A FLAD (Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento) organiza o Outsiders – Ciclo de Cinema Independente Americano que está de regresso, pela 3ª vez, ao Cinema São Jorge, em Lisboa, de 30 de abril a 5 de maio. Este ano, o Festival conta com uma seleção de 12 filmes de realizadores independentes nunca apresentados em Portugal e com um percurso relevante em diversos festivais mundiais de cinema. Nesta edição, o Outsiders pretende responder à questão “o que é, hoje, a família americana?”, através de um conjunto de filmes que esboçam o retrato da América contemporânea, do seu fascínio e das suas contradições. Os críticos David Bernardino e Rita Cadima de Oliveira foram ver o filme de inauguração, The Unknown Country, de Morissa Maltz, que conta com a participação da galardoada Lily Gladstone.
Em The Unknown Country, Lily Gladstone é Tana, uma jovem mulher que faz o seu luto numa roadtrip pelo Midwest americano, embarcando de forma inesperada nesta jornada enquanto lida com a dor da perda recente da avó. Sempre ao sabor do vento, Tana direcciona-se para a fronteira entre o Texas e o México, procurando encontrar um lugar físico mas também emocional no mundo. A necessidade de se restabelecer e de se inserir num novo habitat enquanto lida com os traumas do passado é o tema principal do filme que se vai conjugando com a pretensão de Morrisa Maltz relatar e documentar os Estados Unidos esquecidos. A realizadora inclui diversas partes documentais nesta ficção, pela forma como conta as histórias de vida das pessoas que Tana vai conhecendo pelo caminho. É por isto que a abordagem de temas como a ruralidade, a identidade dos nativo-americanos, a terra de ninguém, as terras de gente sem-voz, a arbitrariedade e aceitação do destino e, sobretudo, o reconectar com as raízes familiares são os grandes focos desta obra. Mas menos é mais. Não discutindo a excessiva sobreposição de temáticas nos curtos 80 minutos de duração do filme, no seu todo este acaba por ser algo vago, devoluto em termos argumentativos mas sempre fiel ao simbolismo Malickiano no qual se inspira, sendo extremamente reflexivo, estético e poético mas acrescentando muito pouco à sua temática mais premente: o que é, na contemporaneidade, ser descendente de nativo-americanos mas já restar muito pouco dessa herança nessas pessoas?
Rita Cadima de Oliveira
Morrisa Maltz inicia-se aqui nas longas metragens e isso nota-se na sua carta de intenções, com um filme que é ficção e documentário ao mesmo tempo, filmando várias pessoas, personagens, que habitam o Midwest americano (terra de ninguém que cada vez mais tem tido palco no cinema) e que a própria realizadora conheceu na sua experiência de vida, relembrando a estrutura de Nomadland. Acompanhando uma Lily Gladstone em excelente forma, uma nativa americana de luto pela sua avó de regresso às suas raízes, a dualidade de registos de Unknown Country (e a sua curta duração) acabam por contribuir para uma certa superficialidade dos seus temas. Maltz parece mais preocupada com a componente visual do seu filme, com referências claras a Malick (Badlands aparece literalmente escrito na tela). Um movimento de câmara que preza a a natureza e os elementos, o sol, tudo de forma imediata e sensorial. A parte mais curiosa é que tudo encaixa e funciona muito bem e o filme atinge plenamente a experiência a que se propõe.
David Bernardino