Apelidado de “filme indiano mais violento de sempre”, e recentemente exibido no Motelx, Kill: Viagem Mortal, de Nikhil Nagesh Bhat, estreou a semana passada nas salas portuguesas. Os tribunos David Bernardino e Rita Cadima de Oliveira foram ver o filme e deixam-nos aqui a sua crítica.
Sinopse: Um comboio de passageiros com destino a Nova Deli torna-se um campo de batalha sangrento de combate corpo a corpo, quando uma dupla de comandos enfrenta um forte exército de bandidos invasores.
Um filme de acção com um gravitas e coreografia que estão taco a taco com John Wick, num filme de acção adaptado ao mercado indiano, que se apresenta como filme indiano mais violento de sempre. O plot twist é que, não tendo sido assim tão bem sucedido na Índia, Kill aparenta ter encontrado o seu público no Ocidente, o que pode significar um ponto de viragem verdadeiramente histórico para que Bollywood consiga finalmente, de forma mais regular, chegar ao mercado Europeu e Norte-Americano. Gente bonita, uma banda sonora épica e os valores de união familiar, tudo características elementares do cinema Indiano, são aqui aplicados a uma lógica fílmica de acção ocidental. Imaginemos Die Hard, ou Under Siege, mas num comboio sobrelotado para Nova Dehli, capturado por dezenas de bandidos. Mal sabem eles que a bordo está um comando militar da Índia, movido a amor pela sua noiva que se prepara para selar um casamento arranjado pelo seu poderoso pai, que irá passar por cima de tudo e todos para a salvar. O que se desenrola posteriormente é, dentro do género de acção, muito melhor do que se poderia imaginar, incluindo do ponto de vista dramático. Chad Stahelski encontrou um rival à altura vindo do outro lado do Mundo.
David Bernardino
Kill é um filme indiano que apesar de ter como maior premissa o amor como arma mais mortífera e ousada do mundo, desabriga-se completamente do preconceito e rescinde com a expectativa e previsibilidade de se associar a um filme de Bollywood. Sem rodeios e com uma firmeza refinada, esta é a versão sul asiática de John Wick. O comboio é o local onde a acção toma lugar, numa coreografia furiosa e cheia de adrenalina, banhando-se em facas, sangue, membros partidos e morte. O próprio título atira-nos para a expectativa de algo foleiro, não sendo possível negar que a sua excentricidade nos leva por vezes ao limite, nem sempre se tornando credível. O factor exagero está altamente presente na transgressão física e psicológica, devendo-se apenas ao facto deste banho de sangue se tornar cada vez menos contido e mais fundamentado e humano (?) à medida que as personagens são exploradas, com o seu pathos desesperado a aprofundar-se ao mesmo ritmo que a contagem de corpos mutilados e prostrados aumenta. Sendo o título claramente genérico, embora memoravelmente contundente, este Kill é mesmo um massacre descaradamente e assumidamente etiquetado com R-rated.
Rita Cadima de Oliveira