Críticas a Sonic The Hedgehog 3, de Jeff Fowler

EquipaJaneiro 9, 2025

Novo capítulo da série de aventuras baseada no jogo de vídeo da SEGA, Sonic The Hedgehog 3 tem sido um sucesso de bilheteira considerável. Repescando um Jim Carey da reforma (que não terá resistido ao cheque chorudo que lhe foi proposto), o filme conta também com a estreia de Keanu Reeves na voz de Shadow. Três críticos da Tribuna foram ver, e deixam-nos a sua opinião.

 

Apesar da escrita e dos diálogos de Sonic The Hedgehog 3 serem desavergonhadamente escritos para a geração zoomer, o terceiro filme da saga consegue mais uma vez transportar-nos para o universo vibrante e icónico do ouriço mais veloz do mundo, desta vez numa nova aventura mas numa não tão renovada fórmula. Mantêm-se intactas a velocidade vertiginosa e o carisma de Sonic, Knuckles e Tails que agora se opõem a um misterioso vilão, Shadow. Mas nem por isso está patente a capacidade de resgatar os primeiros títulos, o que não impede de tornar esta experiência mais refinada ou fluida. A qualidade gráfica é superior, evoluindo com elegância apesar da dinâmica e estratégias narrativas não deixarem de ser um lugar-comum. Ainda assim, há um toque de nostalgia que para os mais exigentes, poderá soar a algo já demasiado familiar. Digamos repetitivo. Em vez de inovar com mais ousadia, Sonic 3 opta por se consolidar, o que não deixa de ser uma escolha segura, mas que pode não ser suficiente para entusiasmar quem procurava uma reinvenção mais efusiva. No fundo, para aqueles que cresceram com Sonic e ainda vivem dessa nostalgia, esta é mais uma viagem no tempo que capta equilibradamente a sua essência, celebrando a magia da velocidade, do desafio e do companheirismo.

Rita Cadima de Oliveira

 

Fazer filmes para crianças é difícil. Ou o filme as trata como idiotas, ou as infantiliza, ou então segue a terceira via: um filme adulto disfarçado de filme infantil, vulgo a maioria do que faz a Pixar. Desde o primeiro filme, a franquia Sonic encontrou o equilíbrio perfeito entre todas essas abordagens. A história é de facto simples, mas funciona (!) e é pesada na medida certa, introduzindo personagens, desenvolvendo os antigos e produzindo uma narrativa cheia de coração. Numa era de filmes moralistas, Sonic 3 nunca se leva demasiado a sério e é um dos raros filmes que (parece) realmente respeitam as crianças e os seus gostos mais superficiais e imediatos. Ao mesmo tempo, satisfaz também os fãs hardcore dos videojogos Sonic que compreendem que um filme baseado num videojogo estará sempre condenado ao fracasso. Assim, levar tudo na brincadeira, como Sonic 3 faz, parece ser a única abordagem possível. O recente filme de Super Mario (inevitável ponto de comparação), por outro lado, nunca consegue encontrar o seu tom, mergulhando às cegas no território do fan service enquanto se leva demasiado a sério, como a Illumination Studios sempre faz, fingindo ser “fixe” e despreocupado quando, na verdade, tudo é meticulosamente calculado. Ao assumir desde o início o conceito de ser um “fracasso”, a franquia de filmes Sonic, e Sonic 3 em específico, entra num território completamente e positivamente absurdo. O cão fala através de legendas, as mascotes no Chao Garden sorriem coloridas no meio de uma tempestade de balas, Jim Carrey arrasa ao som de The Prodigy e The Chemical Brothers, Keanu Reeves “está a reinar” ao dar voz a Shadow, e até o medíocre James Marsden parece estar a divertir-se. A mensagem é positiva, é genuinamente engraçado e proporciona emoções suficientes. Se isto não é o que um filme para crianças deveria ser em tempos tão saturados como os de hoje, então não sei o que será.

David Bernardino

 

Férias de Natal e, entre reuniões de família, corridinha ao Algarve Shopping com duas crianças (9 e 4 anos) para ver “o novo Sonic” – isto depois de uma barrigada dos dois primeiros capítulos através da Netflix. Este terceiro, um filme muito sem graça, e peculiarmente pouco excitante. Fruto da sua contemporaneidade, uma história da qual não se percebe grande coisa, mas onde tudo muda de um segundo ao outro. Deixas musicais apelativas, piadas sobre os anos 90, e um Jim Carrey sofrível (vezes dois). Que cansaço, esta insistente nostalgia – agora, até o Jim Carrey temos de trazer da reforma ? Enfim, o facto de “ser para crianças” não justifica tamanha falta de criatividade e rigor (nem o indigesto James Marsden). Mas a relembrar, pelo menos, uma imagem quase poética, quando se sentam Sonic e Shadow no lado negro da Lua a contemplar as estrelas (durante dois segundos, claro, antes de passar a outra coisa qualquer).

 

Mas, e as crianças, o que acharam ?

Desenho do Artur (4 anos), dias depois, após nova ida ao cinema, desta feita para ver o Mufasa… claramente, venceu o Sonic 3.

 

Miguel Allen