A Caminho dos Óscares – Previsões em Novembro 2022

Pedro BarrigaNovembro 23, 2022

Estamos sensivelmente a um mês do final do ano. Tal significa que daqui a nada – como dizia Moira Rose em Schitt’s Creek – começa a melhor season do ano: awards season. A 95ª cerimónia dos prémios da Academia, mais conhecidos por Óscares, está agendada para o dia 12 de março de 2023, sendo os nomeados anunciados a 24 de janeiro.

Para aqueles que insistem que os Óscares são risíveis – curiosamente, são sempre as pessoas que dizem não querer saber dos Óscares que mais tempo perdem a criticá-los… – dois pontos: primeiro, essas calúnias não serão admitidas neste espaço!; segundo, os Óscares são uma fotografia dos gostos dos membros da Academia num dado ano, para bem ou para mal. Gostos esses em perpétua mudança, e membros esses em contínuo alargamento (eram 230 inicialmente, hoje em dia ultrapassam os 10.000). Esta constante evolução é o que torna a tarefa de adivinhar os Óscares tão interessante e desafiadora.

Ora, como se fazem previsões aos Óscares? Depende da informação de que dispomos a cada passo do caminho. Quanto mais perto da cerimónia de entrega, mais esclarecidos estaremos sobre as preferências da Academia.

Andemos de trás para a frente no calendário: em março, realizam-se os Óscares. Em fevereiro, ocorre a entrega de importantes prémios da indústria cinematográfica (BAFTA, WGA, SAG, DGA, PGA). Em janeiro, orientamo-nos pelas nomeações anunciadas pela Academia. Em dezembro, olhamos para organizações cujos gostos costumam coincidir com os da Academia (e.g. Hollywood Foreign Press Association, Critics Choice Association, American Film Institute). Já em novembro, contamos apenas com os festivais de cinema que decorreram ao longo do ano para nortear os nossos palpites.

Quais são então os principais festivais? E que filmes estrearam aí antes de serem coroados com o Óscar de Melhor Filme?

  • Sundance (E.U.A.) – CODA.
  • Cannes (França) – Parasite, The Artist, etc.
  • Veneza (Itália) – Nomadland, The Shape of Water, Spotlight, etc.
  • Telluride (E.U.A.) – Moonlight, 12 Years a Slave, Argo, etc.
  • Toronto (Canadá) – Green Book, Crash.

Vejamos que filmes se destacaram nas edições de 2022 destes cinco festivais:

  • Sundance – Nanny, Cha Cha Real Smooth, Palm Trees and Power Lines.
  • CannesTriangle of Sadness, Close, Stars at Noon.
  • VenezaAll the Beauty and the Bloodshed, Saint Omer.
  • TellurideTÁR, Women Talking, Armageddon Time.
  • TorontoThe Fabelmans, Women Talking, Glass Onion.

Obtemos um total de 13 filmes. Analisemos cada um:

  • Nanny – filme de terror. Desde 1991 que um filme de terror não vence Melhor Filme.
  • Cha Cha Real Smooth – comédia romântica que estreou na Apple TV+ em junho. Nunca mais se ouviu falar.
  • Palm Trees and Power Lines – filme sem distribuição. Sem distribuição em sala não se é elegível aos Óscares.
  • Triangle of Sadness – segunda vez que o sueco Ruben Östlund vence a Palme d’Or de Cannes. A primeira vez fora em 2017 com The Square, obra que apenas conseguiu uma nomeação aos Óscares na categoria de Melhor Filme Internacional. Se The Square não alcançou a categoria de Melhor Filme, Triangle também deverá ficar pelo caminho.
Cha Cha Real Smooth, Triangle of Sadness, Close, Armageddon Time, Glass Onion
  • Close – o vice-campeão de Cannes. Filme que põe todo o público a chorar, o que a Academia adora, mas será que membros suficientes se darão ao trabalho de ver um filme belga? Nota: a grande maioria da Academia é constituída por norte-americanos.
  • Stars at Noon – Claire Denis não está na lista de preferências da Academia.
  • All the Beauty and the Bloodshed – documentário de Laura Poitras sobre Nan Goldin. Em 94 anos de Óscares, nunca (!) um documentário foi nomeado para Melhor Filme.
  • Saint Omer – candidato de França à categoria de Melhor Filme Internacional. Terá de se contentar com essa nomeação no melhor dos casos, dado que o filme ainda não obteve distribuição em solo americano.
  • TÁRpor fim, um candidato forte ao Óscar de Melhor Filme. Todd Field, Cate Blanchett, Nina Hoss, Hildur Guðnadóttir: todos bem posicionados para serem nomeados em diferentes categorias.
  • Women Talking vencedor do Silver Medallion em Telluride, segundo colocado no People’s Choice Award de Toronto, e um dos filmes mais bem recebidos de acordo com a sondagem conduzida anualmente por Michael Patterson. Para não falar de um elenco composto por Rooney Mara, Claire Foy, Jessie Buckley e Frances McDormand.
  • Armageddon Time realizado por James Gray, outro cineasta que não faz a Academia vibrar.
  • The Fabelmans realizado por Steven Spielberg, possivelmente o cineasta que mais faz a Academia vibrar!
  • Glass Onion a sequela de Knives Out tem sido bem recebida, mas se o original não foi nomeado para Melhor Filme, a sequela precisaria de muito apoio para lá chegar.
TÁR, Women Talking, The Fabelmans

Depois desta limpeza, ficamos com três títulos apenas: TÁR, Women Talking, e The Fabelmans. Já dizia Benjamin Franklin: nada é certo exceto a morte, os impostos e que estes três filmes estarão nomeados para o Óscar de Melhor Filme. Aliás, o vencedor poderá muito bem ser um deles, dado que nos últimos dezasseis anos o filme vitorioso teve sempre estreia num dos festivais de cinema atrás mencionados.

Já temos três finalistas, mas a categoria de Melhor Filme tem dez vagas. Quais serão os sete filmes que preencherão as restantes vagas? Teremos de esperar pelos próximos meses para obter mais informação, mas, a fazer um palpite, seriam estes:

  • Everything Everywhere All At Once – o filme mais popular do ano.
  • The Banshees of Inisherin – o realizador de Three Billboards está de volta.
  • Babylon – o realizador de La La Land está de volta.
  • The Whale – protagonizado por Brendan Fraser, futuro vencedor do Óscar?
  • Top Gun: Maverick – um dos maiores êxitos de bilheteira de sempre.
  • Avatar: The Way of Water – por falar em bilheteira, também o rei James Cameron (Terminator 2, Titanic, Avatar) está de volta.
  • Black Panther: Wakanda Forever – o original foi um fenómeno (nomeado para sete Óscares!). A sequela pode muito bem seguir os seus passos.

Como podem ver, há a forte possibilidade de termos três blockbusters nomeados para Melhor Filme este ano. Ainda mais curioso: os três filmes originais – Top Gun (1986), Avatar (2009), Black Panther (2018) – são todos vencedores de Óscares.

Por agora é tudo. Voltamos a falar daqui a um mês!

Pedro Barriga