Críticas a Horizon: An American Saga – Chapter 1, de Kevin Costner

EquipaJulho 19, 2024

Uma saga americana em quatro capítulos, Horizon marca o regresso de Kevin Costner à realização, quase 20 anos depois de Open Range. Um “passion project” ambicioso, de 12 horas de duração, cujo primeiro volume, apresentado no Festival de Cannes em Maio, estreou este mês nas salas de cinema portuguesas. Rita Cadima de Oliveira e David Bernardino foram vê-lo e deixam-nos aqui a sua opinião.

 

Kevin Costner não consegue recriar mais do que um antigo e desgastado estereótipo Cowboys vs Índios. Uma narrativa cansada cuja única atracção remete para o campo visual, cujos encantos de encher o olho nos remetem para as nostálgicas paisagens do Old West, sempre sedutoras apesar de esgotadas. Assume-se a recriação de Western, em toda a sua figuração de conquistas e derrotas, de uma forma extremamente digitalizada, num formato de sangue, suor e lágrimas. Por meio do sofrimento antropológico e sociológico da constituição dos Estados Unidos de génese amerindia, o actor e realizador da 1ª Saga Horizon, embarca nos anos da Guerra Civil (1859 e 1974), abrangendo 15 anos de uma jornada de guerra, de lutas e de uma imensa odisseia racial. O embarque nesta narrativa oferece-nos uma viagem mais emocional do que factual, através de um país que declara guerra a si mesmo. A fraqueza desta demorada obra está acima de tudo na excessiva sobreposição e encadeamento de histórias dentro da própria história. Este nivelamente de camadas narrativas corresponde à vontade de Costner acrescentar relevo e substância ao seu Western, no entanto, revela-se uma tentativa frustrada que apenas retarda qualquer possibilidade de se atingir algum clímax ou êxtase. E, sobretudo, torna Horizon num filme extremamente aborrecido, cheio de soluços e interrupções. No fim, admira-se a ambição mas reconhece-se que deste melodrama televiso só se lhe retira a exuberância e alguma pompa, tornando-o num filme vaidoso, embaraçoso, cuja escala se revela mais importante do que os detalhes.

Rita Cadima de Oliveira

 

O mais interessante sobre Horizon é o amor que Kevin Costner tem pela história americana e pelo género western, ao ponto de se comprometer pessoalmente a realizar, produzir e protagonizar em pleno 2024 uma épica quadrilogia western, ambientada na fronteira americana, a ser lançada nos cinemas de todo o mundo, e que muito provavelmente o arruinará financeiramente. Curiosamente, Horizon é ao mesmo tempo superficial e complexo. Constrói uma teia de personagens e enredos que certamente convergirão nalgum momento futuro da narrativa, ao estilo de Game of Thrones, tentando ao mesmo tempo cobrir o máximo de realidades e estereótipos possíveis. Temos um cowboy solitário, uma caravana de colonos, a cavalaria, os bandidos, os camponeses, a prostituta, os índios, os caçadores de índios, os chineses, tudo que se possa imaginar no faroeste. Mesmo que tudo seja muito estereotipado e, por vezes, pouco credível, Horizon funciona melhor sendo visto como uma representação despretensiosa dos principais componentes da história americana, como uma espécie de reality show do século XIX. É para ser apreciado e observado como se nos tratassemos de um turista num museu, e não para ser dissecado e levado muito a sério. Nessa vertente Horizon é imaculado. Há algo intrigante na estética de Horizon difícil de descrever, não exatamente relacionado com a sua inevitável estética televisiva, mas mais como se fosse um compêndio teatral de episódios de pequenos filmes de cowboys. De qualquer forma, fica aguçada a curiosidade para ver o que o futuro reserva a este ambicioso projecto condenado à partida ao fracasso.

David Bernardino