldante a que a personagem de Dano é sujeita.

Neste filme sobre pecados, o próprio Villeneuve cai em certas tentações. Usa e abusa da banda sonora do islandês Jóhann Jóhannsson, eficaz por certo, mas demasiado presente. Não escapam também diálogos de telenovela, principalmente quando se trata da personagem de Grace Dover (Maria Bello), mãe de uma das raparigas desaparecidas. “You told us that you could protect us from everything” ou “He’s a good man” são alguns dos clichés a que o argumento de Aaron Guzikowski não resiste.

É interessante notar que Prisoners teve um orçamento de 46 milhões de dólares, quantia pálida quando comparada com os 190 milhões do novo blockbuster de Denis Villeneuve. Em retrospetiva, Prisoners destoa bastante da filmografia recente do realizador, constituída essencialmente por sci-fis de carácter épico: ArrivalBlade Runner 2049 e agora as duas partes de Dune. É um facto que Villeneuve deixou a sua era fincheriana em troca da escala nolaniana.

Pedro Barriga