The Killer: Girlfriend in a Coma

Na passada noite de 12 de novembro, revi o The Killer : 1. queria mostrar à Inês o plano de um segundo da Rue de Lanneau, onde vivemos durante os meses de Erasmus, há quase vinte anos; 2. como sempre quando vejo um filme em casa, fico com a impressão de que não o vi devidamente, e que tenho assim de o rever. A conclusão foi afinal que o filme era “exactamente” o que tinha...

Dossier Hayao Miyazaki Vol. VII – Princesa Mononoke

A grande floresta sagrada e a indústria. Deuses, espíritos, e demónios. E os “ridículos humanos” que, movidos por ambição, transformam e destroem o mundo natural que os envolve. Grande poema generoso a uma terra Verde, um épico acerrimamente ambientalista. E provavelmente a obra maior de Miyazaki. Não longe dum western “oriental” – e John Ford é um dos cineastas preferidos de Miyazaki -, “Princesa Mononoke” segue Ashitaka, jovem principe Emishi que, envenenado (ou melhor, amaldiçoado)...

O Rapaz e a Garça: O Lugar das Coisas Perdidas

Um filme de guerra, o “Rapaz e a Garça” abre bruscamente, com o mundo a desmoronar. Num prólogo formalmente assombroso, e uma das cenas mais violentas jamais imaginadas por Miyazaki – aproximando-se de “O Túmulo dos Pirilampos”, de Isao Takahata – o “rapaz”, desesperado, perde-se num mar de figuras tenebrosas. Começando por um fim, o derradeiro filme do realizador, que nos oferece “últimos filmes” de há algum tempo para cá, é a elegia definitiva duma...

Dossier Hayao Miyazaki Vol. III – Laputa: Castle in the Sky (O Castelo no Céu)

Após dois filmes bastante distintos entre si (e uma série televisiva que pendia sobretudo para os valores estéticos pelos quais Miyazaki é hoje mais reputado), “O Castelo no Céu”, de 1986, primeira produção oficial do estúdio Ghibli, é talvez a primeira obra da maturidade artística do realizador: um filme que dialoga tanto com Cagliostro como com Nausicaä, que o precedem, e que estabelece, na verdade, rimas com toda a obra futura de Miyazaki. O seu...

No Verão Passado: O Retrato de Família

Passei uma boa parte do filme algo distraído. Recebi uma mensagem do André a dizer que o Atlético de Madrid tinha de facto empatado, como eu apostara, e isso pareceu-me momentaneamente mais interessante do que o que se passava na tela. O romance já se concretizara, e o filme tropeçava agora pelos passos recorrentes duma relação proibida. Breillat caracteriza habilmente Théo (Samuel Kircher) enquanto criança rebelde de olhos azuis, e Anne (Léa Drucker) como alguém...

“Oppenheimer” e as máquinas de Christopher Nolan

  Are you familiar with the Manhattan Project? As they approached the first atomic test, Oppenheimer became concerned that the detonation might produce a chain reaction, engulfing the world. in Tenet Por tanto que “tempo”, “dimensão”, e “espaço” sejam temas centrais dos seus filmes, Christopher Nolan sempre mostrou grande dificuldade em trabalhar esses mesmos três elementos no campo restrito duma cena. O ritmo épico das suas vontades cinematográficas parece afinal influir no mais ínfimo detalhe...

“Asteroid City” – Estrelas no Deserto

Fomos ver o Asteroid City, mas será que isso importa? O novo filme de Wes Anderson (WA) estreia num ponto da sua carreira onde o “estilo” (e voltaremos mais tarde a esta noção importante) que lhe associamos se normalizou de forma abrangente. Por um lado, os média parecem hoje inundados de ideias estéticas que, eventualmente de origens diversas, nascem em directa associação a WA – a simetria, uma excentricidade constrangida, tons pastel, e por aí....

Integral Kinuyo Tanaka: “Senhora Ogin” – Em Azul

A breve filmografia de Kinuyo Tanaka terminaria em 1962, com o seu sexto filme, uma obra algo ambiciosa, ainda que particularmente pessimista. Senhora Ogin (お吟さま, Ogin-sama), ou “Amor sob o Crucifixo” no seu título inglês, conta a história (fundada em personagens e factos reais) do amor proibido de Ogin, filha adoptiva do mestre de chá Sen no Rikyū, e Takayama Ukon, daimio e samurai cristão. Japão de finais do século XVI, o contexto histórico é...

Dossier João César Monteiro, Vol II – O Último Mergulho

  Ai, prometi-te uma outra Grécia e em vez disso mando-te um canto fúnebre.   O céu pode esperar.  Um filme desencantado com o mundo, mas apaixonado pelo seu movimento. De olhos postos no abismo, Samuel (Dinis Neto Jorge) adia a morte para ir ver a “mais bela coninha do mundo”. Uns copitos no bucho e um mergulho numa Lisboa nocturna, viva e suja, cidade de pescadores e marinheiros, mestiça e popular, cidade de sexo,...

Integral Kinuyo Tanaka: “A Lua Ascendeu” – Os Amores de Nara

O segundo filme realizado por Kinuyo Tanaka, “A Lua Ascendeu” (月は上りぬ, 1955) conta os amores de três irmãs na cidade de Nara, Japão, no pós-2ª Grande Guerra. Um projecto abandonado por Yasujiro Ozu, que escrevera o argumento em 1947 (com Ryosuke Saito), o filme aproxima-se formalmente do estilo do mestre japonês (que filmara Tanaka em várias ocasiões), sendo paralelamente um exemplo forte da individualidade e importância de Tanaka enquanto autora a título próprio. – Lembras-te...