A ligação entre Natal e Cinema existe desde que o britânico George Albert Smith criou o primeiro filme de Natal, em 1898: uma curta com 1 minuto e 16 segundos. A partir daí, este laço entre a Sétima Arte e uma das datas mais comemoradas em todo o mundo foi sendo estreitado, contando com o contributo de muitos realizadores ao longo de toda a história.
Agora, a equipa da Tribuna do Cinema decidiu reunir-se e selecionar os 30 melhores filmes de Natal de sempre. 30 filmes onde o Natal ocupa um lugar central ou de grande destaque, para fazer as delícias de todos nesta quadra festiva! “Merry Christmas, You Filthy Animals”!
30° Merlusse (1935) de Marcel Pagnol
A simplicidade e a beleza dos actos de amor são reproduzidas neste filme que tem tanto de terno como de malévolo. Merlusse é um filme evocativo da redenção e do perdão como simbolismos máximos daquilo que é o Natal e que deveria ser, sobretudo, a vida. Neste filme, um grupo de alunos é deixado à mercê do internato onde vive, não podendo passar o Natal perto da sua família. Alguns rejeitados, outros órfãos, acostumados à rigidez e à repressão dos seus autoritários professores, sofrem por antecipação nesta véspera de Natal já atormentada. Constatando que a terão de passar na pesarosa presença do mal amado Professor Merlusse, um homem disforme, estranho e que os apavora com o olhar. A véspera de Natal é, sem dúvida, diferente para estes jovens e até austera. Mas o mais improvável acontece na madrugada que se torna mágica, acordando todos eles rodeados de presentes no dormitório. Marcel Pagnol entrega ao Professor Merlusse o significado do Natal, concedendo-lhe toda a humanidade e bondade num gesto físico, mas sobretudo simbólico, que é o de dar mais do que se tem. O que o Professor Merlusse recebe em troca é ainda mais significativo pois todas as crianças reflectem o quão errado é presumir e julgar alguém pela sua aparência física, quando a maior bravura é aprender a conhecer o interior dos nossos semelhantes.
Rita Oliveira
29° Jingle All The Way(1996) de Brian Levant
Os anos 90 foram frutíferos para os heróis americanos de acção que por vezes faziam uma perninha em comédia. Schwarzenegger não foi excepção. Jingle All The Way não é um grande filme, nem sequer é a melhor comédia do ex-governador da Califórnia, mas existe um certo guilty pleasure em ver Schwarzenegger correr de loja em loja na véspera de Natal em autênticos combates com outros pais em busca do esgotado Turbo Man, o brinquedo que todos os miúdos querem esse Natal. É um filme diabólico sobre consumismo, sim, mas é tão idiota que consegue dar a volta e sair por cima, fazendo parte do subgénero “tão mau que é bom”.
David Bernardino
28° Love Actually (2003) de Richard Curtis
Esta comédia romântica escrita e realizada por Richard Curtis, reúne as histórias de dezenas de protagonistas, que se cruzam entre si de forma bizarra, clichê e satírica; três fatores predominantes do gênero que tornaram este filme num clássico natalício para quase toda a família. Numa contagem decrescente até ao Natal, as diversas narrativas vão-se desenrolando num acumular de tensão. Desde um Primeiro Ministro em apuros no número 10 de Downing Street, à barreira linguística entre um escritor inglês a empregada doméstica portuguesa, à paixão pré adolescente de um jovem não aspirante a baterista pela colega de escola, passando ainda pelas crises de meia idade de um pai de família (seduzido pela secretária) e de um músico forçado a refazer êxitos antigos por versões natalícias como tentativa de voltar a ocupar o primeiro lugar das Tabelas. Há filmes que não aspiram a ser mais do que aquilo para o qual foram feitos, e esta comédia cumpre aquilo que promete: um serão descontraído, repleto de incoerências e regado pelo tão conhecido humor britânico.
Inês Bom
27° The Christmas Chronicles (2018) de Clay Kaytis
Kurt Russell a fazer de Pai Natal devia ser razão mais que suficiente para ver The Christmas Chronicles, mas a verdade é que este é mesmo um dos melhores filmes de Natal para toda a família dos anos recentes. Dois irmãos, o adolescente mais velho que não acredita no Natal depois da morte do seu pai e a sua irmã mais nova que está decidida em provar que o Pai Natal existe, unem esforços com o barbudo Kurt Russell para salvar o Natal em tempo-relógio. Temos perseguições de renas, momentos musicais fora da caixa e muitas mensagens de amor natalício. Perfeito para ver nas tardes lentas de dia 25.
