Críticas a Heart Eyes, de Josh Ruben

EquipaMaio 20, 2025

Romance is Dead. Um insólito serial killer que ataca as suas vítimas no Dia de São Valentim é o propósito para Heart Eyes. A terceira longa metragem de Josh Ruben arrisca o slasher com toques de comédia romântica, mas  não convenceu as duas tribunas que já viram filme. Aqui ficam as suas críticas.

 

Tal como os parceiros de vida acreditam que o seu amor é único e verdadeiro, também Ally e Jay vivem convencidos de que o seu usual pedido de café ao barista local é pessoal e intransmissível. Até perceberem que não, e aceitarem que o seu pedido especial de café, tal como o amor, é mais comum do que imaginam. Parece um fraco e desinteressante objecto de estudo para um slasher romântico e sangrento, mas este cupido foi afortunado na escolha da banda sonora, que mesmo cheesy e melosa, revela uma nostalgia e crescente inspiração na cinematografia dos anos 80. E embora os jumpscares sejam passivos e redundantes, Josh Ruben faz de Heart Eyes uma celebração do Halloween no Dia de São Valentim, elevando uma comédia romântica a negra, numa ode a um assassino com uma inesquecível máscara de olhos luminosos em formato de coração. E facas com a marca de um coração. E mortes sem coração. Heart Eyes é um exemplo intrigante de como um filme pode cruzar vários géneros de forma coesa e original. Inserindo-se claramente na comédia negra, o filme brinca com temas sombrios — como obsessão e violência — através de um humor distorcido e satírico, provocando um riso quase sempre desconfortável. Simultaneamente, incorpora elementos de terror, usando cenas gráficas, suspense e tensão psicológica para explorar o lado mais perturbador do amor obsessivo. No centro de tudo, há uma narrativa romântica, embora profundamente pervertida, que questiona os limites entre a paixão e a loucura. Essa fusão de géneros faz de Heart Eyes uma obra esquecível, mas que desconstrói fielmente expectativas e desafia alguns limites convencionais do cinema.

Rita Cadima de Oliveira

 

Alguém pediu mesmo mais um slasher passado numa data comemorativa? Arrisco dizer que não. Mas isso não impediu a Screen Gems de tentar a sua sorte. Num exercício algo forçado de mixologia cinematográfica, lançaram um filme temático do Dia dos Namorados com algo que (em teoria) pudesse agradar aos dois lados do casal: romance levezinho para ela, sangue e tripas para ele. Assim, Heart Eyes é o resultado do curioso cruzamento entre um filme da Lifetime e o típico slasher com um assassino mascarado. Neste caso, um que se dedica a viajar pelos Estados Unidos para assassinar jovens casais no Dia dos Namorados. E não é que o filme nos atira diretamente para o início de um novo romance numa nova cidade? Que surpresa. O que irá acontecer?

A premissa até tem a sua graça, e a ideia de misturar comédia romântica com terror (dois géneros diametralmente opostos) tem, no papel, bastante potencial. Mas aqui o argumento limita-se a reciclar tropes de ambos os géneros e a apontar para eles como se o simples reconhecimento da referência já fosse uma boa punchline. O humor, ao contrário das armas do assassino de serviço, é rombudo. E embora haja uns toques de criatividade no que ao gore diz respeito, o tom do filme anda aos ziguezagues entre o pseudo-cómico e o macabro sem nunca assentar com sucesso em lado nenhum. Mesmo o assassino, com uma máscara que até tem a sua graça (e que está na origem do seu nome, Heart Eyes Killer), fica aquém de se tornar icónico. Falta-lhe presença, personalidade. É só mais uma figura mascarada a picar o ponto num género que já está cheio delas. A narrativa que serve de desculpa para colar os dois géneros é pouco envolvente. A tensão não existe, a revelação da identidade do Heart Eyes Killler é desprovida de interesse, e os protagonistas não têm profundidade nem carisma suficientes para o espectador se importar com o que lhes acontece.

Talvez este filme funcione com um público adolescente, ainda pouco calejado, à procura de algo aparentemente risqué e violento para ver com amigos. Para o resto, é difícil encontrar aqui algo que valha uma segunda olhadela, quanto mais amor à primeira vista.

Carla Rodrigues