Críticas a Wicked, de Jon M. Chu

EquipaDezembro 24, 2024

Prequela do essencial The Wizard of Oz (Victor Fleming, 1939), Wicked é a adaptação cinematográfica do musical da Broadway com o mesmo nome. Primeira parte de um díptico (o filme conta o primeiro dos dois actos do espectáculo de palco), a produção tem sido um enorme sucesso de bilheteira e uma verdadeira tendência nas redes sociais – seja pelas reacções mais do que entusiásticas do público, seja pelas performances nauseantes das duas actrizes principais nas entrevistas promocionais – e há quem o aponte como um dos grandes favoritos para os Óscares deste ano (embora a Tribuna discorde). Com Cynthia Erivo no papel de Elphaba e Ariana Grande como Glinda, Wicked conta a história das duas jovens antes de se tornarem, respectivamente, a Bruxa Malvada do Oeste e a Bruxa Bondosa do Sul. Os dois tribunos de estômago mais forte foram ver o filme e deixam-nos aqui suas críticas.

 

Wicked – ou melhor, Wicked: Parte I – conta a história de duas jovens, rivais de início e amigas com o tempo. De unadulterated loathing a unlimited together. O filme aborda também temáticas como a discriminação ou a forma como algumas classes prosperam à custa de outras. Os maiores trunfos desta adaptação ao grande ecrã são, indubitavelmente, as interpretações das duas protagonistas. Cynthia Erivo é bastante boa, mas Ariana Grande é a estrela: carismática, hilariante, perspicaz. Infelizmente, o filme em si não possui o encanto das suas atrizes. Primeiro, o mundo que cria não se parece nada com a Terra de Oz, mas sim uma visão dessaturada saída do Wizarding World of Harry Potter. Adicionalmente, os números musicais são longos, caóticos, e com demasiadas coisas a acontecer ao mesmo tempo. Há uma cena em particular, que decorre numa biblioteca, que é iluminada da forma mais absurda concebível, com luzes de fundo cegantes que ofuscam os próprios atores. O efeito é desagradável e insuportável à vista. É esta a prequela do gloriosamente colorido O Feiticeiro de Oz? Ficaremos holding space para a Parte II.

Pedro Barriga

 

Adaptado do influente livro/musical que nos anos 90 se atreveu a “reimaginar” O Feiticeiro de Oz, tornando-se numa espécie de “paciente zero” para um modelo narrativo abraçado nas décadas seguintes por uma indústria americana órfã de ideias e “refém” da propriedade intelectual, Wicked chega-nos como um desses tais “eventos cinematográficos” do ano, que se traduzem em milhões de dólares de bilheteira e prémios dos mais variados cantos da indústria. Mas o que se esconde para lá de todo o hype de redes sociais e campanhas virais de marketing? De forma resumida: uma laboriosa e cansativa “primeira parte” de 3 horas, quase tão longa como o musical que adapta e que testa a paciência do espectador, ao mesmo tempo que mina as evidentes qualidades da sua equipa técnica e principais estrelas.

Jon M. Chu, que antes já tinha assinado o globalmente positivo (não por mérito próprio) Ao Ritmo de Washington Heights, não sabe o que fazer com a câmara durante grande parte das sequências musicais, espetando os atores em grande plano e entrecortando furiosamente por momentos desconexos que tornam impossível seguir o ritmo da coreografia e, por isso, da história. Além disso, a insistência num estilo de iluminação plano e uniforme, com primazia dada a pontos naturais de luz, produto de uma absurda insistência no “realismo”, dá à imagem um aspeto “deslavado” que é a antítese do sonho Technicolor do filme original da MGM. Há momentos bem conseguidos (a sequência ao som de “Dancing Through Life” é um ponto alto) e um conjunto de atuações fortes — Ariana Grande e Jonathan Bailey são presenças inegavelmente carismáticas, e Cynthia Erivo imprime genuína emoção a “Defying Gravity”, joia da coroa da banda sonora e clímax do filme. Mas sabe inegavelmente a pouco, e no final ficamos apenas com a certeza de que para o ano teremos de fazer tudo isto outra vez — e com mais vontade de assistir ao espetáculo da Broadway do que propriamente em nos sujeitarmos à futura segunda parte.

André Antunes