David Bernardino
26° Scrooged (1988) de Richard Donner
Scrooged é uma adaptação moderna do famoso “Conto de Natal” de Charles Dickens, com Bill Murray e Karen Allen a assumirem os principais papéis. Richard Donner explora mais uma vez a temática do Natal (um ano após Arma Mortífera), mas desta vez explorando comédia e drama de forma algo surreal, com um Bill Murray a grande velocidade. Os pontos fortes de Scrooged são o seu ritmo e o papel de Bill Murray. Tudo funciona de forma coesa numa boa mistura entre comédia/drama, principalmente a renovar um conto que já foi tantas vezes explorado no cinema.
João Fernandes
25° Moonstruck (1987) de Norman Jewison
Moonstruck é uma comédia romântica que tem no seu centro o romance entre Loretta (Cher num dos seus papéis mais icónicos) e Ronny (Nicolas Cage exuberante como sempre). No entanto, o segredo deste filme está na atenção que o argumento de John Patrick Stanley dá a personagens secundárias que vivem ao redor dos protagonistas e que emprestam a este filme um nível de autenticidade muitas vezes ausente. Seja os pais de Loretta (Olympia Dukakis e Cosmo Castorini) que lidam com a infidelidade do marido, os tios ou o professor universitário que sabe que os seus esforços de seduzir alunas são fúteis, Moonstruck reúne vários romances que convergem na cena final do filme, uma refeição onde toda a família está reunida à volta da mesa, qual ceia de Natal.
Francisco Sousa
24° R Xmas (2001) de Abel Ferrara
Cruzamento improvável entre o tráfico de droga e o Natal. Ferrara sobrepõe a iconografia associada à época natalícia com a produção de estupefacientes, como se se tratassem de duas faces da mesma moeda. As ruas dos subúrbios de Nova Iorque contrastam com os idílicos lares onde abundam decorações e presentes, duas realidades distintas mas ambas resultado de uma sociedade de consumo, um capitalismo que tudo permeia. Neste sentido, talvez um dos filmes mais pessimistas da nossa lista. R’ Xmas conta no elenco com Drea de Matteo, Lillo Brancato e Ice-T e é sem dúvida um dos mais subvalorizados filmes de Abel Ferrara.
Bruno Victorino
23° The Hudsucker Proxy (1994) de Joel Coen
Apesar da carreira de Joel e Ethan Coen (Este País Não É Para Velhos, Fargo) estar recheada de filmes aclamados pela crítica e pelos fãs, Hudsucker Proxy não costuma figurar no panteão dos realizadores norte-americanos. Com um argumento escrito em parceria com o amigo e realizador Sam Raimi (Evil Dead, Spider-Man), Hudsucker Proxy é uma comédia que segue Norville Barnes (Tim Robbins), um homem simplório que se torna no presidente fachada de uma enorme empresa onde, numa montagem genial realizada por Raimi, acaba por inventar o Hula Hoop. Uma história saída de um filme de Frank Capra (o filme presta homenagem de forma explícita a Do Céu Caiu Uma Estrela), em que o protagonista tem de combater o cínico e corrupto sistema capitalista americano, Hudsucker merece, quase 30 anos depois e no espírito natalício, ser revisto e reavaliado.
Francisco Sousa
22° L’Oiseau Bleu (1918) de Maurice Tourneur
O filme de Tourneur apresenta um apuramento visual que funciona em duas instâncias. Primeiramente em um nível puramente estético, com o forte uso de silhuetas, sombras e véus, adornos e artifícios excessivos, tudo que há de mais impactante e grandioso visualmente, mas que encontra nos seus mais simples e singelos gestos toda a sua potência. Em segundo plano, o filme possui um cuidadoso uso de frases perfeitamente incrustadas na matéria poética do filme, não só pelo seu lirismo espontâneo, mas também pela forma como elas parecem brotar com uma simplicidade e uma claridade poucas vezes encontradas no cinema. É um filme de uma tonalidade fabular essencialmente anti-esopiana, longe de chegar em uma conclusão moral reveladora, Tourneur trabalha com uma abordagem dialeticamente anterior que aparenta tentar florescer por si própria, uma certa resignação retórica que parece encontrar na sua passividade, no seu onirismo anunciado, toda a beleza da vida.
