Bigfoot ou Sasquatch, a criatura lendária que habita os recantos mais remotos das florestas da América do Norte. Num filme sem diálogos, acompanhamos uma família desses símios de “pés grandes”, seguindo o seu dia a dia nas montanhas. Um filme… bizarro, Sasquatch Sunset vai da comédia negra à mensagem ecológica, evocando a magia da natureza selvagem através de um quadro de belas paisagens, e misturando lenda com o realismo da vida animal. No passado Motelx, o filme recebeu gargalhadas e aplausos. Rita Cadima de Oliveira e David Bernardino foram vê-lo e assinam estas “críticas”.
Sasquatch Sunset é exactamente aquilo que se espera dele, mas consegue ir além disso. Observamos uma família de 4 sasquatches isolados nas montanhas, isolados do Mundo, no seu dia a dia. São 90 minutos de macacos a andar, comer, defecar e interagir sim, mas não só. Esta bizarra comédia, sem diálogos, e habilmente filmada em cenário natural, é também sobre um certo sentido de descoberta, de ilusão, numa espécie de infantilidade que terá um paralelo meta filme com aquilo que o filme, de facto, é. É também uma leve reflexão negra e livre de preconceito acerca do impacto humano nos ecossistemas, sem nunca fazer disso bandeira. Um pequeno filme de produção ousada e corajosa condenado ao fracasso, que atinge exactamente aquilo a que se propõe: colocar o riso do lado do espectador. A idiotice é conjunta, filme idiota a ser idiotamente visto pela sua singular audiência. E só por isso leva uma estrela a mais do que noutras circunstâncias mereceria.
David Bernardino
Este é um filme sobre a bizarria dos big foot na densa floresta norte-americana, procurada por indesejáveis campistas mas não defraudada pela sua imensa povoação de fauna e flora. Nela vive uma família de enigmáticos Sasquatches, possivelmente os últimos da sua espécie, que têm no seu rotineiro quotidiano o embarque em épicas e absurdas viagens numa constante procura pela sobrevivência. A narrativa ao centrar-se nas aventuras que este grupo hilariante de quatro Sasquatches vivem ao longo de um ano, revela-nos também que tal como nós humanos, estes desgrenhados, frenéticos e muito pouco ágeis seres, lutam pela sobrevivência enquanto se encontram em rota de colisão com o mundo em constante mudança que os rodeia. Quase toda a sua duração incide na concretização tão física quanto expressiva das suas funções fisiológicas, causando-nos algum desconforto, mal-estar e nojo. É mesmo um filme que nos confronta com temas de repulsa e abjeção. Mas também focando-se na vergonha, por meio de um espelho para os humanos, que eventualmente poderão sentir ao ver a sua parte mais animalesca ser representada de uma forma não tão controlada nem regulada. Mesmo que nos estejamos a sentir reprimidos, aparentando qualquer conservadorismo ou sensação púdica, Sasquatch Sunset lembra-nos da nossa parte mais grotesca e fá-lo de uma forma um tanto ou quanto subversiva: vendo a nossa imagem ao espelho e fazendo-nos rir e sentir algum peso na consciência. Por sua vez, o seu lado mais cinematográfico é progressista, num quase cenário documental, que reforça o impacto ambiental do humano e das suas exigentes necessidades na natureza, causando uma afasia ecológica, brevemente representada na tela pela desflorestação, incêndios e acampamentos ilícitos.
Rita Cadima de Oliveira