Os Melhores Momentos de 2022, segundo José Oliveira

Em 2022 três grandes autores fizeram obras tão grandes como tudo o que já fizeram. Herzog foi desenterrar imagens alheias. Mário Fernandes fez um luto vital. McCarthy fez também ele um requiem pelo irracional. Irracional, analógico, amador. O inesperado e o risco. A bomba atómica de Oppenheimer é o irracional que salva e a lucidez que cega de qualquer destas obras. O ideal seria não falar em filmes, livros, discos… Mas falar em gestos e...

A Máquina Infernal, de Francis Vogner dos Reis – Crítica + Entrevista

Quem teve a sorte ou a maldição de acordar para a cinefilia pelos começos ou meios dos anos dois mil teve a sorte de encontrar o que hoje já é visto irremediavelmente como um Paraíso Perdido. Os blogs de cinema. Neles se investia quase todo o tempo que sobrava dos três ou quatro filmes vistos durante o dia ou noite fora. Neles se conheciam parceiros com a mesma pancada pelo mundo fora, do Brasil ao...

Entrevista a Cristèle Alves Meira – Alma Viva

Nos momentos em que a pequena Salomé conduz (verdadeira carga catalisadora) o filme com o seu olhar e deixa todo o mundo racional e lógico de fora, Alma Viva convoca o velho sonho de um Pedro Páramo português. O subjetivo e a alma tornam-se condutores (como eletrões difratados e loucos) fantásticos e fantasmáticos de uma féerie intravável e caiem por terra os espartilhos do argumento clássico, as dicas do guião perfeito de um génio do...

Entrevista a Maya Kosa e Sérgio da Costa

Em Ilha dos Pássaros, realizado pela dupla luso-suíça Maya Kosa e Sérgio da Costa, brota um olhar virgem sobre uma espécie de Paraíso Perdido (ou Paraíso Ferido?) que vai muito além do registo documental. Num território tão exótico como estranho vamos encontrar aves feridas e um jovem ferido pelas agruras da vida. Mas o olhar nunca é exótico ou em vão. A câmara dos cineastas consegue em distâncias variadas que se tornam numa mesma olhar...

Homenagem: Jean-Luc Godard (1930-2022)

Jean-Luc Godard representou para mim a força e a arrogância colossais da juventude mas também os vislumbres e a descida aos abismos dos trabalhos da alma. Na primeira fase da vida, a ausência de tempo, o presente puro, a irresponsabilidade. Na fase posterior, as sendas existenciais escancaradas, o desprezar do inútil. O seu cinema e as suas invetivas ajudaram-me a suportar a profanação alheia da minha cinefilia, a cuspir nos idiotas que foram estudar cinema...