Diogo Serafim
21° A Trap for Santa Claus (1909) de David W. Griffith
Singelo e áspero conto moral realizado por D.W. Griffith em 1909. Diferentemente do The Night Before Christmas (1905), de Edwin S. Porter, aqui a fantasia redime as chagas da realidade quando coloca-se no mesmo patamar que ela. O filme narra o abandono de uma família pelo pai. Por uma graça do destino, a mulher recebe uma herança e deixa a sua vida de miséria, mudando-se com seus filhos para uma casa grande e bonita. Na noite de natal, a mulher pretende fantasiar-se de Papai Noel para oferecer momentos de graciosidade aos filhos, porém, seu gesto acaba por evidenciar ainda mais a ausência do pai. As crianças, por sua vez, ainda com a ótica da inocência para lhes proteger, fazem uma armadilha para capturar o Papai Noel. Porém, o que ela acaba capturando é o Pai, que vivendo uma vida de crime, invade aquela casa para roubá-la. Aqui acontece o que há de mais fascinante no filme: a armadilha que foi feita para capturar um ser mágico na noite de maior magia do ano, acaba por deter aquele homem maltrapilho, a fonte do abandono, a corporificação das durezas da vida. Golpe do destino, intervenção divina. A mulher perdoa o seu marido e o faz retornar ao seio da família. O pai veste-se de Papai Noel e encontra os seus filhos diante da árvore de presentes. No processo de conjugar a fantasia na realidade, as crianças o olham como um ser mágico e puro, tal como nós olhamos nosso pai antes da quebra do fascínio, quando passamos a conhecer os seus pecados e a sua ausência.
Yuri Lins
20° Little Women (1994) de Gillian Armstrong
Adaptação do famoso romance de Louisa May Alcott, este coming of age sobre família, amor, irmandade e solidariedade traduz-se num verdadeiro conto de natal. As quatro irmãs da família March protagonizam o desenrolar de um ano particularmente difícil, marcado pela provação de uma Guerra Civil, um Inverno impiedoso e o desafio constante de serem jovens mulheres a lutar pela sua identidade e o seu lugar no Mundo. A história desenrola-se ao longo dos vários episódios que marcaram a provação das jovens durante a ausência dos pais. O espectador é completamente envolvido nos ritos de passagem das quatros protagonistas para a idade adulta, forçadas pelos acontecimentos da época a abandonar a ingenuidade e imaginário próprios de uma idade em que o mundo é uma fantasia de infinitas possibilidades. Mas o confronto com a realidade não rompe com a pureza dos seus corações e ideais. Firma sim os laços familiares e a força dos princípios e sonhos por que lutam dia após dia. O Natal é um plano simbólico neste conto, impulsionando o clímax de uma jornada agridoce que nunca se afasta dos verdadeiros valores.
Inês Bom
19° The Bells of St Mary’s (1945) de Leo McCarey
“There’s great beauty in this world if you have the eyes to see it”.
Poderíamos resumir o filme no rosto iluminado de Bergman, brilhando cheio de graça, enquanto ela reza tentando entender o que está à sua volta, e finalmente percebendo que o sentido da vida é ajudar os outros para que você também possa ser ajudado. Tão profundamente religioso exatamente porque é tão palpável, material, tangível. McCarey conduz tudo com sua espiritualidade e bom humor de sempre, nos presenteando com alguns close-ups magistrais.
