Críticas a Twisters, de Lee Isaac Chung

EquipaJulho 24, 2024

Há muito que os disaster movies deixaram de ser um dos subgéneros mais badalados entre os blockbusters, mas o sucesso de que Twisters tem gozado, junto de público e crítica, prova que talvez continue a haver procura, tantos anos depois. Esta sequela do (quase) homónimo Twister (filme de 1996, realizado por Jan de Bont), aposta em dois nomes muito reputados desta geração – Glen Powell e Daisy Edgar-Jones – e num verdadeiro ataque aos sentidos, por via de ação frenética e efeitos especiais. Dois tribunos foram ver para onde estes ventos os mandavam e deixam-nos, agora, as suas críticas a Twisters, de Lee Isaac Chung.

 

Em 1996 Jan de Bont realizaria um dos exemplares mais musculados do disaster movie de aventura, um subgénero que teria o seu apogeu nesses anos 90. O filme era Twister, um excitante filme naturalmente comercial, repleto com os clichés de época, que se tornou um pequeno sucesso e que, embora pouco citado com o passar dos anos, ocupou espaço junto de um certo imaginário Spielbergiano em que tudo podia acontecer. É muito interessante que em 2024, neste período cinematográfico que tem vindo a encontrar espaço para reboots e legacy sequels, tenha sido Lee Isaac Chung (Minari) a pegar em Twisters. Não se trata de uma sequela ou reboot, antes talvez um reimaginar do conceito trazido ao cinema em 96: uma protagonista traumatizada, duas equipas rivais e muitos tornados para perseguir e “estudar”. Chung executa o plano na perfeição: um filme excitante, divertido, implacavelmente ciente da sua identidade e impermeável a agendas ou mensagens extra-filme. Lee Isaac Chung afirmou mesmo em entrevista não estar interessado em passar com Twisters uma mensagem acerca das alterações climáticas, algo que seria tão fácil e apetecível de fazer neste cinema contemporâneo em que os filmes deixaram de ser apenas filmes e passaram a ser “filmes necessários”. Chung está interessado em que o seu filme seja apreciado pelo seu próprio valor e não pelo valor dos seus símbolos. Passado em Oklahoma, um puro red state, o elenco de personagens (altamente representativo sem disso fazer bandeira) entretém-se com rodeos e outras banalidades clichés como se de repente voltássemos a esses idos anos 90, mas made in 2024. Tudo isto faria de Twisters apenas um filme interessante e competente, mas é aí que entra Glen Powell com mais uma vitória por knockout. O actor em ascensão meteórica volta a agarrar o espaço com o seu carisma e magnetismo (dir-se-ia mesmo que existe um Twisters antes e depois de Powell aparecer no ecrã), secando tudo à sua volta, e por consequência Daisy Edgar-Jones, mas também elevando a intensidade do filme de forma incomum e alimentando as expectativas daquilo que deve ser afinal um filme comercial. Lee Isaac Chung ensinou-nos como é.

 

David Bernardino

 

A secção “new from friends” do Letterboxd acusa o revisionamento de Twister (1996), indiciando, para alguns, a necessidade de o rever e, para outros, ver pela primeira vez o filme que serve como mote para Twisters (2024). Este último que não se apresenta nem como prequela nem como sequela, mas sim como uma réplica modernizada, mas atabalhoada do primeiro. Substituindo Helen Hunt e Bill Paxton pela dupla improvável Daisy Edgar Jones e Glen Powell, há espectáculo que sobre, mas química nem tanto, apesar do carisma do novo galã. A fórmula, essa perdura. Continua repetitiva, numa odisseia tentativa e erro, tentativa e erro até ao consequente sucesso. É um filme com um aspecto muito menos 90s, rockeiro, manual e amador, mas bem mais mecanizado, tecnológico e autotuner. Twisters aproxima-nos de novo da época dos furacões e das tempestades no estado de Oklahoma, revisitando o passado trágico de Kate Carter, uma reformada caçadora de furacões. Sendo estes fenómenos desde sempre motivo de estudo, mas também de traumas para Kate, a antiga meteorologista é constantemente instigada pelo imprudente youtuber, Tyler Owens, que arrisca fogo de artifício no epicentro dos furacões em pleno livestream. À medida que os fenómenos se intensificam, Kate e Tyler colidem no céu e na terra, numa luta constante pela liderança. Desta vez, Kate desbrava um novo caminho como convidada de uma equipa que se encontra na rota da tempestade com o suposto intuito de a prever e evitar. *Preencher espaço com críticas às sociedades corporativas de interesse privado e financeiro ao invés das preocupações com a sociedade e respectiva saúde pública.* No entanto, o realizador de Minari ao acrescentar estas excessivas pitadas de sal e açúcar mixado com uma inserção estética e musical mais pop, acaba por quebrar os alicerces nos quais Twisters devia assentar. Twister nos anos 90 funciona na era da alienação digital e falta de informação, mas Twisters 2024 funciona apenas como filme pipoca para nos ausentarmos da realidade.

Rita Cadima de Oliveira