Dans le Noir du Temps, de Jean-Luc Godard (2001): Imagem vs. Palavras

Rita Cadima de OliveiraSetembro 23, 2024

A nostalgia e o saudosismo são compactados nesta curta-metragem, Dans le Noir du Temps, na qual Jean-Luc Godard concentra todas as suas tormentas e paixões. As temáticas vastamente exploradas ao longo do seu percurso criativo, são, neste filme, rapidamente cronometradas. Porém, suficientemente resumidas de forma a compreendermos os valores, emoções e sensações que o guiavam.

A Juventude como início, a Coragem como alavanca, o Pensamento como motor e a Memória como guia. Memória esta que ao ser abalada pelo Amor, torna-se na mistura explosiva que tanto origina a História e abre janelas ao Medo e ao Silêncio. É do Medo e do Silêncio que nasce a contemplação. Toda esta gama de vivências e sentimentos parecem impossíveis de transportar para a tela, no entanto, Godard teve uma capacidade exímia de as representar no seu Cinema, ou melhor, na Eternidade. Tudo está conectado e Godard soube transmitir-nos isso sem lapsos.

Dans Le Noir du Temps (2001) tem a curta duração de dez minutos e quarenta e cinco segundos mas é tempo que baste para que a nossa compreensão seja totalmente sensorial. O impacto do som e da imagem expressa-se de forma a entendermos o resumo da sua obra de uma forma apocalíptica e crua, só restando tempo para a agonia da realidade.

Quando já não queremos nada é porque já tivemos tudo, e, no entanto, Godard diz-nos que nunca deverá haver limite no que concerne ao conhecimento e à aquisição do saber. Saber este que se deve aos livros. E os livros não têm um número exacto que componha quantitativamente a nossa instrução.

Quando comunicamos um acontecimento é porque este já acabou. Cessa no momento em que as palavras o conseguem descrever. Tudo tem um início e um fim.  A morte tanto pode ser encarada pelo desejo de saber a hora da sua chegada como pela ignorância relativamente à sua concretização. O fim é a morte. E Godard morreu.

Artigo originalmente escrito em Setembro de 2022

 

Rita Cadima de Oliveira