Diogo Serafim
18° Le Père Noël a les Yeux Bleus (1967) de Jean Eustache
Daniel (Jean-Pierre Léaud) é um dos muitos jovens desempregados que passam o dia perambulando pela cidade. Sem grandes perspectivas, seus interesses oscilam entre os flertes com as garotas e os pequenos trabalhos feitos para juntar algum dinheiro. Daniel quer comprar um casaco que está na moda e por isso aceita se fantasiar de Papai Noel para um fotógrafo. Trajado com as roupas do homem do natal, esta mesma figura que se adequa a qualquer produto que o capitalismo queira nos impor, Daniel percebe que passa a ser melhor tratado por todos. O fio narrativo que Jean Eustache segue parece existir apenas para possibilitar sua verve de documentarista. Em cada imagem de “Le Père Noël a Les Yeux Bleus”, sente-se com muita concretude o marasmo da cidade, seu movimento lento e seus jovens lânguidos afundados em uma rotina que parece consumir a si mesma. A câmera de Jean Eustache possui um imenso poder de absorção, onde a modicidade de sua produção permite uma fluidez genuína, longe de qualquer encenação afetada.
Yuri Lins
17° The Night of the Hunter (1955) de Charles Laughton
Um padre e serial killer persegue duas crianças que sabem o local onde se encontra escondida uma avultada soma de dinheiro. A sinopse do único filme realizado por Charles Laughton aponta para tudo menos um filme de Natal. Mas a verdade é que cada plano de The Night of the Hunter parece retirado de um postal e que a narrativa nos encaminha no sentido da esperança, depois do confronto da inocência com a personificação do mal, encarnada magistralmente por Robert Mitchum. O filme terminar no dia da consoada não é coincidência.
Bruno Victorino
16° The Night Before Christmas (1905) de Edwin S. Porter
Gostaria de ser uma criança nos 1905 assistindo à “The Night Before Christimas”. Talvez minha surpresa diante daquele retrato móvel do Papai Noel que encerra o filme pudesse ser de uma epifania comparada àquela dos primeiros espectadores que assistiram assombrados a chegada do trem à estação La Ciotat. O que fascina no filme de Edwin S. Porter é a sua imensa capacidade de conjugar o realismo intrínseco ao cinema com as suas possibilidades de fantasia. A imagem de algumas renas reunidas num estábulo é o suficiente para acreditarmos que são Rudolph e seus companheiros. O Papai Noel é visto como um operário durante o ofício de construir brinquedos, uma imagem que carrega muita materialidade, aterrando o mito no plano humano. Todavia, o filme entrega uma das mais fascinantes cenas de fantasia que o cinema já foi capaz de criar: o trenó do Papai Noel corta o céu noturno sobrevoando montanhas de gelo até chegar na casa de uma família. Aqui, o Trompe-l’oeil é convertido em um vasto horizonte palpável e crível, pois o trenó voador cresce e diminui conforme se locomove, dando à paisagem um senso de escala, distância e volume. Este é um filme que nos prova de forma irrefutável que o Papai Noel existe.
Yuri Lins
15° Conte d’hiver (1992) de Éric Rohmer
É a época natalícia – Paris, terrivelmente monocromática – e Felicie não se consegue entregar a nenhum dos seus companheiros românticos. O seu coração pertence a outro: a Charles. Por mais que tente, não consegue esquecer o romance veranil que desfrutaram há 5 anos – costa francesa, incrivelmente colorida. Uma morada incorreta – eis o tão rohmeriano elemento do acaso – separa os dois amantes e deixa Felicie dentro de um conto de inverno, mas com a cabeça no verão. Um limbo auto-inflingido entre seguir em frente com a vida ou esperar pelo regresso do príncipe encantado. Conte d’hiver é um verdadeiro conto de fadas, ou pelo menos é o mais próximo de um que Rohmer alguma vez esteve.
Pedro Barriga
14° Black Christmas (1974) de Bob Clark
Black Christmas merece estar nesta lista por várias razões. O filme de Bob Clark de 1974 é considerado por muitos o primeiro slasher de terror norte americano de todos os tempos, precedendo o muito mais conhecido Texas Chainsaw Massacre, e tem como pano de fundo precisamente o Natal, mais concretamente um grupo de universitárias que são perseguidas por uma figura misteriosa e arrepiante nas férias de Natal. Além de um slasher, Black Christmas é também um filme exploitation repleto de violência e crueldade que irá satisfazer uma noite de Natal alternativa às alegrias familiares. Um filme de culto que inspirou Carpenter a realizar Halloween.
David Bernardino
13° Klaus (2019) de Sergio Pablos
Jesper é o preguiçoso filho do diretor-geral dos Correios. Como castigo, seu pai nomeia-o carteiro de Smeerensburg, uma vila situada numa ilha distante, gélida e em permanente rebuliço. É aqui que Jesper descobrirá a origem por detrás do Pai Natal. Nesta sua primeira longa, o espanhol Sergio Pablos opta por um regresso à animação desenhada à mão. O resultado é lindíssimo, desde as cores aos cenários, desde as luzes às sombras. A palete do filme vai evoluindo de fria para quente, à medida que Jesper e Klaus mudam a vila de Smeerensburg para sempre. Um filme bonito, comovente, divertido e, talvez um dia, um clássico de Natal.
Pedro Barriga
12° The Shop Around the Corner (1940) de Ernst Lubitsch
O mais doce e enternecedor dos filmes. Sob uma neve perfeita, aquela véspera de Natal na “Matuschek & Company” será feliz e de grande optimismo, mesmo se construída com todas as lágrimas do ano precedente. Esperança e desilusão, anseio e ambição. Família e comércio, engano e amor. O “descaramento” de Lubitsch poderá até se mostrar nas manhas de Kralik (James Stewart), mas é impossível não apoiar o paradoxo feliz evocado por Klara (Margaret Sullavan), tal a graça musical com que cada cena nos é oferecida (veja-se o progressivo apagar das luzes para a revelação final). Entre portas que se abrem e fecham, aquele pequeno comércio será um mundo de sentimento, com cartas de amor secreto que se trocam inocentemente sob os olhos de todos. Lubitsch faz-nos, como ninguém, rir e sorrir, chorar de alegria e tristeza, naqueles maravilhosos momentos em que tudo aconteceu, entre dois desconhecidos tão próximos, na loja ao virar da esquina. Um dos pontos altos do “Lubitsch touch” e um filme perfeito, trabalhado com precisão e maestria incomparável.
Miguel Allen
11° Tokyo Godfathers (2003) de Satoshi Kon
Na véspera de Natal, três sem-abrigo descobrem um bebé abandonado no meio do lixo. Ao longo de 90 minutos, os três personagens tentam procurar os pais da criança enquanto procuram, eles próprios, um significado para as suas vidas. Satoshi Kon foi um realizador único no panorama de cinema de animação. Dotado de uma criatividade extrema, de um conhecimento social profundo e de uma enorme capacidade para criar momentos dramáticos com extrema facilidade, Kon tem uma filmografia ímpar, onde este Tokyo Godfathers brilha bem alto. A premissa é simples, mas a complexidade de cada personagem, aliada a um estilo de animação de excelência, tornam este Tokyo Godfathers um filme único no cinema de animação japonês, não só pela sua influência do ocidente, mas também pela exploração sentimental directa.
João Fernandes
10° Gremlins (1984) de Joe Dante
Véspera de Natal em Kingston Falls, Pennsylvania : canções em coro a cada porta, Bing Crosby na rádio, It’s A Wonderful Life a passar na televisão, e monstrinhos verdes a destruir tudo à sua passagem. Uma irresistível folia cinematográfica, louca e bem humorada, violenta e disparatada, nutrida pelo olhar atrevido, pulp, de Joe Dante, pupilo de Corman e de tradição despudoradamente “B”. O adorável Gizmo e os assustadores Gremlins acabariam por se tornar figuras essenciais da cultura popular dos anos 80, e será francamente impossível encontrar hoje um paralelo para um filme tão perfeitamente descarado, e tão descaradamente perfeito, cuja ambição nasça simplesmente da vontade de passar um bom momento numa sala de cinema.
Miguel Allen
9° Home Alone (1990) de Chris Columbus
Home Alone é um filme intemporal cuja popularidade tem sido arrastada nas últimas décadas como filme de culto para qualquer programa televisivo nesta quadra familiar. Talvez mais icónico do que tecnicamente perfeito, Home Alone é uma comédia natalícia que garante animação aos mais jovens e nostalgia aos mais graúdos. A premissa é simples mas revelou-se vencedora. Kevin, um jovem de oito anos, é esquecido pelos pais e irmãos em pleno voo para Paris. As férias de Natal de sonho da família McCallister ficam destruídas para ambas as partes, mas é o pequeno adolescente quem mais se diverte com este imprevisto. Ao ficar sozinho em casa, Kevin é alvo da tentativa de assalto por dois hilariantes e desorganizados bandidos. Ao longo de toda a narrativa, o jovem adolescente arquitecta armadilhas, esparrelas e estratagemas, criando uma verdadeira batalha campal em busca da defesa do seu território mas também da sua fraca figura em contraste com a destes impostores. Sádica é também a forma como este miúdo se defende, visto que através de uma chamada para a Polícia local, poderia ter evitado o melhor filme de Natal que já vimos até hoje e que nunca nos iremos importar de repetir.
Rita Oliveira
8° The Nightmare Before Christmas (1993) de Henry Selick
The Nightmare Before Christmas é uma fantasia musical animada, repleta do obscurantismo e das trevas próprias de um cinema gótico e imediatamente associado à temática das bruxas, fantasmas e esqueletos que tão comumente caracterizam o Halloween. No entanto, nesta stop-motion, a temática principal é a descoberta do Natal como época representante da alegria e da felicidade, mas também da partilha, mesmo que, a princípio, seja entendida de uma forma diabólica por parte de Jack Skellington, o Rei das Abóboras. Confrontado com um novo mundo até aí desconhecido, um mundo repleto de neve, cor e sorrisos, Jack acaba por não compreender o verdadeiro espírito harmonioso da quadra e traz para o seu reino a ideia errada do que é o Natal. A par da sua repetitiva exaustão no papel que desempenha na noite de Halloween, e desta se resumir a assustar fantasmas, duendes, vampiros, lobisomens e bruxas, Jack, faz do rapto do Pai Natal a sua maior investida, planeando ser ele o decisor das prendas que as crianças do reino irão receber. O estratagema maquiavélico é descoberto por Sally, que luta incessantemente para que este não consiga estragar o Natal a todas essas crianças. É um filme simbólico, sobre a aprendizagem e o perdão, que explora de uma forma tão macabra como divertida as temáticas do Natal e do Halloween, carregando-as de canções que nos ficam na memória. Não é um filme assinado por Tim Burton, mas todo ele é associado ao seu génio criativo e, na verdade, é inspirado num poema que o mesmo escreveu em 1982, tendo ficado a produção a seu cargo.
Rita Oliveira
7° Meet Me in St. Louis (1944) de Vincente Minnelli
Um ano na vida da família Smith. Minnelli acompanha-nos ao longo das quatro estações do ano, mas o destaque vai inquestionavelmente para o inverno. É durante a quadra natalícia que a família – mãe, pai, quatro filhas, um filho – tem que decidir entre ficar na pacata St. Louis ou mudar-se para a próspera Nova Iorque. Na véspera de Natal, Esther, interpretada pela ímpar Judy Garland, tenta tranquilizar a pequena Tootie com a canção “Have Yourself a Merry Little Christmas”. Comovente, melancólica, receosa do futuro e, por certo, a mais famosa canção de Natal do cinema.
Pedro Barriga
6° The Apartment (1960) de Billy Wilder
Mais uma obra prima de um dos maiores realizadores da história do cinema. The Apartment junta o sempre inseguro Jack Lemmon à sempre selvagem Shirley MacLaine, numa comédia dramática onde o Natal tem um papel secundário. The Apartment expõe as fragilidades dos grandes homens de negócio de Manhattan, ao mesmo tempo que explora as fragilidades do protagonista, servindo de metáfora para um estrato social baseado em aparências. Por outro lado, Billy Wilder explora também a forma como a figura feminina é vítima deste sistema sempre controlado pelo homem, e para isso não podia ter contado com melhor actriz do que Shirley MacLaine, a personificação perfeita entre fragilidade e determinação, assim como Jack Lemmon.
João Fernandes
5° Three Godfathers (1948) de John Ford
Pois é, um western natalício. E quem senão John Ford para conseguir conjugar os elementos de um género aparentemente distante da quadra festiva de forma tão eloquente. Três caçadores de recompensas (um deles John Wayne, naturalmente) em fuga das autoridades pelo deserto, deparam-se com uma mulher às portas da morte e o seu recém nascido filho. Os três companheiros apadrinham a criança, comprometendo-se a levá-la para um porto seguro, mesmo colocando a sua própria vida em risco. As referências à Bíblia e a Jerusalém são frequentes e os três “reis magos” tudo fazem para cumprir o seu desígnio, devolvendo alguma humanidade aos seus pecaminosos atos.
Bruno Victorino
4° Ma Nuit Chez Maud (1969) de Éric Rohmer
Um filme falado, da mais sublime simplicidade, em profunda interrogação moral. Amor, religião, e sexo, com a “aposta” de Blaise Pascal enquanto conceito de fundo. Naquela noite escura de Natal, o manto branco de Dreyer cobrirá a tela, e Rohmer desvendará milagres insondáveis no rosto de Maud (Françoise Fabian). Interior e interiores, Rohmer despe a imagem a negros densos e brancos crus, concentrando a acção nos corpos e rostos dos personagens, nas suas longas conversas, nas suas histórias. A profunda melancolia de Maud, os jogos pueris de Jean-Louis, o olhar hesitante de Françoise (Marie-Christine Barrault), Ma Nuit Chez Maud é um filme opaco mas sensível, triste mas romântico. Abrindo sob a neve branca, o precioso e preciso desenlace chegará numa cena estival de praia, que traçará enfim o arco entre os diferentes personagens. Conto moral e do acaso, um filme sobre religião, e um filme de fé : aquela que nos impele ao amor, aquela que nos falta quando o amor morre.
Miguel Allen
3° Edward Scissorhands (1990) de Tim Burton
Uma das melhores obras do imaginário de Tim Burton, Edward Scissorhands chega-nos com a dose certa de amor, ternura e frustração. Afinal, não são estas algumas das características mais emblemáticas do espírito natalício? Quando Edward, um ser humano criado artificialmente, é resgatado do isolamento em que vive desde a morte do seu criador por Peggy (uma mãe de família vendedora de cosméticos Avon) e inserido numa pequena vila, somos confrontados com aquilo que de melhor e pior há no ser humano. Acolhido com bondade e compreensão, Edward experiência o amor e o calor humano. A bondade e sensibilidade que revestem o seu coração (não) artificial tornam-no o protótipo de ser humano perfeito, assim como o alvo certo dos que procuram beneficiar da ingenuidade própria de quem não consegue ver maldade. A verdade é que vida em família e em comunidade pode ser um desafio mais difícil de suportar do que o peso da solidão.
Inês Bom
2° Die Hard (1988) de John McTiernan
O eterno debate: Die Hard é ou não um filme de Natal? A resposta é sim, e que filme! Die Hard marcou toda uma geração com os seus 40 andares de adrenalina no Nakatomi Plaza e estabeleceu Bruce Willis como um herói do cinema de acção. Realizado por John McTiernan (Predator, Last Action Hero), Die Hard é icónico por inúmeros motivos. Desde a personalidade anti-herói e os one liners de John McClane, ao terrorista morto com chapéu de Pai Natal no elevador com a mensagem a sangue “Now I have a machine gun. Ho-ho-ho.”, passando pela frieza arrepiante de Alan Rickman e o seu Hans Gruber, este tornou-se um filme de culto que marcou o género e que é presença recorrente nos tops não só de acção como de… Natal.
David Bernardino
1° It’s a Wonderful Life (1946) de Frank Capra
Do Céu Caiu Uma Estrela, o filme de Frank Capra (Peço a Palavra, Uma Noite Aconteceu) estreado em 1946, é vagamente baseado no Conto de Natal de Charles Dickens e conta a história de George Bailey (Jimmy Stewart) um homem que pôs de parte os seus sonhos de vida para ajudar a comunidade de Bedford Falls. Na véspera de Natal, George pondera terminar a sua vida, mas o anjo Clarence (Henry Travers), caído do céu, convence-o do impacto positivo que teve na vida dos outros e que a sua vida teve significado. Originalmente feito com o intuito de celebrar o fim da segunda guerra mundial, Capra nunca julgou que este filme se tornasse, para muitas pessoas, o filme definitivo de Natal, aquele que anualmente junta a família à volta da televisão. No entanto, os seus temas de família, comunidade, redenção e generosidade fazem de Do Céu Caiu Uma Estrela um dos filmes mais emblemáticos da época natalícia.
Francisco Sousa
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- Ernst Lubitsch
- frank capra
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- John McTiernan
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